Semiárido é uma das áreas que mais sofre com as mudanças climáticas, diz relatório da ONU

13/09/2021 - 10:18

O crescimento de áreas desérticas no semiárido brasileiro tem aumentado mais rápido do que se imaginava devido à mudança climática. O alerta faz parte do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em agosto, e que apontou outros problemas climáticos no mundo. A projeção do IPCC é que até 2030 a temperatura média do planeta suba 1,5°C, e com isso algumas regiões do semiárido brasileiro podem chegar a ultrapassar 40°C durante o verão.


O novo relatório mostra que a região do semiárido, que abarca grande parte do Nordeste e uma porção de Minas Gerais, em área correspondente à bacia hidrográfica do Rio São Francisco, tem enfrentado secas mais intensas e temperaturas mais altas. Os extremos climáticos degradam o solo, tornando impossível a vida. O IPCC chama atenção para a possibilidade de desertificação no Brasil desde o relatório anterior, pulicado em 2019. Apesar das secas mais constantes e aumento das temperaturas no semiárido, o país ainda não tem nenhuma área considerada de clima desértico — para isso é preciso que o índice de chuvas seja inferior a 250 milímetros por ano e quase não haja sobrevivência.

No entanto, uma área considerável da região já desertificada, ou seja, com solo degradado, seca excessiva e paisagens que lembram desertos se encontra na bacia do Rio São Francisco, no município de Cabrobó (PE). As outras regiões ficam nas cidades de Gilbués (PI), Irauçuba (CE) e Seridó (RN).

A recuperação de áreas desertificadas é quase impossível e demandaria um investimento que o Brasil não tem condições de arcar, segundo o meteorologista e professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Humberto Barbosa, que também coordena o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis/UFAL). Desde 2012, o laboratório monitora a desertificação no semiárido.

Para o professor, a situação do semiárido brasileiro representa um paradoxo. “O solo dessas regiões foi perdendo a atividade biológica, embora as chuvas continuem acima do que se espera para uma região desértica”, afirmou.

O fenômeno também pode ter relação com o desmatamento. O ecossistema do semiárido, formado pelo bioma Caatinga, perdeu 53,5% de sua cobertura original, segundo o MapBiomas, plataforma de monitoramento do uso do solo.

Humberto Barbosa diz que, apesar da gravidade da situação enfrentada pelo semiárido e da perspectiva de piora, não há qualquer plano governamental para mapear a desertificação e combatê-la. “A última iniciativa do governo federal nesse campo foi o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN), lançado em 2006, mas descontinuado”, disse.

Alerta vermelho

O relatório do IPCC mostra que o mundo já esquentou 1,09 grau, e desse total apenas 0,02 grau pode ser atribuído a causas naturais. A parcela de 1,07 grau do aquecimento global provavelmente é de responsabilidade das atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, que emitem gases de efeito estufa.

Os efeitos disso vêm sendo amplamente documentados e, pior que isso, sentidos por gente de todos os países e todas as classes sociais. Apenas nas últimas semanas assistimos a calor de 49oC no Canadá, incêndios florestais na gélida Sibéria, inundações catastróficas na Europa Central, oito meses de chuva em um dia na China e uma onda de frio polar causada por alterações na circulação do ar antártico no Brasil, sem contar a pior seca em 91 anos, na região Centro-Sul, que aumentou a conta de luz da população brasileira.

O aquecimento causado por humanos acarretou danos irreparáveis ​​à Terra que podem piorar nas próximas décadas. “É inequívoco e indiscutível que os humanos estão esquentando o planeta”, diz um dos autores do relatório, o professor Ed Hawkins, da Universityof Reading, no Reino Unido, na apresentação do relatório.

O documento diz que as emissões contínuas de gases do efeito estufa podem romper um importante limite de temperatura em pouco mais de uma década. Os autores também mostram que um aumento do nível do mar de cerca de dois metros até o final deste século não pode ser descartado.

“O relatório do IPCC é um alerta vermelho para a humanidade”, disse António Guterres, secretário-geral da ONU, durante a apresentação do relatório que garantiu que a viabilidade das nossas sociedades depende da atuação de governos, empresas e cidadãos para limitar o aumento da temperatura a 1,5 grau.

“Os alarmes são ensurdecedores e as evidências são irrefutáveis: as emissões de gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento estão sufocando nosso planeta e colocando bilhões de pessoas em risco imediato. O aquecimento global está afetando todas as regiões da Terra e muitas das mudanças estão se tornando irreversíveis”, disse o secretário da ONU.

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto:
Luiza Baggio
*Fotos: Azael Gois e Edson Oliveira