Comitê participa dos ‘Diálogos Hidroviáveis’

29/07/2019 - 16:50

Evento teve como objetivo discutir a navegação no Velho Chico associada à geração de energia, ao turismo e ao desenvolvimento regional


Na última sexta-feira, 26, foi finalizado com sucesso em Pirapora (MG), no Centro de Convenções da cidade, o projeto “Diálogos Hidroviáveis” – Programa de Integração Permanente de Iniciativas para o Desenvolvimento Sustentável das Hidrovias Brasileiras. O evento que começou no dia 22 e percorreu outras duas cidades mineiras, Alfenas e Três Marias, é uma inciativa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), com apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF).

O intuito dos “diálogos” era debater a navegação associada à geração de energia, turismo, meio ambiente, promoção social e desenvolvimento regional. Para isso, foram convidadas autoridades políticas e a sociedade civil, que no decorrer do evento puderam apresentar e conhecer o atual estágio de implantação das hidrovias, quais os entraves e impactos regionais e nacional, visando um planejamento de curto e médio prazo, para o fomento deste modal.

Em Três Marias, que sediou o evento nos dias 24 e 25 de julho, no Terminal Turístico Praia Mar de Minas e abriu os diálogos sobre a navegabilidade do Rio São Francisco, houve painéis de debates ligados ao estímulo das práticas esportivas e atividades náuticas, formação de profissionais, promoção do desenvolvimento social, impacto na economia e no turismo da região, importância da revitalização do rio, uso múltiplos da água e outros assuntos.

Para o secretário municipal de Meio Ambiente, Esportes, Cultura e Turismo de Três Marias, Roberto Carlos Rodrigues Silva, a riqueza hídrica do município não é aproveitada de forma adequada. “Temos as condições favoráveis, um lago natural imenso disponível e não usamos de forma correta para o desenvolvimento econômico e social. Então é importante a cidade sediar este evento, pois poderemos buscar parcerias e projetos para fomentar o turismo e a economia de Três Marias”, falou Roberto.

Presente na cerimônia de abertura em Três Marias, o deputado estadual Zé Guilherme (PRP), disse que o turismo precisa ser valorizado, pois é um setor que gera emprego e renda. “Na Assembleia (ALMG), sou presidente da Comissão de Esporte, Lazer e Juventude, por isso me interesso pelo desenvolvimento dos esportes náuticos do lago [represa de Três Marias], mas também quero aliar isso ao fomento do turismo. Portanto, estou aqui hoje para ouvir, participar, entender e levar ideias. Estamos falando de grandes projetos, que precisam de subsídios importantes para o desenvolvimento das ações discutidas aqui. Porém, se não repensarmos a forma que exploramos nossos recursos hídricos, não haverá água para falarmos de turismo. É uma realidade nova, que se for tratada de maneira sustentável irá alavancar essa região de Minas Gerais”, disse o deputado Zé Guilherme.

O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda coordenou o painel que debateu a gestão dos recursos hídricos e a importância da revitalização da bacia do São Francisco. “Precisamos mudar nossa cultura e pensar de forma sustentável o uso múltiplo da água. Não podemos enxergar, por exemplo, aqui em Três Marias, o rio apenas como gerador de energia. Se revitalizarmos a bacia e fizermos uma gestão sustentável e consciente teremos um rio navegável gerando renda e economia para o país, tanto no turismo como no transporte de carga, pois já foi confirmado que o transporte rodoviário é nove vezes mais caro que o hidroviário”, observa Anivaldo.

A ideia do uso múltiplo da água também é o caminho na visão do engenheiro agrônomo, Adson Ribeiro, que é membro do CBHSF e coordenador da Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco. “Temos que ter o foco no uso múltiplo do rio, não podemos focar apenas em um setor. Precisamos enxergar o rio como um todo, para que haja o uso múltiplo, seja na geração de energia, irrigação, pesca, lazer e turismo, mais principalmente pensando nele como uma hidrovia. Para isso, precisamos de uma gestão compartilhada entre todos os setores, para que todos possam usar de maneira adequada as potencialidades do rio. Buscando a sua preservação, não somente no ponto de vista econômico, mas também ambiental”, ressaltou Ribeiro.

Para Altino Rodrigues Neto, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Entorno da Represa de Três Marias, que finalizou o evento no Terminal Turístico Praia Mar de Minas falando de usos múltiplos da água e gestão sustentável da vazão da represa, os desafios são grandes, porém, os ‘Diálogos Hidroviáveis’ mostraram que existem pessoas dispostas a contribuir e trabalhar. “A gente vem nessa batalha já tem um tempo. Nosso objetivo é mostrar a necessidade de se manter uma vazão que seja sustentável para represa de Três Marias, mas também para jusante de Três Marias. Neste evento foi dado um passo para promover todas as ações necessárias, sem perder a visão de sustentabilidade, seja ela no campo da educação, na economia, ou essencialmente no social e ambiental”, explicou Altino, acrescentado que entre os desafios, o maior de todos é a revitalização da bacia do Rio São Francisco. “É um grande desafio a revitalização da bacia como um todo, ou seja, colocar um volume considerável de água no rio. Dessa forma, teríamos água para os múltiplos usos que são necessários e fundamentais em toda a bacia”.

Veja as fotos do evento:

Importância da hidrovia

 Em Pirapora, além das conversas sobre a revitalização do rio, fomento do turismo náutico e ecoturismo, houve debates em torno da importância da hidrovia do Rio São Francisco para o desenvolvimento econômico e social da região. Para este contexto foram citadas as potencialidades para o escoamento da safra agropecuária através da navegação.

Segundo o subsecretário de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural Sustentável de Minas Gerais, Amarildo José Bumano Kalil, a região tem um potencial enorme para a agricultura, além do solo estar num lugar estratégico, com escoamento de produtos por rodovia e principalmente pelo rio, se usado de forma correta. “Nosso foco é agricultura sustentável e, claro, como escoar essa produção. E dentro de uma bacia hidrográfica ou sub-bacia é preciso ter governança sobre o uso dos recursos naturais, porque dentro de uma bacia você pode ter agricultura, pecuária, mineração e turismo. Você tem uma série de outras atividades que ocorrem neste espaço. Então a gente tem que pensar bacia num contexto global. E como a agricultura está inserida, é preciso planejar o uso dos recursos existentes, o que inclui usar as hidrovias para baratear o frete e agilizar o escoamento da produção. Portanto, é preciso um plano de adequação da bacia, ou seja, identificar o que não está adequado para questão ambiental, para que rio desempenhe também um papel na questão social e econômica, através da hidrovia”, salienta Amarildo.

E, para o engenheiro especialista em Gestão Ambiental para Área de Transportes, Luís Felipe de Carvalho Ferreira, escoar mercadorias pela hidrovia, principalmente quando se trata do Rio São Francisco, é possível e viável. “O rio é navegável, existem alguns pontos críticos que já foram mapeados, porém, já sabemos quais correções são necessárias. Inclusive há projetos para melhorias desses pontos críticos. Mas podemos afirmar que o rio é navegável 24 horas por dia, desde que esteja balizado – pois não se faz isso há cinco anos, com o desassoreamento em dia e com as obras implantadas”, afirma Felipe.

Na percepção do presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, os debates demostraram que através de uma pequena recuperação hidroambiental já é possível desenvolver e fazer melhorias nas condições de navegação do Rio São Francisco. “Vimos que a curto prazo serão necessárias pequenas intervenções, como o desassoreamento da bacia, que viabilizará trechos para a navegabilidade. Agora, a longo prazo, o ideal é recompor as matas ciliares e combater a erosão. A partir daí, a natureza fará o seu trabalho, dando maiores condições de navegação”, pontuou Anivaldo.

Segundo o presidente do Comitê, o Brasil precisa repensar o modelo de matriz do transporte. Para ele, o rodoviário tem que ser um complemento de um conjunto de outros modais. “Neste evento ouvimos vários especialistas. Foram contribuições concretas que apontam para um modelo caro e inviável, tanto no transporte de carga como de pessoas. Não usamos de forma adequada nossas ferrovias, não usamos plenamente o transporte marítimo, apesar de termos quilômetros de costas e abandonamos as hidrovias. Portanto, é preciso repensar o modelo atual, que é caro e acaba com as rodovias, colocando em risco a vida de motoristas e passageiros”, argumentou o presidente do CBHSF.

Para o vice-prefeito de Pirapora e presidente da Empresa Municipal de Turismo-Emutur, Orlando Pereira Lima, anfitrião do evento na cidade, é preciso revitalizar o rio e, em paralelo a isso, é necessário realizar ações concretas para a conscientização dos ribeirinhos, dos empresários e dos políticos, para que de fato o rio volte a ser navegável. “Precisamos de atitudes e propostas concretas. Temos que sair desse patamar da discussão, para colocarmos em prática as ações. O Rio São Francisco está agonizando. Antigamente as riquezas do Brasil eram transportadas através do Velho Chico, então, o objetivo aqui é tornar o rio de fato uma hidrovia, por isso, fico feliz de receber esses ‘Diálogos Hidroviáveis’, com a esperança de tornar a navegabilidade possível, pois isso será fundamental para o desenvolvimento da cidade”, argumentou Orlando.

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Tiago Rodrigues
*Fotos: Tiago Rodrigues