Relatório da III Expedição Científica Baixo São Francisco traz resultados relevantes que merecem atenção

27/07/2021 - 18:44

Durante dez dias 50 pesquisadores, além de doze pessoas na equipe de apoio, realizaram a III Expedição Científica Baixo São Francisco, da qual resultaram estudos em 25 áreas diferentes como a pesca, poluentes, limnologia, microbiologia, ictiofauna, hidrologia, arqueologia subaquática, turismo de base comunitária, socioeconomia, tratamento de água, saúde coletiva e bucal. Após dias incessantes de trabalho e muita produção foi entregue, neste mês, ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e à Agência Peixe Vivo (APV), um relatório com 430 páginas que traz resultados importantes oriundos dos estudos realizados no rio São Francisco.

A expedição de 2020 percorreu os municípios de Piranhas (AL), Pão de Açúcar (AL), Traipu (AL), Porto Real do Colégio (AL), Propriá (SE), Igreja Nova (AL), Penedo (AL), Neópolis (AL), Piaçabuçu (AL) e a foz do rio São Francisco. Para que a expedição pudesse acontecer em meio à pandemia, os protocolos de segurança foram seguidos à risca, a fim de manter todos os participantes protegidos durante os dias de trabalho.

Segundo o coordenador da expedição, professor Emerson Soares, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), felizmente não houve contaminação de nenhum integrante da equipe pela Covid-19. “Trabalhamos de forma cuidadosa, dentro dos protocolos sanitários de segurança, fazendo coleta de sangue de forma recorrente para acompanhar a saúde da equipe e manter todos devidamente protegidos”, disse.

Fazendo uma análise em relação às outras edições, Emerson Soares afirma que durante a III Expedição Científica, a equipe de pesquisadores trabalhou no rio São Francisco com uma vazão aproximada de 2.400m³/s. “Mesmo com essa vazão, a gente averiguou grandes problemas, como, por exemplo, os níveis de coliformes fecais que continuam altos, apesar de terem baixado em relação aos anos de 2019 e 2018. Observamos a formação de novas ilhas no período posterior e mais assoreamento com queda de barranco. Por outro lado, a intrusão salina diminuiu e assim, diminuiu também a incidência de espécies marinhas no continente. Apareceram espécies de água doce que não havíamos visto nos anos anteriores, e diante desse detalhe importante percebemos o quanto uma maior vazão é imprescindível no Velho Chico. Outro ponto que nossa equipe percebeu foi a redução das macrófitas em um certo momento. Isso ocorreu porque os níveis de alguns parâmetros físico-químicos da água diminuíram em relação aos anos anteriores. Observamos que aumento da vazão dificultou a captura de peixes, pois a vazão mais alta serve proteção natural das espécies. Na ocasião, 90% dos peixes estavam em processo de maturação sexual, ou seja, em processo reprodutivo. Nos anos anteriores eram aproximadamente 65%, em 2018, e 80% em 2019. Isso mostra como a vazão mais elevada representa mais espécies para fins reprodutivos”.

Metais pesados

Em relação aos metais pesados, o coordenador da expedição científica declarou que houve uma redução em relação aos anos anteriores. Entretanto, Emerson Soares chama a atenção para a cidade de Piranhas, onde os níveis de contaminantes estão um pouco mais elevados. “Piranhas é o primeiro município que recebe a carga da hidrelétrica de Xingó. Ali foram identificados altos problemas genotóxicos com os peixes, principalmente em se tratando de espécies como o tucunaré e pirambeba. Isso é problemático do ponto de vista da saúde porque pode trazer uma grande carga de contaminantes para quem consome o produto”, explicou.

Três regiões no baixo

Os pesquisadores identificaram três regiões distintas ao longo do baixo São Francisco. O trecho que vai de Piranhas a Pão de Açúcar, o que vai de Traipu até Igreja Nova, e a região entre Penedo e Piaçabuçu. De acordo com eles, há três características importantes em termos ecossistêmicos no baixo São Francisco. “Tais diferenças podem ser decorrentes da morfologia do rio, influência de culturas na condição da água, maior ou menor densidade populacional, fatores que influem como impactos no ambiente. Há ainda, claro, a salinidade que afeta o trecho mais próximo da foz”, disse Emerson Soares.

Os pesquisadores contaram com novos equipamentos que auxiliaram ainda mais nos estudos do rio São Francisco. Através da robótica ambiental foi possível estudar a topologia de profundidade do rio e as corredeiras, e também encontrar objetos resultantes de naufrágios. “Fizemos o trabalho maior com a parte de geoprocessamento, onde a equipe fez uso de drones e realizou um levantamento dos fragmentos de mata ciliar, espécies nativas que ainda existem na borda do rio. Já com a batimetria do rio usamos a topografia com o side scan que dá um ou dois pontos de cada área do rio. Isso mostrou uma visão de como é o rio São Francisco”, explicou José Vieira, que é do CRAD/UFAL e um dos coordenadores da expedição.

Novidade: Saúde bucal

Na III Expedição Científica, a equipe inovou nas ações sociais para ajudar comunidades ribeirinhas. Um trabalho de avaliação da saúde bucal das crianças foi realizado pela professora da Universidade Federal de Alagoas, Christiane Feitoza e pela estudante bolsista Daniela Ferreira, em todos os municípios visitados, com o objetivo de verificar a incidência de cáries em crianças de seis, sete e oito anos. “Todos os resultados das ações feitas pelas equipes estão contidos no relatório a fim de mostrar aos gestores municipais e estaduais o que pode ser melhorado no que se refere ao meio ambiente e à população”, disse Emerson Soares.

Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, o relatório representa a continuidade de uma missão que requer um espaço de tempo prolongado para que os seus resultados atendam de fato aos objetivos do estudo. Consiste também na avaliação da qualidade das águas do baixo São Francisco, sobretudo em função dos fenômenos de redução de vazões decorrentes das estiagens prolongadas e operação reduzida dos reservatórios hidrelétricos. “Essa parceria entre o Comitê e a UFAL na realização da Expedição Científica que já está caminhando para a quarta edição é fundamental, pois tudo que é estudado, colhido durante as ações e trazido através de resultados irá colaborar tanto na execução de ações e projetos voltados ao rio São Francisco quanto na melhoria das comunidades ribeirinhas e do meio ambiente”, finalizou.

 

Para ver o relatório completo, acesse nosso  Centro de Documentação

 


Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Deisy Nascimento