Rio Paracatu agoniza em mais um período de estiagem

27/10/2021 - 9:59

O Rio Paracatu, um dos principais afluentes do São Francisco, situado no Noroeste de Minas Gerais, está quase sem água. Há meses não chove na região e ano após ano o histórico de crise hídrica se repete. O nível do curso d’água está tão baixo que é possível caminhar tranquilamente com água abaixo dos joelhos. A seca sem precedentes afeta severamente o abastecimento de água nas cidades da bacia e as atividades econômicas da região, sobretudo a mineração e a agropecuária.

Em Paracatu, município mais populoso da bacia, desde o dia 22 de setembro o estado de calamidade pública virou realidade por mais um ano. O estado de calamidade é o nível mais grave de atenção possível, em âmbito municipal. Segundo o decreto, ele ocorre devido à emergência provocada pelo “desastre natural climatológico”, causado pela estiagem e os baixos índices de chuva no município. O documento é valido por 180 dias, a partir da data de publicação (22 de setembro).

A falta de chuva na região Sudeste do Brasil, especialmente nos últimos sete anos, poderia ser apontada como o fator causador da crise hídrica, mas, segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu, Antônio Eustáquio Vieira, o Tonhão, o problema não é só esse.

“A Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu está inserida no bioma Cerrado e sua ocupação desordenada pode ser uma das causas da crise hídrica. O rio está secando não só por causa da falta de chuvas nos últimos anos. A infiltração de água no solo depende imensamente ou da vegetação ou da utilização do solo com práticas de conservação, que possam potencializar e compensar a recarga hídrica. Sem água infiltrando no subsolo as nascentes secam e são elas que alimentam os corpos d’água”, esclareceu.

Assista ao vídeo sobre a crise hídrica do Rio Paracatu:


O produtor Adson Roberto Ribeiro faz parte de uma associação com outros 20 agricultores. Eles captam água para irrigação no rio São Pedro, que abastece o rio Paracatu. Adson também é secretário da Câmara Consultiva Regional (CCR) Alto São Francisco, instância do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Ele explica que a falta de água no Rio Paracatu é reflexo da crise hídrica que assola todo o Brasil. “Somada a crise hídrica, a bacia do Paracatu, assim como a do Rio São Francisco se encontra degradada e necessita de revitalização”, disse.

A irrigação apresentou expressivo crescimento na bacia do Paracatu na década de 1970, sendo que, como consequência da grande expansão da agricultura irrigada, sérios conflitos têm surgido em várias partes da bacia. “Hoje várias lavouras estão paradas, pois não tem água para irrigação. Isso traz também um prejuízo econômico e social para a população da região”, explicou Adson Ribeiro.

A situação compromete também a vazão de entrega do Rio Paracatu ao Velho Chico. “O Paracatu contribui com 26% da água do São Francisco. Então, estando a bacia nessa situação, reflete lá embaixo no São Francisco, pois as vazões de entrega são mais baixas. A população vai sentir o peso de ter um rio morto”, acrescentou Antônio Eustáquio Vieira que também disse que a vazão histórica do Paracatu é de 600 m3/s, reduzindo para menos de 100 m3/s atualmente.

Em toda a bacia do rio Paracatu, vivem quase três milhões de pessoas, e como ele é um dos principais afluentes do São Francisco, suas águas ganham importância para as comunidades mineiras e nordestinas banhadas pelo Velho Chico.

A solução, para Adson Ribeiro, é a união em busca de revitalização. “Entidades não governamentais, usuários de água e o poder público precisam se unir em busca da revitalização da bacia do Paracatu. Ações como a readequação das estradas vicinais, recuperação e preservação de matas ciliares e nascentes, adoção de práticas que favoreçam a infiltração da água no solo, bem como a conscientização da população são exemplos do que pode ser feito na bacia do Rio Paracatu para solucionar a atual crise hídrica”, finalizou.


Veja as fotos do Rio Paracatu: 


Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Fotos: Léo Boi