Em 30 anos, Minas Gerais é o terceiro estado que mais perdeu água superficial

14/09/2021 - 15:12

O estado que já foi chamado de caixa-d’água do Brasil está ficando cada vez mais seco, consequência da degradação ambiental e das mudanças climáticas. Um levantamento inédito realizado pelo MapBiomas entre 1985-2020 em todo o território nacional revela que o estado já perdeu 16% da superfície de água, o equivalente a uma perda de 118 mil hectares, atrás apenas do Mato Groso e Mato Grosso do Sul.


O levantamento nacional aponta a perda de superfície de água em oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras, com redução em 23 das 27 unidades da federação e em todos os biomas.

Um dos pesquisadores do MapBiomas Água, o professor Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, lembra que, das 23 unidades da Federação que sofreram redução hídrica, Minas Gerais está entre as 10 que mais tiveram perdas nas últimas três décadas. “O quadro gera maior apreensão pelo fato de o estado concentrar nascentes de bacias hidrográficas importantes, como as do São Francisco e do Doce”, disse.

 Segundo o MapBiomas as perdas de superfície dos principais rios que nascem em Minas Gerais são alarmantes. As bacias hidrográficas mineiras com maior redução superficial no período analisado foi a do Rio Urucuia, com queda de 45%, seguida pelos rios das Velhas e Verde Grande com perda de superfície de água de 40% cada um e o Paracatu, que encolheu em 25%. As quatro bacias são afluentes do Rio São Francisco.


Rio Paracatu em 2017

Ainda de acordo com o estudo, a bacia federal do Rio São Francisco também sofreu diminuição global de 15% na área ocupada por suas águas. A pesquisa aponta que o complexo teve perda de 125.369 hectares de superfície hídrica, saindo dos 832.115 ha de 1990 para 706.746ha em 2020.

O especialista Luís Pinto aponta o desmatamento como um dos principais responsáveis pela queda na disponibilidade hídrica. “O fato de Minas Gerais ter mais nascentes significa que os efeitos da perda de águas superficiais são mais impactantes no estado. Com a continuidade dos desmatamentos, a tendência é ter cada vez menos água, uma preocupação para o futuro. Isso acende uma luz amarela”, alertou.

No Norte do estado, dezenas de rios que fazem parte da Bacia do São Francisco, que há 30 anos eram perenes, tornaram-se intermitentes e estão completamente secos, assemelhando-se a estradas. É o caso do Rio das Pedras, no município de Glaucilândia.

Mudanças climáticas

O aumento de temperatura global de 1,5º C, com contribuição significativa pelas ações humanas, segundo o relatório recente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), pode estar contribuindo para esse processo de redução de superfície de água no Brasil. Vários casos indicam os efeitos combinados do uso da terra e das mudanças climáticas.

Esse é o caso do Rio São Francisco que corre por áreas de Cerrado e Caatinga. Os dados analisados mostram que há tendência de decréscimo na superfície de água, especialmente na margem esquerda, onde ficam as regiões de fronteiras agrícolas.

A redução foi notada nos últimos 15 anos, que coincidem com o período de expansão agrícola no Matopiba, região formada por áreas majoritariamente de Cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O maior consumo de água dessas atividades, combinado ao assoreamento da calha do rio devido a forte intervenções e períodos de seca típicos da região por onde o Velho Chico passa, resultou em uma redução de 10% em sua superfície de água nos últimos quinze anos. Em sua foz, as comunidades já sentem os efeitos, com a invasão do rio pelo mar.

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Fotos: Léo Boi e Bianca Aun