Caminhada pelas ruas, plantio de mudas e introdução de cinco mil peixes nas águas do rio
Texto: Vitor Luz e Fotos: Edson Oliveira
Conhecida como a “princesinha do São Francisco”, Propriá, no Sergipe, celebrou o Dia Nacional em Defesa do São Francisco com caminhada pelas ruas da cidade, plantio de mudas, atendimentos de saúde à população e introdução de cinco mil peixes no rio. Criada em 2014, a campanha “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico” mobilizou os moradores num grito uníssono pela conscientização ambiental.
“Esse dia é importantíssimo, saímos às ruas para trazer a população para essa luta, para então conscientiza-los dos problemas do rio que atualmente são gravíssimos”, afirma Honey Gama, coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Baixo São Francisco. “Desde 2013 estamos enfrentando uma escassez hídrica sem precedentes. A vazão do rio é a mais baixa da história e na foz do rio a população já está privada de água potável”.
A programação começou com uma caminhada de sete quilômetros, que teve como ponto de partida a Igreja Matriz da cidade. A cada quarteirão percorrido, mais e mais pessoas se juntaram à manifestação. Com carro de som, faixas, camisetas e bonés com o slogan da campanha, a população virou carranca.
Quando a animada procissão chegou ao mirante do rio, deparou-se com a ação de peixamento, que introduziu nas águas cinco mil peixes Curimatá – ou Chira. O peixamento foi realizado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco (Codevasf),
“Participar desse evento é um verdadeiro privilégio para Codevasf e, sem dúvida, muito importante para rio. O baixo São Francisco é a região mais pobre em peixes, pois as espécies nativas praticamente estão desaparecendo”, ressaltou o chefe da estação de piscicultura da Codevasf – SE, Paulo Passos. “Temos apenas 170 quilômetros de rio e duas grandes barragens, a de Xingó e a do mar, impedem a evolução das espécies no período da Piracema. Não importa a margem, Alagoas ou Sergipe, a Chira é um dos peixes mais pescados. Não podemos mais permitir a pesca das fêmeas durante a piracema, pois isso altera todo ecossistema e evolução desta espécie”.
O prefeito da cidade de Propriá, Iokanaan Santana, nasceu às margens do São Francisco e, em meio a versos de poesia, declarou seu amor:
“Esse rio é a riqueza do nordeste, ele representa as lágrimas de Deus socorrendo o povo. O ato de hoje é de suma importância para todos os ribeirinhos. O São Francisco é conhecido como o rio da integração nacional, arca com a responsabilidade de ser o pai de milhões e milhões de seres humanos”.
Plantar para revitalizar
Durante o evento, foi feito ainda o plantio de cinco mudas, um ato simbólico de reflexão da necessidade urgente de reflorestamento das matas ciliares. A deputada estadual Ana Lúcia, coordenadora da frente parlamentar mista de meio ambiente, segurança alimentar e comunidades tradicionais de Sergipe, reforçou a importância do compromisso com a preservação do rio.
“Esse ato simbólico do plantio das mudas visa mostrar a população ribeirinha que nós precisamos do reflorestamento de todo o rio São Francisco. Que precisamos também de políticas públicas para que o esgoto não caia mais in natura nas águas. Se faz necessário uma educação familiar e uma educação social no tocante à economia de água. Estamos passando por uma crise hídrica profunda no Nordeste. Temos que cuidar com muito carinho, muita paixão e amar nosso velho Chico”, afirmou a deputada.
A realização do evento ficou por conta dos representantes do CBHSF, Agência Peixe Vivo e Codevasf. “O comitê quer conscientizar a população da necessidade da luta em defesa do meio ambiente. Ela não pode ser uma luta apenas do comitê. Deve ser conduzida por um conjunto: poder público, sociedade civil e usuários de água”, destacou Honey Gama, Coordenador da CCR.
O Dia Nacional de Defesa do São Francisco terminou uma mesa de diálogo composta por autoridades do poder público, CBHSF, líderes comunitários e sociedade em geral. Os pescadores também tiveram a oportunidade de falar, deixando expresso o sentimento de preocupação e pesar diante da situação do rio.
Este ano, a campanha “Eu viro carranca pra defender o Velho Chico” teve como tema a preservação do Cerrado e da Caatinga. O objetivo da campanha é de coletar assinaturas para viabilizar uma proposta que institua a Caatinga e o Cerrado como patrimônios nacionais. A expectativa é de recolher dois milhões de assinaturas necessárias para que o projeto seja aprovado.
Participe da luta pelo Cerrado e Caatinga! Assine o abaixo-assinado!