Seminário marca um ano de luta contra a UHE Formoso

07/07/2021 - 16:02

Há um ano organizações, moradores e artistas criaram um movimento coletivo, o “Velho Chico Vive”, para denunciar os impactos da construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Formoso e defender o Rio São Francisco. O coletivo marcou o aniversário de luta com a realização de um seminário realizado no dia 05 de julho e transmitido pelo YouTube. O evento debateu sobre os impactos da obra, as consequências da barragem para a bacia do Velho Chico e as providencias que já foram tomadas para a não construção da UHE e o que ainda pode ser feito.

O produtor musical e integrante do movimento “Velho Chico Vive”, Pedro Surubim, explicou que a região mineira de Pirapora e Buritizeiro foi pega de surpresa com o anúncio de que uma nova usina hidrelétrica será construída no Rio São Francisco. “A decisão, publicada em maio de 2020, no Diário Oficial da União, causou indignação por ter sido tomada sem consulta pública à população local. A construção de mais uma barragem no Rio São Francisco além de piorar a falta de água que já existe na região, vai contribuir para as mudanças climáticas e destruir a biodiversidade do rio. Além disso, o projeto não prevê que esta é uma área que necessita de preservação e proteção justamente pela biodiversidade e por ser uma região importante para a reprodução de peixes”, disse.

Pirapora e Buritizeiro já ficam consideravelmente próximas à hidrelétrica de Três Marias, uma grande barragem, que represa parte das águas que vêm da cabeceira do Rio São Francisco. Esta construção, por sua vez, influencia constantemente nos níveis de água.

Pedro Surubim falou também sobre os efeitos da UHE Formoso na cultura e economia. “A construção da usina impactaria diretamente as comunidades tradicionais que vivem na região, como povos indígenas, comunidades ribeirinhas e pequenos produtores rurais. Os riscos são imensos e de vários âmbitos. Os impactos não se estendem apenas aos cinco municípios mencionados pela empresa no cadastro do empreendimento, mas a toda a bacia hidrográfica, sobretudo no trecho entre as hidrelétricas de Três Marias e Sobradinho (BA) e às cidades de Pirapora e Buritizeiro.

Além disso, Pirapora, que já sofre com a ausência de peixes como o pacamã e o surubim, pode se preparar para não ver certas espécies nunca mais. Como muitos deles usam os rios e lagoas marginais para se reproduzirem, mais um barramento no rio impactaria seu ciclo reprodutivo, causando extinção”, afirmou o produtor musical, que também ressaltou que a barragem será construída em uma região do Cerrado que tem veredas e matas virgens.

A advogada popular Clara Moreira destacou sobre a promessa de desenvolvimento para a região. “Tão logo houve a publicação do decreto no Diário Oficial da União, ecoou, despreocupadamente, pelas ondas sonoras do rádio, a informação de que o empreendimento traria desenvolvimento para a localidade. É importante falar que empreendimentos como esse trazem a promessa de desenvolvimento. Mas isso é uma mentira, pois esses empreendimentos, apesar de utilizarem mão de obra local, empregam pessoas somente durante a obra. E ainda mais: os salários mais caros são pagos à mão de obra que vem de fora, não será de Pirapora e Buritizeiro. Sem dúvida esse não é um projeto sustentável”, explicou.

O pescador artesanal Clarindo Santos morador de Buritizeiro e a ribeirinha do Baixo São Francisco, Divaneide Souza, mostraram em suas falas o amor pelo rio e a indignação quanto a UHE Formoso. “São Francisco Vivo: terra, água, rio e povo. Não à UHE Formoso!”, disse Divaneide.

UHE Formoso

 A obra integra o Programa de Parcerias de Investimento (PPI) do Governo Federal, que potencializa o processo de privatização no Brasil. A empresa responsável pela hidrelétrica é a Quebec Engenharia.

A UHE Formoso terá potência instalada de projeto de 306 MW e está projetada para ser implantada no rio São Francisco, estado de Minas Gerais, a 12 km da cidade de Pirapora (MG) e a 88 km da UHE Três Marias. A área de reservatório apresenta tamanho de 312 km2 e abrangerá os municípios de Buritizeiro (MG) e Pirapora (MG).

O projeto se encontra na fase de estudos ambientais e a previsão é que a licença ambiental seja concedida em 2022.

 


Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Luiza Baggio