Assim como o povo ribeirinho, o Rio Salitre é um resistente

30/10/2017 - 16:09


Quando se fala em resistência, pensa-se em luta e é assim que as comunidades no entorno do Rio Salitre, afluente do São Francisco, sobrevivem. O rio que nasce na localidade de Boca da Madeira, no município de Morro do Chapéu (BA), percorre cerca de 333 quilômetros até desaguar em Juazeiro, onde se torna perene por causa da instalação de adutoras, auxiliando quem tira dele a sua subsistência.
Na região de Juazeiro, o rio percorre o Projeto Salitre, que conta atualmente com 255 lotes agrícolas destinados a pequenos produtores rurais e 68 empresariais em uma área de 5.098 hectares onde 1,5 mil hectares correspondem a área irrigada cultivada. Segundo os produtores, enquanto se espera por soluções permanentes para a gestão adequada na região há mais de 40 anos, já se registrou episódios de violência e prejuízos pela disputa da água.
De acordo com a agente de saúde Maria Angélica Lemos Soares, moradora da comunidade, a situação de quem vive na região é de preocupação. “O Salitre já deixou de ser perene há alguns anos, e hoje vemos com grande preocupação a falta de conscientização de muitos que insistem em utilizar esse recurso sem os cuidados necessários. A região da cachoeira é um dos exemplos mais evidentes dos abusos. Aproximadamente 3 Km depois da queda d’água, o rio já não existe mais”, relata. No ano de 2015, o Tribunal de Contas da União recomendou à Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) a cobrança pelo uso da água, mediante tarifação específica.

Após 3 Km de cachoeira, Rio Salitre secou 

Além disso, a comunidade destaca os principais desafios enfrentados listando entre outros, a baixa eficiência no uso da água, implantação de medidas que garantam um limite de uso e o pagamento em dia pela água utilizada. Como forma de disciplinar e gerenciar o uso da água foi criado, ainda no ano de 2015, a Associação Águas do Salitrinho que propõe a instalação de hidrômetros e o estabelecimento de um limite de metros cúbicos de água a ser utilizado por cada agricultor. “Temos buscado com muita intensidade viabilizar soluções que atendam às necessidades da comunidade de modo a garantir que todos tenham seus direitos assegurados, desde os agricultores até a população, que também precisa da água para sobreviver”, afirmou o presidente da Associação, Roberval Amorim.
Para o coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Submédio São Francisco, Julianeli Tolentino, é preciso viabilizar ações que atendam às necessidades da população, mas também que zelem pela preservação do rio, única forma de garantir que ele continue existindo. “É preciso pensar em medidas com o devido planejamento, pois qualquer ação impensada seria prejudicial para o rio”, observa.

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Por Juciana Cavalcante