Em Brasília, nações debatem a gestão das águas

19/03/2018 - 23:26


Nuno Lacasta é presidente da Agência Portuguesa do Ambiente – o equivalente à nossa ANA (Agência Nacional das Águas). Ele é o representante principal de Portugal no estande do país no 8º Fórum Mundial da Água, evento global que que é considerado o principal na discussão sobre o uso de recursos hídricos no planeta. Lacasta acredita que o encontro seja oportuno aos interesses do país europeu no que diz respeito à gestão das águas por dois motivos principais. “Não poderíamos deixar de estar presentes porque esse é o primeiro Fórum no Hemisfério Sul e logo num país que fala português e num país irmão como o Brasil – que, mais uma vez, assume uma liderança, nesse caso da gestão da água a nível mundial. A segunda razão é que Portugal conseguiu demonstrar, nos últimos 15 anos, a sua capacidade de desenhar, construir e implementar soluções de gestão das águas em todos os níveis”, conta.
Os estandes destinados às nações ficam no espaço chamado Expo, cujo acesso é exclusivo aos inscritos do 8º Fórum Mundial da Água – e que chegaram a pagar até R$ 1.315 pela inscrição nos seis dias de evento. É lá que países e empresas negociam produtos e serviços exclusivamente para outras empresas, governos, estados, municípios e universidades. São cerca de 50 estandes na Expo, a maioria com designs que impressionam pela voluptuosidade.
São várias as palestras e apresentações que lá acontecem. No estande brasileiro, por exemplo, a presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), Suely Araújo, hoje (19) falou do decreto que determina que multas ambientais possam ser convertidas em investimentos e prestação de serviços para recuperar e reflorestar áreas degradadas das bacias do Rio São Francisco e áreas em processo de desertificação no Rio Parnaíba. Segundo ela, a seleção das iniciativas será realizada por meio de chamamento público. “Nós temos potencial de conversão de R$ 2,8 bilhões em dez sub-bacias [do Rio São Francisco]. A ideia é o Ibama colocar investimentos nessas sub-bacias em até 20 anos”, destacou Araújo.

Estande brasileiro (à esquerda). À direita, apresentação da presidente do Ibama, Suely Araújo. 

Em espaço anexo à Expo fica a Feira do fórum, cujo acesso é gratuito e aberto ao público. Lá estão as instituições interessadas em apresentar à sociedade soluções e ações quem vêm sendo executadas para manter a qualidade e o uso sustentável da água. É lá também que está o estande do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e de várias outras organizações, como a SOS Mata Atlântica, Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Estande do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco apresenta à sociedade soluções e ações quem vêm sendo executadas em prol do Velho Chico.

Em um desses estandes, o Ministério da Integração Nacional apresenta o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), obra de infraestrutura hídrica que pretende garantir a segurança hídrica de 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. A transposição do rio é apresentado de forma lúdica e didática por meio de uma grande maquete ao quais participantes caminham por cima, sobre um chão de vidro.
Em cerimônia realizada na tarde desta segunda-feira (19), o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, assinou memorandos de cooperação técnica com organizações internacionais voltados para a gestão de recursos hídricos e falou sobre a transposição. “Compreendo ser a solução estratégica e estruturante para ofertar água para esses Estados. A partir da integração do São Francisco e das obras complementares que estão sendo realizadas em parceria com Pernambuco, Paraíba, Ceará, e Rio Grande do Norte, nós estaremos garantido oferta hídrica para esses Estados, que têm a responsabilidade de fazer obras que levem água até a torneira das pessoas”, afirmou o ministro à imprensa.

Ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, assinou memorandos de cooperação técnica (à esquerda). À direita, peça teatral sobre o tema da transposição do Rio São Francisco. 

Também gratuito e aberto ao público, a Vila Cidadã é o espaço onde as pessoas participam de atividades formativas, culturais, interativas, sensoriais e de construção de diálogos voltados para melhorar o uso da água. O objetivo da Vila, segundo os organizadores, é ampliar a consciência, a atenção pública e a participação social para assuntos relacionados à água, além de promover soluções inovadoras para os problemas que os cidadãos enfrentam no cotidiano.
Isabel Cruz é estudante da UFPA (Universidade Federal do Pará) e veio de Belém para apresentar na Vila Cidadã o Projeto Amana Katu (do tupi-guarani: “chuva boa”). Trata-se de um negócio social que, a partir de um sistema inteligente, realiza a captação e purificação da água da chuva a fim de aproveitá-la em residências urbanas. Sobre as críticas que o Fórum vem recebendo por supostamente não dar voz e poder de decisão aos movimentos sociais e entidades civis, ela diz que lamenta sobretudo não poder participar das ações que estão sendo promovidas na Expo, restritas a quem paga. “Por ser um valor bastante elevado, acaba sendo muito excludente. A maioria das pessoas não vai ter acesso ao que está sendo exposto lá, é uma perda de contatos que a gente poderia fazer”.
Ainda assim, Cruz acredita que o Fórum Mundial da Água, de maneira geral, esteja sendo importante para visibilizar a causa e as ações da Amana Katu. “Trabalhamos em um projeto social, que não tem recurso para fazer certas coisas. Nós precisamos de parcerias, de contatos e o Fórum tem sido uma oportunidade muito grande nesse sentido. Já vieram pessoas aqui que queriam saber mais sobre o nosso sistema, ajudar financeiramente, contribuir de alguma forma técnica”, concluiu.

Estudantes da Universidade Federal do Pará apresentam o Projeto Amana Katu (à esquerda). À direita, na Vila Cidadã há atividades formativas, culturais, interativas, sensoriais e de construção de diálogos voltados para melhorar o uso da água.

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O Fórum Mundial da Água vai até o dia 23 de março e a expectativa dos organizadores é que 35 mil pessoas compareçam ao evento.

*Texto: Luiz Ribeiro
*Fotos: Bianca Aun e Ohana Padilha