Pela primeira vez a Coordenação Regional do Baixo São Francisco da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Paulo Afonso (BA), tem um indígena à frente da pasta.
A posse aconteceu no final de março deste ano com início do exercício a partir de abril. Técnico em agropecuária pela Escola Agrotécnica Federal de Belo Jardim – PE e graduando em Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – LICEEI com habilitação em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Paulo Afonso, Manoel Uilton dos Santos, da etnia Tuxá de Rodelas – BA, assumiu o cargo com desafios bem delimitados a serem resolvidos.
Ex-coordenador da Câmara Consultiva Regional Submédio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, de 2013 a 2016, e atualmente Coordenador da Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais do CBHSF, é conhecedor das realidades diversas dos povos da bacia do São Francisco.
Ele reflete que embora haja problemas crônicos, o cenário, para viabilizar soluções, é favorável. “É importante refletir sobre o atual cenário político que é promissor por valorizar a inclusão social, sobretudo, os povos tradicionais. A prova disso é que o Presidente da República criou o Ministério dos Povos Originários onde temos uma indígena à frente da pasta, que também é deputada federal. A Funai está acolhida dentro desse Ministério e tem 39 coordenações regionais no Brasil. Na região Nordeste são cinco, na Bahia existem duas: uma em Paulo Afonso e outra em Porto Seguro. Então, pela primeira vez temos a oportunidade de um indígena estar à frente da coordenação e sei que junto com a oportunidade vem também a responsabilidade. Sabemos que as demandas são grandes e as dificuldades também porque o órgão está sucateado e precisamos aproveitar esse governo para tentar reestruturar a Funai e fortalecê-la para que possa de fato atender os povos indígenas”.
A coordenação do Baixo São Francisco atende comunidades indígenas de Pernambuco e da Bahia. No contexto da bacia do São Francisco, a coordenação atende duas regiões fisiográficas, o submédio e médio SF onde vivem quase 100 mil indígenas, de acordo com a Funai. “Temos um quadro de funcionários muito reduzido para a abrangência de atuação, que é grande. Nós atendemos aproximadamente 100.000 indígenas sendo 50.000 em Pernambuco e a outra metade na Bahia, então a gente trabalha com comunidades que estão a mais de 1.000 km da sede da coordenação e, com esse quadro reduzido, limita nossa capacidade de execução das ações em atenção às demandas dos povos”, afirmou, destacando que espera a ampliação do quadro de profissionais e de recurso orçamentário. “Já tivemos um primeiro sinal nesse sentido. O Governo autorizou a realização de concurso para a Funai contratar 502 profissionais, então para a demanda que temos, é pouco, mas é um sinal positivo de que estamos trabalhando na direção de poder fortalecer a Funai e avançar no atendimento às demandas que vêm das comunidades indígenas”.
Com poucos incentivos federais e um verdadeiro desmonte de políticas nos últimos anos, a expectativa dos povos tradicionais é grande, principalmente em proteger suas terras e tradições, garantindo segurança e seus direitos mais básicos e essenciais. Nesse ponto, Uilton Tuxá destaca que “por conta do último governo, os povos indígenas têm uma expectativa alta, mas estamos dialogando dentro da atual realidade mostrando que não vamos mudar da noite para o dia. A mudança vai surgir durante o processo, mas sim, a gente está em um processo de construir as oportunidades que vão possibilitar o aumento no atendimento das demandas indígenas. Isso ainda é uma boa expectativa e eu acredito que nesse governo vamos avançar muito na nossa pauta de reivindicações na construção de um ambiente mais acolhedor, com maior capacidade de resolução da problemática indígena que vem de uma pauta muito antiga”, concluiu.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante