Revista 6: Um lugar chamado Canastra

09/01/2020 - 9:06

A majestosa serra mineira, berço das águas do Rio São Francisco se mantém como um local de história, natureza e cultura para o turismo nacional.

Nasce como um filetezinho de água que se perde por entre a vegetação rasteira do cerrado, para depois formar um enorme poço de águas cristalinas que dá origem a uma queda de 200 metros de altura, a Cachoeira Casca d’Anta, um dos mais belos cartões postais do Brasil. Quem vê não pensa que ali começa o enorme Velho Chico, que atravessa seis estados e 505 municípios brasileiros. Por lá, a sensação que temos é a de que água brota de todos os lados.

Pouco explorada e misteriosa, a região da Serra da Canastra guarda uma das mais deslumbrantes e desconhecidas paisagens do Brasil. Para proteger a nascente e o importante bioma que domina a região, o Cerrado, foi criado, nos anos 1970, o Parque Nacional da Serra da Canastra. Com uma área de 197.797 hectares, localiza-se no sudoeste do estado de Minas Gerais e abrange os municípios de Capitólio, Delfinópolis, Sacramento, São João Batista do Glória, São Roque de Minas e Vargem Bonita.

O Parque Nacional da Serra da Canastra é um capítulo à parte na região. A falta de vegetação de maior porte, combinada com os contrastes de relevo, deixam abertas grandes vistas panorâmicas do Parque e da região além de seus limites. Cachoeiras de tirar o fôlego e espécies animais ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará e o veado-campeiro, que podem ser vistos facilmente com silêncio e paciência, são as grandes atrações. O melhor horário para avistar os bichos é de manhã cedo ou no final do dia, mas há locais estratégicos, onde os animais já foram avistados, que só os guias conhecem.

Em 1819, o naturalista francês Saint-Hilaire visitou a Serra da Canastra. Ainda hoje, quase dois séculos depois, a descrição histórica de Saint-Hilaire continua sendo um retrato fiel da paisagem bem preservada da região. “… em toda a extensão do seu cume, a serra apresenta um vasto planalto irregular que os habitantes da região chamam de chapadão. Dali pude descortinar a mais vasta extensão de terras que os meus olhos já viram desde que nasci. Num lado, a serra de Piumhi limitava o horizonte, mas em todo o resto unicamente a fraqueza dos meus olhos restringia o meu campo de visão.”

Algumas das principais atrações, como o cânion do Rio São Francisco, a parte alta da Cachoeira Casca D’Anta, o Retiro de Pedras (área da primeira fazenda instalada na região), a parte alta da Cachoeira dos Rolinhos, podem ser acessadas por uma estrada de 60 km que atravessa o parque por cima do chapadão. Lá, está localizada a primeira ponte sobre o Rio São Francisco e o marco de sua nascente: uma imagem de São Francisco de Assis segurando um livro. Diz o folclore da região que a imagem desce do pedestal em noites de lua cheia para curar os animais feridos.

O parque é gerenciado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), na pessoa do biólogo Fernando Tizianel, que conta que, além das nascentes, “o parque protege uma fisionomia do Cerrado que é muito ameaçada fora de uma unidade de conservação, que é a formação de Campos, principalmente Campo Limpo. Mas também temos formações florestais, formações de Cerrado Rupestre. É uma rica variedade de formas do Cerrado que a gente encontra aqui”.

O nome Serra da Canastra deve-se à semelhança apresentada pelo imenso chapadão, que se avista de longe, a uma canastra. Canastra é um antigo vocábulo de origem grega, assimilado pelos portugueses, utilizado para denominar um tipo de arca móvel, rústica, de formato retangular. A semelhança desse objeto com a forma da serra originou o nome.


 Casca d’Anta, a primeira grande queda do Rio São Francisco

O que fazer na Serra da Canastra

Os mais aventureiros podem contar com diversas opções na Serra da Canastra: trilhas, motocross, canoagem, boia-cross, passeios de jeep, rapel, cachoeiras, lagoas, rios, caminhadas e muita atividade ao ar livre fazem parte da programação de quem quiser passar uns dias por lá. Por conta de a circulação no parque ser um pouco limitada para quem não tem um veículo apropriado, muitas pousadas e guias locais oferecem esses tipos de passeios.

Um cafezinho e um queijinho

Os cenários são belíssimos e os moradores da região, como bons mineiros, receptivos e fazem questão de atender bem os viajantes que passam por ali. Não há um lugar onde não se ofereça um café, e é claro, um queijo.
Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, o queijo canastra é a iguaria mais famosa da região. Ele só pode ser produzido na região da Serra da Canastra e ser fabricado conforme as tradições. Seu sabor é forte, encorpado, um pouquinho picante e denso. A venda do queijo é feita nas fazendas próximas à região, que realizam visitações para turistas onde é possível degustar queijos e doces e conferir de perto o processo de fabricação.

Nascente Histórica X Nascente Geográfica

Há uma polêmica em torno de qual é a real nascente do Velho Chico. Há cerca de 20 anos, foi realizado um estudo pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paraíba (Codevasf), que concluiu que a nascente do Velho Chico fica, na realidade, no Rio Samburá. Desde então, o São Francisco passou a ter duas nascentes: a histórica e a geográfica.

“O Rio São Francisco tem hoje duas nascentes: a nascente histórica, que é desde sempre chamada de Rio São Francisco, localizada no alto do Chapadão da Canastra e é reconhecida há muitos anos. E a nascente geográfica, que consiste na localização por critérios técnicos. Foi estabelecido que a nascente geográfica do São Francisco não está de fato no local onde se imaginava. No entanto, esse critério técnico não vem para desmerecer o que já está consolidado no conhecimento popular. São duas coisas importantes e complementares. Isso não tira o mérito e o simbolismo já alcançado pela nascente histórica”, diz o gerente do Parque Nacional da Serra da Canastra, Fernando Tizianel.


O queijo da serra da Canastra é patrimônio cultural e imaterial brasileiro, tombado pelo Iphan

Como chegar:

O horário de visitação do parque é das 8h às 18h e paga-se uma taxa de R$10,00 de entrada. Existem quatro portarias: a principal é a de São Roque, que chega à parte alta do parque, onde ficam as nascentes do São Francisco, a cachoeira do Rolinho e as primeiras quedas d’água da Casca d’Anta, cartão postal da Canastra. A entrada para a parte baixa fica na cidade de Vargem Bonita. Existe uma trilha que liga a parte alta à parte baixa da cachoeira. A entrada via São João Batista é pouco frequentada, mas vale a pena visitar a cidade, pois ela esconde cachoeiras encantadoras. A entrada por Sacramento é mais utilizada por aqueles que vêm de Delfinópolis e pretendem fazer a travessia do parque de carro. São 95 km de estrada de terra que atravessam o parque de Sacramento até São Roque de Minas. Fique esperto, pois não existe restaurante ou lanchonete dentro da área do parque.

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Mariana Martins Fotos
*Fotos:
Fernando Piancastelli e Léo Boi