Professor da UFMG apresenta tecnologia de reciclagem de rejeitos de minério durante XXXVII Plenária

05/12/2019 - 18:24

Uma tecnologia desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) oferece uma alternativa de aproveitamento dos rejeitos de minério armazenados nas barragens a montante, as mais comuns no Brasil, semelhantes às que se romperam em Mariana, Brumadinho e às que ameaçam Barão de Cocais e São Sebastião das Águas Claras, em Minas Gerais.

O material (rejeito) quando processado por uma tecnologia denominada calcinação flash, transforma-se em uma espécie de cimento – pozolana – que serve como base para vários outros materiais, tais como concreto, argamassa e pelotas de minério, que podem ser utilizados na pavimentação de estradas, construção civil, agricultura, piscicultura. A técnica também recupera ferro para fabricação de aço.

O mentor da tecnologia, professor Evandro Moraes da Gama, Engenheiro de Minas, Geólogo de Engenharia e Hidrogeólogo, apresentou o assunto na XXXVII Plenária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Segundo ele, “barragens e depósitos de estéreis são necessários para a produção de aço e derivados, mas são tratados de forma pouco produtiva. A nossa visão é de que os resíduos podem e devem ser reaproveitados. E é isso que fazemos: transformamos o rejeito em pozolana, que gera cimento e concreto, dois dos materiais mais utilizados na indústria da construção civil”.

Em sua apresentação, Evandro Gama mostrou que quanto maior a produção de minério, maior o risco de rompimento das barragens. “A mineração começou a ser feita a toque de caixa. As barragens foram recebendo rejeito numa quantidade muito superior ao que elas aguentavam. Barragens com concepção de 1950, recebendo rejeito de tecnologias de 2010, 2015. Uma tecnologia de altíssima velocidade sem a preparação do alicerce”, explicou o professor.

Gama mostrou as várias aplicações do material derivado do rejeito de minério, a pozolana, que pode ser usada na  construção de casas, na pavimentação de estradas e ainda pode ser utilizado na agricultura e na piscicultura. “A vantagem é que o pó de pozolana é colorido de acordo com a característica do minério: vermelho, rosa, ocre e marrom e, além disso, o custo é muito mais baixo do que os materiais convencionais utilizados para construção”, afirmou.


Veja as fotos da apresentação: 


O custo para se manter os depósitos de estéreis (material não aproveitável) é de cerca de R$ 12 milhões por ano e, de acordo com o professor, não há como prever o momento em que uma barragem vai explodir. “Não tem como realizar esse estudo, não temos tecnologia disponível para isso. Essa é uma verdade que precisa ser dita”, ressaltou Gama.

Sobre o impacto que a geração de produtos a partir de rejeitos pode ter no volume de material hoje colocado em barragens, o professor apresentou algumas projeções. Segundo ele, “num cenário de curto-prazo, até 2021, a gente teria absorção de 8% de rejeito de 15 bilhões de toneladas, o que já é muita coisa. A barragem que estourou de Brumadinho poderia fazer todo o recapeamento de Montes Claros. Em um cenário de longo prazo, em 2039, teríamos já 61% do rejeito aproveitado”, finalizou.

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Mariana Martins
*Fotos: Allan Rodrigo