O rio São Francisco não deverá sofrer, novamente, com a redução da sua vazão. Pelo menos foi o que prometeu o presidente da Agência Nacional de Águas – ANA, Vicente Andreu Guillo, durante reunião do órgão com representantes do setor energético, na tarde desta quinta-feira (02.07), em sua sede, em Brasília. Na oportunidade, Guillo disse que não mais aceitará os argumentos de que a redução da vazão é necessária por questões emergenciais. O anúncio foi feito após relato do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF, Anivaldo Miranda, e do assessor técnico da presidência da Companhia de Abastecimento de Alagoas – Casal, Jorge Briseno, que fizeram um relato detalhado dos graves prejuízos provocados pela medida anunciada em maio último.
Durante a reunião, o presidente da ANA deixou claro a necessidade urgente de os órgãos responsáveis pela elaboração de relatórios sobre a situação do rio, como Ibama, Chesf, Ministério das Minas e Energia, entre outros, se planejarem com antecedência para evitar a morte do rio. “Visitei Alagoas há aproximadamente 15 dias para ver, pessoalmente, a situação do rio após mais uma redução da vazão para 1.100m³ de água por segundo, fiquei preocupado e fiz um relato ao governador do Estado, Teotônio Vilela (PSDB), para que ele entre em contato com o Ministério da Integração para proporcionar uma colaboração mais próxima”, revelou Vicente Andreu Guillo.
Guillo apontou para a necessidade, ainda, de definição de critérios claros com vistas a regulação da medida. Ele reforçou a crítica de Anivaldo Miranda de que da forma como a medida vem sendo tomada fica clara a falta de planejamento para tratar do problema, fato que não pode continuar. “A cada ano o setor energético apresenta o pedido para reduzir a vazão do rio e, a partir de agora, não mais irei aceitar a assinar esses pedidos de forma apressada. Sinto que o setor energético foge de uma discussão nesse sentido, mas as regras terão que ser definidas até o próximo mês de novembro”, disse o presidente da ANA.
Os posicionamentos foram tomados após Anivaldo Miranda comparar a situação atual do rio a um paciente na UTI que, mesmo em estado crítico, é obrigado a passar por problemas respiratórios. Para embasar sua posição, o presidente do CBHSF leu duas correspondências de reclamações formalizadas através do endereço eletrônico do Comitê, nas quais são relatadas as dificuldades. Em uma delas, o responsável pelo transporte de balsa relata a dificuldade para cumprir o trecho entre Penedo (AL) e o estado de Sergipe. De acordo com o texto, o transporte era feito, anteriormente, em aproximadamente 20 minutos e, atualmente, chega a 50.
Miranda citou, ainda, os casos de doenças de veiculação hídrica, registradas em maior número nos últimos meses nos municípios atingidos pelo baixo nível da água do rio. “Em duas semanas, 45 pessoas morreram na região, vítimas de surtos de diarreia”, relatou. “É um problema sério. Os prejuízos são grandes e quem pagará essa conta? É preciso ter uma resposta. O ministro das Minas e Energia (Edison Lobão) anunciou a desativação das usinas termelétricas. Ótima medida, porque são caras e os danos ambientais também são altos. Segundo ele, haverá uma economia de R$ 1,4 bilhão. E por que parte desse dinheiro não retorna como forma de reparar essa conta?”, questionou Anivaldo Miranda.
O assessor técnico da presidência da Casal, Jorge Briseno, relatou a grande dificuldade da empresa em captar água devido ao baixo nível do rio. Segundo ele, as bombas sofrem o processo chamado pela engenharia de ‘cavitação’, ou seja, sucção de apenas 30% a 40% da capacidade total, com perda da produção e prejuízos financeiros. “Por causa disso, a Casal suspendeu o abastecimento de 155 carros-pipa que era feito diariamente para combater, ou pelo menos amenizar, os efeitos da seca no Sertão alagoano. Com isso, os veículos têm que trafegar mais de 60 quilômetros do percurso inicial, aumentando o custo da operação. Como muitos caminhões são de particulares, não se sabe sequer onde estão sendo abastecidos”, relatou Briseno.
O superintendente de Recursos Hídricos de Sergipe, Ailton Rocha, também relatou as dificuldades encontradas na captação de água no Estado. E diante de tantas reclamações, o corpo técnico da Chesf defendeu o acompanhamento de todos os problemas por parte do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. E quanto às responsabilidades sobre o pagamento dos prejuízos ocasionados pela redução da vazão do São Francisco, como cobrou Anivaldo Miranda, todos os órgãos federais se esquivaram, cada qual com argumentos distintos.
Nova reunião para dar andamento às discussões sobre o tema e na busca de um planejamento do setor energético, dos órgãos ambientais e do governo federal, deverá acontecer no próximo mês de agosto.
ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF