Povos indígenas lutam pelo território contra a construção da UHE Formoso

18/11/2020 - 9:00

“Nós, Tuxá, conquistamos recentemente nosso território, com a ajuda dos Encantados. Os povos são as pessoas que estão ali convivendo com o Cerrado, que conhecem a realidade e agora querem retirar novamente a nossa terra”, diz a cacique Anália Tuxá. Ela e seu povo, formado por aproximadamente 420 indígenas, serão retirados de seus territórios, caso o projeto da Usina Hidrelétrica (UHE) Formoso seja aprovado.

O projeto foi ressuscitado pelo decreto do presidente Jair Bolsonaro e prevê a inundação de nada menos do que seis mil hectares de Cerrado nativo, numa área equivalente a mais de 30 mil campos de futebol. A UHE Formoso terá capacidade de gerar 306 MW de potência com três turbinas.

Os indígenas Tuxá estão há 65 anos na região de Pirapora, município vizinho a Buritizeiro, na região do Alto Rio São Francisco. No entanto, há cinco anos, parte da comunidade indígena Tuxá, da aldeia Tuxá Setor Bragagá, se encontra em uma ocupação na fazenda Santo Antônio, no distrito da Cachoeira da Manteiga, município de Buritizeiro (MG), próximo à confluência do rio Paracatu com o Rio São Francisco, região que será inundada pela construção da UHE Formoso.

A cacique Anália Tuxá, da aldeia de Buritizeiro, e seu povo, são contra a construção do empreendimento na região. “Temos fé que a UHE Formoso não será construída na região de Pirapora, afetando o nosso território. Nós temos a nossa tradição espiritual, religiosa, a nossa forma de plantar e de viver no território. Vivemos de uma maneira sustentável e para tudo isso precisamos do nosso território e do Rio São Francisco”.

Anália Tuxá reivindica que as comunidades atingidas pela barragem sejam ouvidas. “A importância do Rio São Francisco é enorme. A água é sagrada para nosso povo”, disse ela, completando que, se o projeto se concretizar, haverá grande destruição de flora e fauna locais e da cultura dos povos tradicionais.

Ao relembrar a antiga terra à qual o seu povo pertencia, Anália recorda com carinho e pesar, de um tempo que parece distante. “A minha maior lembrança é dos momentos que podíamos ser livres na ilha. “O território do qual ela se recorda com boas lembranças ficava na Ilha da Viúva, na Bahia, às margens do Rio São Francisco. No entanto, foi submerso pela construção da hidrelétrica de Itaparica.

Após a inundação, seu povo se dividiu em seis territórios, tendo o maior fluxo de migração para outras cidades da Bahia. Outras pessoas do grupo se encontram em Alagoas, Pernambuco e em Minas Gerais. De acordo com o último dado de 2014 do Siasi/Sesai, existem mais de 1700 integrantes do núcleo espalhados por várias regiões.

Guerreira e resistente são palavras que definem muito bem a cacique. “Nosso povo é um dos que sofreu a maior agressão, que é não ter seu território tradicional. Eu acredito, pela força dos Encantados, que nosso Pai Celestial é quem nos deu esta terra e que ninguém conseguirá nos tirar novamente”, diz Anália Tuxá.


Veja as fotos dos indígenas Tuxá:


Xakriabá

A maior população indígena de Minas Gerais, os Xakriabá, uma das dez maiores do país, também tem seu território ameaçado pela construção da UHE Formoso. A reserva tem 35 aldeias, sendo as mais distantes a cerca de 80 km do centro de São João das Missões (MG), no Vale do Peruaçu, percorridos por estrada de chão.

“Fomos os primeiros habitantes do Brasil, mas a ameaça ao nosso povo continua do mesmo jeito. A gente pede aos governantes que respeitem o nosso direito ao território e à nossa cultura. Queremos uma justiça social verdadeira. Eu vejo que hoje o dinheiro é uma tragédia para quem não tem coração. Não vamos parar de lutar, mas vamos na paz, pela união e tradição”, garante o pagé Vicente Xakriabá.

Os Xakriabá resistem naquelas terras há milhares de anos. Eles nunca descontinuaram a ocupação territorial e existe histórico desse povo há 3 mil anos na região de São João das Missões, um vínculo indissolúvel com a terra que os define.

Na terra indígena Xakriabá, a luta ainda é pelo pleno acesso ao território tradicional. O retorno às margens do São Francisco, de onde eles se originam, é uma bandeira antiga e resistente nas vozes de todos que integram as aldeias. O líder Xacriabá, Hilário lembra que o território é requisito essencial para a preservação da cultura, principalmente para as gerações mais novas. “Mesmo que eu não seja mais jovem, eu me sinto criança por dentro quando falo desse entusiasmo de lutar. O impacto cultural será enorme caso tenhamos que deixar o nosso território”.

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Fotos: Arquivo pessoal da cacique Anália Tuxá