
Nos dias 8 e 10 de julho, as cidades de Paulo Afonso e Salvador, na Bahia, foram palco de importantes plenárias eleitorais para a escolha dos representantes dos povos indígenas e comunidades quilombolas no novo mandato do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). O processo eleitoral, marcado pelo diálogo e pela busca do consenso, reforçou o compromisso do Comitê com a valorização e a participação ativa desses grupos tradicionais na gestão do Velho Chico.
A manhã do dia 8 de julho foi dedicada à plenária eleitoral dos povos indígenas, realizada na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Paulo Afonso. O evento reuniu um expressivo número de lideranças que, há milênios, se dedicam à proteção e preservação do Rio São Francisco e seus ecossistemas.
A plenária foi coordenada pelo advogado Marcelo Ribeiro, membro da Comissão Eleitoral, em conformidade com as regras estabelecidas na Resolução DIREC nº 184/2025, que disciplina o processo eleitoral do CBHSF. “Os povos originários uma vez mais demonstraram maturidade em debater exaustivamente os nomes que foram apontados como os seus representantes, chegando a uma decisão que consideraram ideal para o próximo quadriênio 2025/2029. Por sua vez, o CBHSF proporcionou que o processo decisório democrático ocorresse com transparência e sem sobressaltos, reiterando o seu compromisso inarredável com todos os segmentos integrantes do Comitê, notadamente os povos indígenas, sua cultura e modo de vida, sob a égide de uma gestão democrática, descentralizada e participativa”, afirmou Ribeiro.
Após intensos debates e demonstração de grande maturidade política, os povos originários chegaram a um consenso. A decisão foi pela recondução de Manoel Uilton, da etnia Tuxá (BA), como titular, representando as regiões do Alto e Médio São Francisco. Como seu suplente, foi indicado Gleison Kaxixó (MG). Para representar o Baixo e Submédio São Francisco, Josinaldo Ribeiro, do Povo Karapotó (AL) e Cícera Leal, da comunidade dos Pankará (PE), como suplente.
Já para a representação do povo quilombola foram escolhidos Cláudio Pereira, da comunidade Lagoa das Piranhas (BA), e Sandra Andrade, do quilombo Carrapatos da Tabatinga (MG).
A Cacique Cícera Pankará ressaltou a natureza coletiva do processo de decisão de seu povo. “Geralmente a gente não faz eleição de fato, sempre entramos em consenso. E aí, como são dois suplentes e dois titulares para atender a bacia inteira, a gente tenta contemplar de forma que em cada CCR possamos ter alguém representando as comunidades indígenas, uma vez que entendemos que é importante termos representação ao longo do rio”, explicou.
Ela detalhou o sistema de rotatividade para garantir a representatividade em todas as regiões da bacia. “Por exemplo, a cada mandato um estado é titular. Como são quatro vagas deste lado do rio, ou seja, Pernambuco, Ceará e Alagoas ficam com uma vaga de titular e uma vaga de suplente. E do lado de lá, Bahia, Minas Gerais e Brasília ficam com a outra vaga de titular e suplente.”
A Cacique Pankará, que já ocupou a titularidade em dois mandatos, demonstrou a importância da união e do foco na causa maior: a defesa do São Francisco. “Para mim, tivemos uma plenária muito boa onde a gente conseguiu dialogar mais uma vez, conseguiu entrar em consenso e temos hoje representantes desde Minas Gerais até Alagoas e Sergipe, no baixo”, afirmou, reiterando a satisfação geral com o resultado.
Sobre as expectativas para o novo mandato, Cícera destacou a continuidade da incidência dos povos indígenas dentro do Comitê. “Que a gente consiga continuar marcando o nosso espaço enquanto povos indígenas dentro do Comitê e sempre pontuando as coisas que achamos importantes para que todo o povo que depende da água do Rio São Francisco possa ter acesso a ela, e também a projetos que venham ajudar a cuidar do nosso rio”, concluiu, reforçando o compromisso com a água e com o desenvolvimento de projetos de conservação.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Manoel Vieira