Parado no cais de Pirapora: o Vapor Benjamim Guimarães é o último exemplar movido a lenha existente no mundo e não navega mais desde 2014

25/03/2019 - 10:14


População e prefeitura cobram do Iepha/MG restauração deste patrimônio histórico e cultural da humanidade.


Sem licença de tráfego por falta de reforma, o vapor Benjamim Guimarães encontra-se atracado no porto da Capitania Fluvial do São Francisco em Pirapora desde o dia 29 agosto de 2014. Segundo o comandante da Capitania Fluvial do São Francisco em Pirapora, José Carlos Eusébio, “o documento não pode ser renovado porque a vistoria detectou deficiências no chapeamento com diversos rasgos e furos no casco, comprometendo a segurança da navegação e a vida humana. De 2014 pra cá, o processo de deterioração só vem aumentando. Para voltar a navegar, o vapor precisa de uma restauração completa”, explicou o comandante.
Essa não é a primeira vez que o vapor fica sem navegar. Ficou parado por duas décadas, entre 1985 e 2005. Naquela ocasião a prefeitura de Pirapora o restaurou. No entanto, após a obra, o vapor foi tombado pelo governo estadual como patrimônio histórico de Minas e como tal qualquer tipo de intervenção depende de projeto que só pode ser executado com aprovação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).
No período recente quando o vapor navegava até 2014, a Empresa Municipal de Turismo de Pirapora (Emutur) organizava passeios, geralmente aos finais de semana e feriados. Os passeios duravam entre 3 e 4 horas, atraindo turistas do Brasil inteiro, que podiam desfrutar, durante o tour, de apresentações e musicais e serviços de restaurante. O Benjamim Guimarães mantém suas características originais, que datam do século passado. Possui três pisos: no primeiro, encontra-se a casa de máquinas, caldeira, banheiros e uma área para abrigar passageiros. No segundo, estão instalados 14 camarotes, e no terceiro, um bar e área coberta. Tem capacidade para 140 pessoas, entre tripulantes e passageiros e consome 1 m³ de lenha por hora.
A prefeita de Pirapora, Marcella Fonseca, tem a expectativa de que o governo estadual regularize as contas e invista no projeto de reforma. “Montamos uma equipe que fez o projeto da reforma. O Benjamim é a única embarcação a vapor do mundo, por isso o custo é elevado, e há complicações técnicas também. Conseguir um engenheiro que entenda desse tipo de embarcação e o local onde a reforma aconteceria, foi uma luta. Com o projeto pronto, orçado em cinco milhões, esbarramos em questões burocráticas e financeiras. Como é tombado, o projeto precisa se aprovado e licitado pelo governo estadual, que alega não dispor de orçamento. Somos sensíveis à crise que afeta a todos, principalmente aos municípios, mas não podemos ficar de braços cruzados assistindo o Benjamim Guimarães se deteriorar”.
O presidente da Empresa Municipal de Turismo de Pirapora (Emutur), Orlando Pereira de Lima, explica que “a cidade está deixando de arrecadar mensalmente entre R$ 200 a R$ 300 mil reais pela falta de navegação do vapor”. Segundo ele, cerca de 90% dos agendamentos para passeios no vapor eram feitos por turistas que impulsionam a economia local, gerando renda e emprego.
Para a turismóloga, Daniela Lagoeiro, o prejuízo cultural e econômico da paralisação do vapor é muito elevado. “Hoje mesmo parado, recebe manutenção da prefeitura e as pessoas podem visitá-lo e conhecer por dentro, mas não é a mesma coisa, os turistas querem mesmo é navegar”, diz.
História Viva
Para a população de Pirapora, o Benjamim Guimarães representa muito mais do que uma embarcação histórica. Existe um orgulho, um sentimento de pertencimento em fazer parte da história do Brasil e do mundo, que é passada de geração para geração. Adelio Brasil Filho, servidor da Secretaria de Esporte e Juventude e Cultura e neto de um dos comandantes de vapor do Benjamim Guimarães, se diz desolado. “Nós, barranqueiros, sentimos o rio correndo em nossas veias e o vapor faz parte desta história afetiva”, lamenta.
Construído em 1913 nos Estados Unidos, navegou no rio Mississipi e, posteriormente, em rios da Bacia Amazônica. Na segunda metade da década de 1920, a empresa Júlio Guimarães adquiriu a embarcação e em homenagem ao patriarca da família proprietária da empresa a nomeou “Benjamim Guimarães”. Por várias décadas, o vapor foi utilizado no transporte de cargas e passageiros no trecho Pirapora (MG) – Juazeiro (BA). Durante a segunda guerra mundial, serviu de transporte para as tropas do exército brasileiro. Depois disso, sua navegação foi direcionada para o turismo em Pirapora.
 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Núbia Primo
Foto: Bianca Aun