Palestra no XXIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos alerta para o fato de que muita água não necessariamente significa qualidade

29/11/2019 - 10:52

Yvonilde Medeiros, conselheira do CBHSF e professora associada da Universidade Federal da Bahia, explica que, enquanto o leigo associa a segurança hídrica com a quantidade de água, a realidade demonstra que a sazonalidade da vazão do rio faz parte de um ecossistema mais complexo.

Yvonilde participou de uma mesa redonda neste simpósio procurando abordar tanto a segurança hídrica quanto a qualidade da água. Ela se baseou no seguinte conceito de segurança hídrica das Nações Unidas: “A capacidade de uma população de salvaguardar acesso sustentável a água em quantidades adequadas e qualidade aceitável para sustentar a vida, o bem-estar humano, e o desenvolvimento socioeconômico, de modo a assegurar proteção contra a poluição hídrica e desastres relacionados com a água, e para preservar ecossistemas em clima de paz e estabilidade política”.

Para desenvolver esse conceito, Yvonilde se apoiou nas duas premissas presentes na enunciação da ONU: que a quantidade precisa ser adequada à necessidade e que a qualidade necessita ser aceitável para sustentar a vida.

“Existe uma relação muito direta entre quantidade e qualidade. Sempre que variamos a quantidade, também influenciamos a qualidade da água. Grandes chuvas lavam o solo, as áreas de plantação e as áreas urbanas; mas, ao mesmo tempo, trazem toda a sujeira para a calha do rio. Então, a grande quantidade de água está associada também a uma deteriorização da sua qualidade;por outro lado, a estiagem reduz a capacidade de diluição dos poluentes que estão na calha do rio. Quando dizemos que precisamos assegurar água às populações e ao ecossistema para a manutenção da vida, assim como também assegurar a produção, a energia, a indústria e a agricultura, estamos falando das duas coisas juntas”, explica a professora.

Dessa forma, é importante que não associemos a quantidade à qualidade e vice-versa, uma vez que, se impusermos ao rio uma vazão de alta quantidade, podemos também alterar o bioma que está a ele relacionado.

“Nós temos um compromisso, entre os nossos objetivos de desenvolvimento sustentável, de garantir água para todos: para quem subsiste à beira do rio, vivendo da pesca, da plantação de subsistência, assim como também não podemos dizer ‘não’ à indústria ou à agricultura, porque elas estão garantindo o desenvolvimento e o alimento para o país”.

Yvonilde deixa claro que, para que a vida existisse, foi necessário haver variações, mudanças, instabilidades. Quando determinamos, por exemplo, uma vazão de referência que seja aplicável para todos os rios, independentemente de sua localização ou caraterística – seja ele perene ou sazonal –, estamos também interferindo no ecossistema – que se sustenta sobre um equilíbrio delicado. Qualidade não necessariamente quer dizer quantidade.


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Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto e fotos: Leonardo Ramos