Oficina preparatória para salvamento de peixes no Complexo Lagunar do Rio São Francisco é realizada no município de Xique-Xique

18/07/2019 - 16:36

Um dos berçários de peixes e espécies nativas mais importantes do Velho Chico, o Complexo Lagunar do Rio São Francisco, localizado no município de Xique-Xique (BA), é um bem de incalculável valor social e ambiental. Com 14 km², é o maior complexo às margens do rio São Francisco e, segundo pesquisadores, uma das mais importantes áreas de desova e fonte de alimento para a população. No entanto, mesmo com tamanha importância, desde abril de 2017, o volume do complexo lagunar tem atingido seus menores níveis históricos. Um diagnóstico ainda está sendo finalizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) sobre as causas principais do problema do secamento, que já causou uma mortandade de mais de 500 toneladas de peixe.

Trata-se de um problema ambiental de extrema relevância, que afeta a população local de maneira dramática. Exatamente por isso o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em parceria com o CBHSF e instituições como a Prefeitura Municipal de Xique-Xique e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) se juntaram em uma oficina coletiva para planejar uma ação emergencial de salvamento dos peixes da lagoa. Trata-se uma operação para garantir a sobrevivência das espécies ameaçadas pelos baixíssimos níveis de água.

Para isso, as instituições, junto à estudantes, pescadores e pesquisadores locais se reunirão de segunda (13) à quinta-feira (17), na cidade de Xique-Xique para refletir de maneira crítica e construir um diagnóstico, planejamento e ações práticas para o salvamento dos peixes. Considerada uma atividade importante não só para o resgate de espécies ameaçadas, como para a construção de um olhar mais aproximado da situação das lagoas e melhor identificação de possíveis causas da mortandade de peixes, a operação é realizada por meio de uma força-tarefa interinstitucional, que conta com a participação de universidades, escolas técnicas, colônias de pescadores, prefeitura locais e voluntários.

De acordo com o analista ambiental Daniel Dantas, coordenador da ação junto ao Ibama, o evento é uma oficina que tem por principal objetivo dar continuidade a ação de salvamento de peixes que já vem sendo executada no Rio São Francisco há mais de dois anos. De acordo com o coordenador, o evento atinge outro patamar de trabalho ao trazer à comunidade parceiros, pesquisadores e ações de educação ambiental para um maior engajamento de todos na preservação do complexo lagunar. “Este evento é importante para que possamos organizar a ação de salvamento e que ela se dê de maneira mais organizada e efetiva”, afirmou.

Ainda de acordo com Dantas, ao promover a oficina é possível reunir os diversos atores para a realização de um trabalho bem estruturado, que possibilite uma maior produção de peixes no leito do rio. “A gente tenta minimizar as perdas, trabalhando com toda uma tecnologia e envolvendo engenheiros de pesca aptos ao salvamento de espécies que estão em número reduzido”, enfatizou.

Mobilização Social

Um dos desafios para as ações de salvamento do Complexo Lagunar do Rio São Francisco é o envolvimento da comunidade nas ações. Por falta de informação adequada ou mesmo por uma minimização do problema, poucos pescadores e moradores ribeirinhos se envolvem nas ações de proteção ao Rio São Francisco. Tal desafio foi encarado na oficina preparatória como elemento central para a construção de ações de educação ambiental que possam modificar esse quadro.

De acordo com professor de geografia, Railton Nascimento, a oficina ao colocar a perspectiva da educação ambiental como um dos pontos centrais, joga o problema ao crivo da sociedade. “Porque todos estamos no mesmo barco, tento ver como fica a questão ambiental daqui para frente”, disse o professor que defende, enquanto militante e estudioso do rio, a construção de uma convivência harmônica da socidade com o meio ambiente.

Segundo o professor, esse processo de sesibilização da comunidade será crucial não só para a recuperação das lagoas, como também para a saúde do rio São Francisco como um todo. Porém, ainda é necessário que as ações cheguem para dentro das comunidades. “Essa palestra, que foi riquíssima, deveria ser oferecida nas comunidades ribeirinhas, que são diretamente ligadas à pesca e à agropecuária. Porque falar diretamente a quem, teoricamente, seria o agressor talvez surtisse mais efeito”, concluiu.

O papel do CBHSF

Responsável pelo diagnóstico da Lagoa de Itaparica com recursos da cobrança pelo uso da água bruta do Velho Chico, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco é parte importante nas ações de resgate, defesa e preservação da lagoa de Itaparica. Como afirmou o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco, Ednaldo Campos, o CBHSF é sempre parceiros nas ações voltadas à defesa e preservação da Lagoa. “Nós estamos aqui para reforçar nosso compromisso com essa ação emergencial e com as demais demandas de monitoramento e educação ambiental que futuramente se façam necessárias”.

De acordo com o coordenador, o Comitê estará envolvido em todas as etapas do processo da ação emergencial de salvamento de peixes e, inclusive, nas ações que redundarão na preservação da Lagoa, como fiscalização e monitoramento conduzidos em parceria com a própria população. “É importante que tenhamos um olhar para o futuro no qual, ao trabalharmos em parceria com as instituições e pescadores, poderemos realizar a plena recuperação e uso racional dos recursos da Lagoa”, defendeu Campos.

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Henrique Oliveira
*Foto: Henrique Oliveira