Lagoas marginais do Alto São Francisco são recuperadas

03/08/2021 - 18:06

Projeto financiado pelo CBHSF em parceria com a Cemig analisa a qualidade das águas, da fauna e da flora em áreas do rio São Francisco que servem como berçário para peixes migradores


Preocupado com a biodiversidade e a reprodução dos peixes, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) desenvolve um projeto para recuperação das lagoas marginais da região do Alto Rio São Francisco, em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Para isso assinaram um Termo de Cooperação Técnica no ano de 2018 que será renovado para o período de 2021/2023.

As lagoas marginais, como o próprio nome sugere, são corpos d’água localizados às margens do rio São Francisco, compondo o meio físico das planícies de inundação. Nas cheias, recebem as águas das inundações através de canais chamados de sangradouros que conectam as lagoas com o rio. Nessa época, inúmeras espécies de peixes vão até as lagoas marginais para desovar, pois elas possuem águas calmas e disponibilidade de alimentos para que os alevinos cresçam o suficiente para voltarem para o curso d’água nas próximas inundações. Assim, as lagoas marginais são responsáveis pelo aumento significativo da quantidade de vida no São Francisco.

O projeto de recuperação das lagoas marginais teve início a partir do Movimento Carta de Morrinhos. “O movimento escreveu um documento de intenções, uma ‘carta-mãe’, com metas, objetivos e prazos em prol da bacia do rio São Francisco e procurou a Cemig, para que, objetivamente, fizéssemos algo pelas lagoas marginais. Elas não estavam cumprindo sua missão ecológica de permitir e preservar a reprodução dos peixes nativos”, diz o representante da Cemig no CBHSF, Renato Júnio Constâncio.

O integrante do Movimento Carta de Morrinhos, Wagner Jansen de Almeida, morador de Matias Cardoso, comenta sobre o estado das lagoas marginais antes do projeto. “Recuperar as lagoas marginais é muito importante, pois não existe vida no rio sem elas. As lagoas começaram a morrer devido a tanta degradação. O projeto veio para somar e beneficiar os ribeirinhos e toda a população do entorno”, afirmou.

O projeto é dividido em três módulos: o primeiro é o acordo de cooperação técnica entre o CBHSF e a Cemig que garantiu os estudos hidrológicos e hidrodinâmicos que preveem essa operação até o fim da concessão da usina para a Cemig, no ano de 2045. “Vale ressaltar que este é um projeto inédito e inovador, e quebra paradigmas no setor elétrico e no ambiente dos Fóruns de Recursos Hídricos”, aponta Renato Constâncio.

O segundo módulo contempla pesquisa e desenvolvimento de estudos sobre a integridade ecológica das lagoas marginais. Ou seja, verificando o nível ou grau da qualidade ambiental da região das lagoas marginais e, simultaneamente, apontando as soluções possíveis. “Não adianta liberar água para abastecer essas lagoas se não conhecermos a qualidade ambiental em que elas se enquadram”, acrescenta Renato Júnio Constâncio. Segundo ele, o projeto já mapeou 15 lagoas marginais entre Três Marias e a divisa de Minas com Bahia, próximo aos municípios de Manga e Matias Cardoso.

O terceiro módulo é desenvolvido pelo Movimento Carta de Morrinhos que trabalha a mobilização social, fundamental para promover o “pertencimento” do projeto no território e seus atores: ribeirinhos, pescadores e proprietários rurais. “São as próprias pessoas que atuam nesse território que fazem o trabalho de educação e mobilização ambiental. Sem a participação desses atores locais, incluindo jovens e crianças, o projeto por si só não conseguiria seguir o seu caminho”, pontua o representante da Cemig.


Assista ao vídeo sobre o projeto: 


De Três Marias a Manga

Na porção da Bacia do Rio São Francisco a jusante da barragem de Três Marias, há importantes áreas de desova e desenvolvimento inicial de espécies de peixes migradoras. Nesse trecho também é expressivo o número de lagoas marginais. Em períodos de cheias, acredita-se que essas lagoas funcionem como centros de recrutamento de espécies de peixes, incluindo aquelas consideradas grandes migradoras.

Entretanto, em períodos de cheias modestas, o papel dessas lagoas pode ser comprometido, refletindo-se em baixas densidades de ovos e larvas, uma vez que o regime do fluxo é um dos principais fatores que afeta diretamente a desova e o recrutamento.

Por essa razão, o mapeamento da ictiofauna, a medição da qualidade das águas e a análise socioambiental na região se fazem tão necessárias. A área de alcance do projeto se estende pelos municípios de Três Marias, São Francisco, Bonito de Minas, Buritizeiro, Campo Azul, Chapada Gaúcha, Ibiaí, Jaíba, Januária, Juvenília, Lassance, Matias Cardoso, Montalvânia, Pedras de Maria da Cruz, Ponto Chique, Santa Fé de Minas, São Gonçalo do Abaeté, São Romão, Ubaí, Urucuia e Várzea da Palma.


Veja as fotos das lagoas marginais:


Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Luiza Baggio
*Fotos: Léo Boi