Instituto Guaicuy produz documentário sobre os impactos do rompimento da barragem da Vale na vida dos ribeirinhos do São Francisco

03/08/2022 - 17:35

“Depois da represa tem um rio” foi produzido pelo Instituto Guaicuy, que presta Assessoria Técnica Independente para pessoas atingidas de Três Marias e São Gonçalo do Abaeté e de outros municípios prejudicados pelo desastre-crime. Comunidades estão localizadas na Represa de Três Marias, mesmo local por onde o Rio São Francisco passa antes de seguir para o Nordeste do Brasil.


‘Pra nós, aqui, acabou com tudo. Você tem um peixe pra vender, vai vender pra quem? Às vezes tem que vender pra um amigo seu, quase barato, porque não tem um turista mais pra te comprar um peixe”.

O depoimento de Filé, morador de Pontal do Abaeté, comunidade localizada em Três Marias, faz parte do minidocumentário lançado nesta quinta-feira (21/07) pelo Instituto Guaicuy. “Depois da represa tem um rio” fala sobre os danos causados pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, em comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco que ficam nos municípios de Três Marias e São Gonçalo de Abaeté. Em depoimentos carregados de dor e preocupação, ribeirinhos e ribeirinhas que vivem às margens do Velho Chico, reivindicam a reparação justa pelos danos causados pelo crime da mineradora em 2019.

O Instituto Guaicuy presta Assessoria Técnica Independente para dez dos 26 municípios considerados como atingidos pelas Instituições de Justiça, depois que a lama da mineradora foi derramada no Rio Paraopeba. Os municípios foram divididos em cinco regiões e o instituto dá suporte às comunidades da Região 4, onde estão os municípios de Pompéu e Curvelo; e da Região 5, que abrange as cidades que ficam na região do Lago de Três Marias, como os municípios de São Gonçalo do Abaeté e Três Marias.

O Lago de Três Marias é onde o Rio Paraopeba desagua e termina, no município de Felixlândia, depois de percorrer mais de 12 mil quilômetros. O Lago tem uma área de 18.654,66 km². Depois de passar por Martinho Campos, Abaeté e Pompéu, o Rio São Francisco forma, junto ao Paraopeba, o Lago de Três Marias. Mais a frente, após atravessar várias comunidades, o Lago de Três Marias volta a ser Rio São Francisco, banhando os municípios de São Gonçalo do Abaeté e Três Marias, antes de seguir para o nordeste do Brasil, conforme mostra o mapa abaixo.



De acordo com o Instituto, as comunidades ribeirinhas atendidas pelo Guaicuy banhadas pelo São Francisco são Pontal do Abaeté, Vila Albana, Beira Rio, Barra do Rio de Janeiro, Silga, Ilha da Silga, Ilha do Coló, Ilha das Barreiras, Porto do Pontal, Aldeia dos Dourados, Ilha da Merenda, Escadinha, Barra do Espírito Santo e Ilha da Catuaba, além de outras localidades com ocupações humanas menores. Esse ponto específico do mapa também simboliza o limite dos territórios que foram considerados no acordo judicial de R$ 37,69 bilhões firmado entre a Vale, o Estado e as Instituições de Justiça (Defensoria Pública/MG, Ministério Público/MG e Ministério Público Federal), em fevereiro de 2021, que trata de parte da reparação dos danos provocados pelo rompimento.

“Pode parecer uma área pequena diante de todo o território atingido, se comparado com as margens do Rio Paraopeba e Lago de Três Marias, e por isso muitas vezes não ganha a devida atenção, mas diversas comunidades desses municípios contam com as águas do Rio São Francisco para atividades determinantes para seu sustento, como pesca, turismo e plantio, e relatam terem tido muitas mudanças negativas após a ruptura da barragem”, conta Hélio Sato, coordenador regional do Guaicuy.

Sato ainda frisa o fato de as comunidades retratadas no minidocumentário não serem as únicas afetadas pelo rompimento nas margens do Rio São Francisco. “Os danos chegaram nas comunidades do Rio São Francisco, os modos e reprodução de vida dessas pessoas são totalmente ligados ao rio, seja como fonte de alimento, renda, lazer e identidade. A possibilidade de contaminação do Rio São Francisco modificou negativamente e alterou toda dinâmica de vida da população ribeirinha.”

Sem auxílio

“O rompimento afetou famílias, pessoas que não têm nada a ver com aquilo, que estavam extremamente fora daquela região, e a gente continua sendo afetado mesmo depois de tanto tempo”, desabafa Adão, morador de Silga, comunidade de Três Marias. Por mais que estejam incluídos nas áreas consideradas no acordo judicial, os ribeirinhos do Rio São Francisco citados no minidocumentário não contam com o Programa de Transferência de Renda (PTR), valor que deverá ser pago mensalmente às pessoas atingidas ou prejudicadas pelo rompimento da barragem da Vale. Isso acontece porque o programa tem alguns critérios que devem ser considerados para garantir o recebimento da quantia mensal: a pessoa deve viver em comunidades que ficam até um quilômetro da margem do Rio Paraopeba, ou das margens do lago de Três Marias reconhecidas como atingidas, ou em comunidades que sofrem com desabastecimento de água, ou nas que receberam alguma obra emergencial relacionada ao desastre“.

Sobre o Instituto Guaicuy

Criado no ano 2000 por pesquisadores, professores e ativistas sociais que atuavam no projeto Manuelzão (UFMG), o Instituto Guaicuy é uma entidade não governamental associativa, cultural e técnico-científica sem fins lucrativos. Seu trabalho é desenvolver ações socioambientais, culturais e educativas voltadas para a preservação e recuperação ambiental, para a promoção da saúde e da cidadania.

Atualmente, o Guaicuy acompanha o processo de levantamento de danos e reparação das regiões 4 (Curvelo e Pompéu, na Bacia do Paraopeba) e 5 (região da represa de Três Marias: Abaeté, Biquinhas, Felixlândia, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Paineiras, São Gonçalo do Abaeté, Três Marias), afetadas pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. O objetivo principal das Assessorias Técnicas Independentes é garantir o acesso à informação e auxiliar as pessoas atingidas ou prejudicadas a participar de maneira adequada no processo de reparação dos danos que sofreram.

O instituto também presta assessoria técnica para a comunidade de Antônio Pereira (distrito de Ouro Preto), que convive nos últimos anos com o risco de rompimento da barragem de Doutor, também pertencente à Vale. Além disso, o Guaicuy conduz o Cultivando Águas, projeto que tem objetivo de divulgar tecnologias sociais de captação de água da chuva (construção de cisternas de uso coletivo).


Confira o documentário na íntegra:


MAIS INFORMAÇÕES:
Assessoria de Imprensa Instituto Guaicuy
Laura de Las Casas – Tel: (31) 9713-53685 | E-mail: laura.casas@guaicuy.org.br