O terceiro dia do Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (III SBHSF) abordou o tema “Quantidade de água e usos múltiplos”, nesta sexta-feira (11 de dezembro). O Simpósio está em sua terceira edição e ocorre de forma online com a participação de diversos especialistas de diferentes áreas.
A programação teve início com a mesa-redonda “Desafio da sustentabilidade hídrica e usos múltiplos dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do Rio São Francisco” que contou com a participação do professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Chang Hung Kiang, da professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Yvonilde Medeiros e da secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (SEMAD), Marília de Carvalho Melo. A mesa-redonda foi moderada pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Almir Cirilo.
As palestras envolveram o tema segurança hídrica que de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) é assegurar o acesso sustentável à água de qualidade, em quantidade adequada à manutenção dos meios de vida, do bem-estar humano e do desenvolvimento socioeconômico; garantir proteção contra a poluição hídrica e desastres relacionados à água; preservar os ecossistemas em um clima de paz e estabilidade política. Promover a segurança hídrica é contribuir com a manutenção da vida e deve ser o foco principal daqueles que realizam a gestão dos recursos hídricos, assim como de toda a sociedade.
O professor da UNESP, Chang Hung Kiang, apresentou os desafios da sustentabilidade hídrica na bacia hidrográfica do Rio São Francisco relacionados à irrigação e disponibilidade hídrica. “A disponibilidade da água depende basicamente do equilíbrio entre disponibilidade de água e o uso/demanda. Atualmente, dois aspectos chamam a atenção e são os que representam o grande desafio para a bacia. O primeiro é o aumento na demanda pela irrigação e o segundo é a queda na vazão dos rios afluentes (aquíferos)”, disse.
Chang Hung Kiang alertou que o Aquífero Urucuia está em risco. O palestrante apresentou os resultados de um estudo publicado recentemente pelo Journalof South American Earth Sciences. “Uma das principais causas é a superexplotação que é o bombeamento indiscriminado das águas do aquífero. Como consequência, oUrucuiaestá sofrendo um rebaixamento progressivo do nível de água em algumas porções da bacia do Alto Rio Grande, afluente do São Francisco, entre 2011 e 2018, especialmente próximo à fronteira entre Bahia, Goiás e Tocantins. A queda ocorre, provavelmente, em virtude da combinação de redução de chuvas em anos recentes e aumento de bombeamento em poços. Ainda não é possível, no entanto, definir com que intensidade cada um desses fatores está afetando o Urucuia”, explicou.
A professora Yvonilde Medeiros abordou a segurança hídrica e alocação de água. A palestrante mostrou que a água sofre diferentes pressões como o crescimento populacional, urbanização, alteração nos padrões de consumo, crescimento econômico e mudanças climáticas que tem gerado conflito.
“Os principais conflitos na bacia do São Francisco são por demanda de água para usos consuntivos e geração de energia elétrica, competição pela água pelos diversos usos consuntivos, com destaque para a irrigação pelo volume de água requerido e acentuadas variações da vazão turbinada, acarretando problemas para os ecossistemas aquáticos e uso inadequado do território na margem do rio” afirmou.
Para Yvonilde Medeiros, o ideal é utilizar os recursos hídricos com responsabilidade não apenas pela geração atual, mas pelas futuras também. “A alocação de água deverá ter por objetivo principal a segurança hídrica aos usos múltiplos, atuais e futuros, respeitando as necessidades ambientais em termos de vazões a serem mantidas nos rios”.
A secretária de Meio Ambiente de Minas Gerais, Marília Melo contextualizou a situação hídrica do estado, principalmente da bacia do Rio São Francisco. “Somos conhecidos como a caixa d’água do Rio São Francisco por produzirmos muita água para a bacia. No entanto, somos um dos estados com um alto número de áreas de conflito, situação que vem crescendo cada vez mais”, afirmou a secretária, que também destacou a preocupação com as barragens de mineração que são um ponto de atenção aos usos múltiplos.
Para Marília Melo, a segurança hídrica depende da revitalização das bacias hidrográficas e reabilitação ambiental de áreas degradadas, governança e regulação, gestão de dados e informações, gestão da variabilidade, intervenções e infraestrutura, melhora na performance do sistema de água, uso sustentável da água subterrânea, desenvolvimento de novas fontes e fontes alternativas e eficiência do uso e reuso da água.
Assista a mesa-redonda:
Hidro-complexidade: novo paradigma para os recursos hídricos
O professor da Universidade de São Carlos (UFC), Francisco de Assis de Souza Filho, apresentou a complexidade do ponto de vista dos recursos hídricos. “Vamos entender quais são as redes de relações nos recursos hídricos para melhor gerenciar a água que é um recurso cada vez mais escasso”, afirmou.
O palestrante mostrou o que são questões simples e complexas nos recursos hídricos. “Os seres humanos mudaram a resposta hidrológica de muitas bacias hidrográficas do mundo através de um ou mais dos seguintes meios: 1) retirada direta dos fluxos de água, incluindo transferências entre bacias para suprimentos de água para cidades, indústrias e agricultura; 2) transformação da rede de riachos, por exemplo, através da construção de barragens e reservatórios ou canalização de rios; 3) alteração das características da bacia de drenagem, por meio do desmatamento, urbanização, drenagem de áreas úmidas e práticas agrícolas e 4) atividades que alteram o clima regional ou global, melhorando as emissões de gases de efeito estufa, as mudanças de cobertura da terra e o volume de água consumido”.
Francisco de Assis mostrou também que os seres humanos influenciaram fortemente a qualidade física, química e biológica de córregos, lagos e massas de águas subterrâneas através de vários tipos de fontes difusas e pontuais de poluição.
Assista a palestra:
O III SBHSF tem como tema “A importância da Ciência para o futuro do Rio São Francisco”, é uma iniciativa do Fórum de Pesquisadores de Instituições de Ensino Superior da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (Fienpe) e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). O evento é transmitido no canal do CBHSF no Youtube.
A programação do evento conta ainda com apresentações orais e painéis, palestras e mesas-redondas nesta semana nos dias 14, 16 e 18 de dezembro.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio