Em seminário sobre uso e preço da água no setor elétrico, presidente do CBHSF destaca ecossistema como peça-chave

29/11/2019 - 11:05

A dificuldade de calcular o valor da água e adequar seu uso às demandas em caso de escassez foi o ponto de partida para o seminário “Disputa pelo uso da água e sua precificação para o Setor Elétrico”, realizado nesta quinta-feira (28), na Folha de S.Paulo. O evento, promovido pelo Instituto Escolhas, com o apoio do Instituto Clima e Sociedade, contou com o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, como debatedor. Ele ressaltou a importância de considerar o ecossistema e o universo da oferta, e não só o da demanda, na discussão.

O seminário abriu com a apresentação do estudo “Setor Elétrico: como precificar a água em um cenário de escassez”, realizado pelo Instituto Escolhas.A investigação mostrou que a escassez de água na bacia do rio São Francisco resultaria em prejuízo anual de R$100 milhões para termelétricas e de R$2,5 bilhões para hidrelétricas.
Rafael Kelman, diretor da PSR Consultoria e Soluções em Energia, destacou que o custo da água deve ser considerado no planejamento do setor elétrico, levando em conta o nível de criticidade dos reservatórios da área em que uma termelétrica se localiza e o consumo de água do sistema de resfriamento da usina.

Na mesa “Energia e Alimento: soluções para a convivência em um cenário de escassez de água”, Anivaldo Miranda afirmou que é preciso uma repactuação que valorize o ecossistema enquanto um dos elementos-chave dessa equação, mas que constantemente fica fora do debate. “Os usos antrópicos das águas da bacia do São Francisco precisam se adaptar a suas características naturais, e não o contrário – querer que a bacia se adapte aos modelos de crescimento econômico”.

O presidente do CBHSF ressaltou a necessidade de incluir os usuários e a sociedade civil no diálogo para vencer os grandes desafios do setor. “É preciso que os usuários das águas, a sociedade civil, a academia, os ribeirinhos, os povos tradicionais e todos os navegantes sejam levados em consideração e que o poder público assuma seu papel de liderança dentro desse processo”, afirmou.


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Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, salientou o desconhecimento sobre a quantidade de água nos reservatórios, a intensificação da disputa pelo seu uso e o baixo preço pago pela água no Brasil. “A gente é um país que só se reúne na hora da crise – e olhe lá”, disse, destacando a necessidade de pensar o problema antes da crise acontecer.

Também na mesa esteve a ex-presidente da Sabesp e ex-diretora da ANA, Dilma Pena. Para ela, mesmo após quase vinte anos de fundação da ANA, a unidade geográfica de planejamento da bacia hidrográfica ainda não se efetivou e a outorga e a cobrança não são aplicadas com os mesmos critérios.

No outro debate do seminário, estiveram a vice-presidente do Conselho da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Solange David, e o presidente do Fórum das Associações do Setor Elétrico, Mário Menel, que discutiram, entre outros temas, a judicialização da questão dos riscos hidrológicos e a falta de governança dos recursos hídricos.

 

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto e fotos: Gabriel Hoewell