Depois de um ano, Tribo Pankará comemora mudança de vida com chegada da água

02/06/2020 - 10:38

“Um marco na história dos Pankará do Serrote dos Campos”. É assim que define a agente de saúde Pankará, Genice Menezes. Ela se refere a obra que está garantindo água na torneira da tribo Pankará na Aldeia de Serrote dos Campos, em Itacuruba, Pernambuco, que já completou 14 meses de funcionamento. Para quem sonhou e batalhou por longos anos para o que hoje é realidade, o sentimento é de gratidão. A construção da adutora tem garantido a mais de 400 índios um direito básico, o acesso à água potável.

O Sistema de Abastecimento de Água conta com a captação feita no lago de Itaparica através de uma adutora, estação de tratamento, rede de distribuição, e ramal para a irrigação.Os Pankará são um povo com raízes essencialmente agrícolas, atividade que eles não conseguiram desenvolver nos últimos 12 anos, tempo em que a comunidade indígena ocupa o atual território, após deixar a localização originária de Itacuruba, submersa pelas águas com a construção da usina hidrelétrica de Itaparica.

Mesmo apenas cerca de oito quilômetros do Rio São Francisco, a tribo dependeu, durante mais de uma década, de carros-pipa. A obra, custou aproximadamente R$ 4,5 milhões, financiada integralmente pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco com recursos oriundos da cobrança pelo uso da água do Rio São Francisco.“Após um ano de conclusão da obra da adutora, a vida mudou significativamente para melhor. Hoje temos uma pessoa da própria tribo contratada para fazer o tratamento da água e a distribuição. Com isso a gente não precisa mais passar pelo constrangimento de pagar o caminhão-pipa e mesmo assim ficar esperando, dia após dia, pelo abastecimento. Todos nós temos acesso a água boa e de qualidade”, explicou a liderança Pankará, Rafael Neilson.


Veja fotos do sistema de abastecimento que foi inaugurado no início do ano passado: 


O índio contratado para fazer o tratamento e a distribuição da água, citado por Rafael, recebeu capacitação e é hoje funcionário da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). Ele se encarrega da distribuição da água que é feita em dois turnos de três horas cada. O sistema tem projeção para atender a tribo pelos próximos 20 anos, considerando o crescimento populacional da aldeia que, segundo a estimativa, é de que no ano de 2034 a tribo contabilize 741 índios.

“Somos muito gratos ao Comitê por ter nos contemplado com a adutora. Há mais de 12 anos a gente vivia nesse território dependendo da água que os carros-pipa traziam. Já chegamos a passar meses sem o abastecimento, à mercê da espera já que os caminhões têm a programação de várias localidades para atender. Não tinha água nem para beber e hoje estamos tranquilos com esse bem tão grande que conquistamos. É uma alegria acordar e já saber que temos água para fazer as atividades domésticas, quem tem sua horta pode cultivar. É maravilhoso acordar e saber que tem água na torneira e que não é preciso mais enfrentar uma fila imensa. Somos muitos gratos”, destacou a Cacique Pankará, Cícera Leal.

Com a água disponível, já é possível voltar a plantar. O projeto da comunidade é iniciar uma horta comunitária que vai gerar renda para a tribo através do beneficiamento dos produtos e sua venda, mas enquanto finalizam a ideia, muitas famílias já conseguem fazer suas pequenas plantações para subsistência. A tribo recebeu orientações sobre a implementação de um projeto irrigado como forma de garantir a sustentabilidade na aldeia. As orientações foram passadas por equipe de professores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e do Instituto Federal do Sertão (IF Sertão).



“Após um ano da entrega desse importante equipamento à comunidade Pankará, do Serrote dos Campos, que, após mais de 15 anos de luta, começaram a receber água potável em suas residências, temos a certeza absoluta de que o CBHSF, dessa forma, contribui para viabilizar e garantir a sustentabilidade hídrica, alimentar, ambiental e a melhor qualidade de vida. Essa obra proporcionou um marco com a chegada da água potável às famílias indígenas daquela aldeia e ainda proporcionará a implantação de projetos de produção agrícola, a partir do uso da água bruta, que já se encontra disponível, para que possam, nas suas próprias terras, cultivar produtos agrícolasa exemplo de legumes, frutas e verduras, tornando ainda mais eficiente o uso dessa água que hoje chega à comunidade, agregando também valor e dando sustentabilidade a esse grande e importante empreendimento realizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco”, finalizou o Coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Julianelli Lima.

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Juciana Cavalcante e Nicy Menezes