O rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), no último dia 25 de janeiro, foi tema de palestra realizada na tarde desta quarta-feira (20 de fevereiro) durante o 1º Encontro de Engenharia de Energias Renováveis. O evento, realizado no Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), contou com a participação do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda.
O professor Valmir de Albuquerque Pedrosa, da Ufal, apresentou dados com o olhar da engenharia em relação aos danos provocados pelo rompimento da barragem. “Esse desastre mostrou o estágio em que se encontra a engenharia. Questionamentos feitos logo após esse cenário caótico, como a velocidade do deslocamento dos rejeitos, foram respondidos com rapidez pela engenharia”, afirmou Pedrosa.
Ele também apresentou a grandiosidade do Rio São Francisco, que reúne usos múltiplos de suas águas. “O São Francisco é um rio fabuloso e logo após o que aconteceu em Brumadinho foram muitos os questionamentos, a exemplo de como será a sua sobrevivência, como será a vida dos peixes, e muito mais”, acrescentou Valmir Pedrosa. “E estamos falando de um problema que deixou danos irreparáveis a famílias. Em alguns trechos, a lama de rejeitos chega a vinte metros de profundidade. Muitas das vítimas nem serão sepultadas dignamente”, finalizou o professor.
Logo em seguida, o presidente do CBHSF apresentou sua visão do crime ambiental cometido em Brumadinho para o público formado por alunos de engenharia e agronomia, professores e pesquisadores da Ufal. “O cenário é desolador. Já houve o outro dano registrado em Mariana, moradores de cidades próximas são acordados durante a madrugada para evacuação, o que mostra que o estado de Minas Gerais é uma bomba-relógio”, relatou Anivaldo Miranda. “Por negligências diversas, quase 300 pessoas mortas e desaparecidas”, acrescentou.
Valmir de Albuquerque Pedrosa, da Ufal (à esquerda). Anivaldo Miranda, presidente do CBHSF (à direita). Crédito: Delane Barros
Miranda também procurou alertar para a necessidade de atenção especial aos temas ambientais, especialmente no momento em que se defendem práticas como a flexibilização das decisões nessa área. E explicou quais os pontos que o CBHSF apresenta como cobranças diretas à Vale, empresa responsável pela barragem que se rompeu. “O Comitê tem agido, como sempre, com muita prudência. Queremos que o governo obrigue a Vale a utilizar a melhor tecnologia no mercado para impedir o deslocamento da pluma de rejeitos; além disso, cobramos que as análises da água, especialmente no aspecto da química, sejam feitos com absoluta transparência; e que seja prestada toda a assistência à população ali residente”, pontuou o presidente do Comitê.
Anivaldo Miranda também alertou que o São Francisco tem, pelo menos, dez graves ameaças e, se ocorrer algo parecido com o que aconteceu com o Rio Doce, atingido pelo rompimento da barragem de Mariana, os danos serão catastróficos, conforme Miranda. O motivo, segundo ele, é que muitos municípios e estados dependem diretamente do Velho Chico para o abastecimento humano. “Caso aconteça um acidente como o do Doce, como irá atender a tantas pessoas para abastecimento de água?”, questionou.
Ele confirmou o planejamento do CBHSF em realizar, num curto espaço de tempo, um grande seminário para alertar sobre esses perigos. Miranda também revelou que existem, atualmente, 24 mil barragens, enquanto que, somados os fiscais da Agência Nacional de Águas (ANA), Agência de Mineração e do Ibama, não chega a uma centena.
Após as palestras, o público apresentou perguntas focadas em segurança hídrica, identificação de sedimentos encontrados após o rompimento da barragem e sobre a sobrevivência do São Francisco e seus afluentes.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Delane Barros
Fotos: Delane Barros/Robson de Oliveira