Nego d’Água e Iara estão banhados pela água no Submédio São Francisco, em um cenário que não se via desde 2009

12/05/2020 - 14:38

A imagem do Rio São Francisco está há alguns meses diferente, em muitas cidades por onde ele passa. Isso porque, com as fortes chuvas que caíram no país no início do ano, o volume do Velho Chico aumentou. Em Juazeiro, norte da Bahia e cidade-irmã de Petrolina, em Pernambuco, a mudança fica perceptível devido as esculturas do Nego d’Água, instalada no lado baiano e da Iara ou Mãe d’Água, fixada no lado pernambucano.

Esculpidas pelo artista Lêdo Ivo, as estátuas representam as inúmeras lendas que cercam as águas do São Francisco. O Nego d’Água foi colocado no rio em 2003 e segundo a lenda, a figura folclórica vive em diversos rios e se manifesta com suas características gargalhadas. Negro, careca e com as mãos e pés de pato, o Nego d’Água derruba as canoas dos pescadores se eles se negarem alhe dar um peixe. Em alguns locais do Brasil, a cachaça também pode servir de barganha. Já a Iara, também conhecida como Mãe d’Água,significa “aquela que mora nas águas”, e, segundo a lenda, éuma sereia (metade mulher, metade peixe) que com seus longos cabelos emite uma melodia que atrai os homens, que ficam rendidos e hipnotizados com seu canto e sua voz doce.

As criaturas, que segundo as lendas habitam as águas do Velho Chico, desde que foram colocadas no rio em forma de escultura, passaram a maior parte do tempo fora da água, como é o caso do Nego d’Água. Já a Iara, colocada mais para dentro do Rio em 2012, período de uma das maiores estiagens já registradas, ficou até este ano rodeada pelas águas, mas sem tocá-las.



Escultura da Iara ou Mãe d’Água, fixada no lado pernambucano


A guia de turismo Tânia Nogueira, que tem uma relação muito próxima com o São Francisco, não só pela sua profissão, mas também pessoalmente, comenta: “Ver o São Francisco com esse volume de água, como não se via há alguns anos, dá um sentimento de renovação da esperança. A gente precisa entender que preservar o Rio está diretamente ligado à preservação da vida e entendo essa relação de maneira permanente. A gente usa alguns pontos como referência de quando temos muita água e um deles são os monumentos Negod’Água e Iara, porque ali a gente percebe ao longo desse tempo de estiagem que a água não chegava a banhá-los”, destacou.

De acordo com o diretor de Operações da Chesf, João Henrique de Araújo, as perspectivas apontam que a hidrelétrica de Sobradinho, que hoje libera uma vazão de 1.400m³ por segundo, deve chegar ao final do atual período úmido com 95% da capacidade total. Segundo a última atualização (09.05.2020) do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o reservatório de Sobradinho armazena mais de 93% de volume útil.

O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Julianeli Lima,enfatiza a importância de cuidar para continuar dispondo de água em quantidade e qualidade. “As esculturas eram referências do período prolongado de seca onde víamos o distanciamento da água delas. Agora, com esse maior volume em consequência das chuvas principalmente no oeste da Bahia e norte de Minas, a água banha as esculturas e isso é um alento para quem esperava pelas águas, porque é fonte de riquezas e da vida, principalmente dos ribeirinhos. Por isso precisamos reforçar a importância de valorizar a proteção desse manancial e de todos os afluentes”, concluiu o coordenador.


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Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Juciana Cavalcante e Marcizo Ventura