Coordenadores do CBHSF avaliam participação no 10º Fórum Mundial da Água

27/05/2024 - 14:45

Após uma semana intensa de programação e troca de experiências, o 10º Fórum Mundial da Água se encerrou na última sexta-feira (24), na Indonésia. Representando o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, os coordenadores das Câmaras Consultivas Regionais do Alto e Submédio São Francisco, Altino Rodrigues e Cláudio Ademar, participaram de dois painéis apresentando algumas das ações do CBHSF com os povos indígenas e comunidades tradicionais e a articulação no combate à desertificação.


Na sessão “A Importância dos Povos Tradicionais e das Comunidades Locais para a Gestão de Recursos Hídricos”, coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), participaram o coordenador da CCR Alto São Francisco, Altino Rodrigues, o diretor da Divisão de Ciências da Água da Unesco e secretário do Programa Hidrológico Intergovernamental (IHP), Abou Amani; o coordenador do Programa de Infraestrutura The Nature, Christian Contreras Otiniano, e o pesquisador do Institute for Water Education – IHE-Delft em Alocação de Água e Instituições, Jonatan Godínez. As discussões tiveram a moderação do representante da UNESCO, Ricardo Burg.

O debate teve como foco a gestão eficaz dos recursos hídricos que deve adotar uma estratégia abrangente reconhecendo os estilos de vida, culturas, economias e bem-estar geral dos povos tradicionais e comunidades locais que acumulam conhecimentos essenciais para a proteção e uso sustentável da água. Considerando que os territórios onde vivem os povos tradicionais são áreas conservadas, com grande biodiversidade e ambientes aquáticos complexos, a preservação ambiental, a justiça socioambiental e a justiça climática avançam ao incorporar esse conhecimento nas estratégias de gestão dos recursos hídricos. “Essa abordagem visa garantir que os benefícios dos recursos hídricos sejam distribuídos de forma justa e que os costumes tradicionais relacionados à água sejam mantidos enquanto protegem os ecossistemas. Além disso, a capacidade dessas comunidades de manter sua viabilidade econômica frequentemente depende diretamente de suas habilidades para gerir e usar os recursos hídricos locais. Nesse sentido, destaca-se o ODS 6, Meta 6.8: Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais na melhoria da gestão da água e do saneamento. Portanto, os debates e decisões sobre governança e gestão da água devem incluir as perspectivas e necessidades dos povos tradicionais e das comunidades locais reconhecendo seu papel como guardiões dos recursos naturais”, afirmou a UNESCO.

Os palestrantes abordaram temas sobre o papel que os povos e comunidades tradicionais desempenham na conservação ambiental e na gestão de recursos naturais e sobre a importância da promoção de políticas que garantam a distribuição equitativa dos benefícios da governança e gestão dos recursos hídricos e o fortalecimento de parcerias entre governos, organizações não governamentais, comunidades acadêmicas e povos e comunidades tradicionais.

Para o coordenador da CCR Alto São Francisco, Altino Rodrigues, a apresentação do trabalho desenvolvido pelo CBHSF com as comunidades tradicionais da bacia gerou impacto e garantiu propostas de parcerias. “A apresentação reverberou muito positivamente a ponto de despertar elogios dos observadores sobre a maneira como o CBHSF tem conduzido o tema. Basta dizer que fui procurado por algumas instituições para discutir possíveis parcerias em ações na bacia. Outro ponto relevante foi a participação dos representantes do Comitê com observações e questionamentos que apresentaram a perspectiva do Comitê sobre os mais diversos temas expostos. Em resumo avalio que a participação do CBHSF neste 10º Fórum Mundial das Águas foi muito relevante do ponto de vista de troca de experiências, conhecimento e ampliação de network”.


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Desertificação

Na sessão “A água como ponte entre a Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) e a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD)”, moderada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e Programa Hidrológico Intergovernamental (IHP) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), palestraram o coordenador da CCR Submédio, Cláudio Ademar, Flávia Rocha Loures, da rede colaborativa The Nature Conservancy e Birguy Lamizana, chefe da Unidade de Política Global, Advocacia e Cooperação Regional da UNCCD. O painel foi coordenado pelo diretor da Divisão de Ciências da Água da Unesco e Secretário do Programa Hidrológico Intergovernamental (IHP), Abou Amani.

Assim como tem sido uma preocupação para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco os impactos das mudanças climáticas na bacia, a UNFCCC aborda principalmente medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Nesse contexto, a água desempenha um papel crucial na dinâmica das mudanças climáticas. “Alterações nos padrões de precipitação, derretimento de geleiras e ciclos hidrológicos alterados são todas consequências das mudanças climáticas. Essas mudanças têm efeitos profundos na disponibilidade, qualidade e distribuição da água, impactando ecossistemas, agricultura e populações humanas. Ao abordar as mudanças climáticas, a UNFCCC influencia indiretamente a gestão dos recursos hídricos. A gestão da água, por sua vez, está intimamente ligada à degradação da terra. A desertificação, um processo pelo qual a terra fértil se torna deserto devido a vários fatores, incluindo mudanças climáticas, práticas insustentáveis de gestão da terra e escassez de água, agrava o estresse hídrico. Por outro lado, a escassez de água pode acelerar a desertificação ao reduzir a cobertura vegetal e a umidade do solo”, explica a UNCCD que visa combater a desertificação e mitigar os impactos da seca por meio de práticas sustentáveis de gestão da terra.

A UNCCD enfatiza a importância da adaptação e do fortalecimento da resiliência às mudanças climáticas e à degradação da terra buscando aumentar a resiliência hídrica por meio de medidas como conservação da água, captação de água da chuva, práticas sustentáveis de irrigação e restauração de ecossistemas.

Alguns exemplos foram apresentados como mecanismos de adaptação climática como a elaboração de projetos de reflorestamento auxiliando no sequestro do dióxido de carbono e melhoramento da retenção de água nos solos, combatendo a desertificação e melhorando a disponibilidade de água. Iniciativas comunitárias como captação de água da chuva, agrofloresta e conservação do solo também contribuem para a gestão sustentável da água e esforços de reabilitação da terra, entre outras iniciativas.

O coordenador da CCR Submédio, Cláudio Ademar, destacou o combate à desertificação na gestão das águas na Bacia do Rio São Francisco com a criação do grupo de trabalho no âmbito do CBHSF com participação de diversos atores do Governo Federal. “No Fórum Mundial da Água reforçamos que não estamos sozinhos, isolados nessa discussão e o Comitê, na sua defesa do Velho Chico, precisa, ainda mais, ultrapassar a política pública apenas do território da bacia hidrográfica. Aprendi muito em todas as discussões e ouvi que a água não se limita às fronteiras, administração e políticos. A água precisa ser cuidada não só para aqueles da bacia nos territórios municipais, estaduais e do governo federal. Precisamos entender a água de forma global, porque ela une todos os seres vivos na relação com a terra. Então, este foi um momento fantástico de aprendizado, informação, troca de experiência e de percepção de que a gente precisa estar integrado com organismos internacionais na construção da política pública. No Brasil, precisamos construir políticas sobre a desertificação onde a situação mais grave atinge Pernambuco e nesse sentido, entre todas as tecnologias já conhecidas, podemos dispor do crédito de carbono e o pagamento por serviços ambientais”.

Participaram dos painéis representantes de governos, diplomatas hídricos, instituições de gestão de recursos hídricos, comunidades tradicionais e indígenas, investidores, agências de desenvolvimento e sociedade civil.


Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Juciana Cavalcante
Fotos: Altino Rodrigues Neto; Cláudio Ademar; Divulgação