Comunidade na Bahia denuncia danos de parques eólico e solar

16/06/2025 - 19:55

Segundo a vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, Luciene Barros, a comunidade de São Bento, distrito de Ourolândia – BA está enfrentando diversos problemas devido aos impactos do crescimento da empresa Casa dos Ventos, responsável por empreendimentos de energia renovável na região que ainda abrange os municípios de Várzea Nova e Morro do Chapéu – BA.


Os moradores do povoado de São Bento e áreas adjacentes relatam graves impactos ambientais e sociais causados pela implantação dos parques eólicos e solares da empresa, com denúncias que vão desde danos à aquíferos até a perda da qualidade de vida básica.

A denúncia mais grave vem do processo de implantação de um parque solar no Morro da Babilônia. A vice-presidente do CBH Salitre relata que, há cerca de um mês, as obras atingiram o lençol freático. “Quando estavam fazendo suas escavações, se depararam com um bolsão de água, que nada mais é do que nosso aquífero”, explica.

Segundo ela, estudos prévios identificavam a área como de recarga de água, mas a empresa apresentou estudos “fragmentados” e não realizou sondagens adequadas no local específico onde o aquífero foi atingido. “É recorrente essa situação, com certa frequência ao realizarem as escavações a água brota e eles tampam. A preocupação é de que a água, uma vez liberada e mal drenada, se perca, afetando nascentes permanentes e o abastecimento hídrico local que historicamente já é um problema grande na bacia do rio Salitre, e uma visita técnica ao parque constatou a ausência de sondagens na área crítica”, afirmou.

Caos Logístico e Perda de Sossego

Enquanto isso, a operação dos parques eólicos, segundo a vice-presidente, transformou a rotina do povoado de São Bento que, embora esteja parcialmente pavimentado, sofre com a intensa circulação de veículos. “Somos a comunidade mais impactada do território”, afirma Luciene, que reside no local. A estrada que corta o povoado tornou-se rota obrigatória para os caminhões e veículos pesados da empresa. “Todos os carros da eólica passam no meio do nosso povoado constantemente, das quatro horas da manhã até dez da noite.”

O tráfego intenso e descontrolado trouxe consequências para a vida comunitária. “Não temos mais sossego, nem dignidade mínima. Os animais (cachorros, cabras, galinhas) são frequentemente atropelados. Às crianças estão confinadas, devido ao tráfego intenso, além disso a poeira levantada pelos veículos está agravando problemas respiratórios em uma população composta prioritariamente por idosos e crianças”, afirma Luciene sobre a comunidade que conta com mais de 300 pessoas.


Comunidade denuncia questões relacionadas à implantação de parques eólico e solar 


Desmatamento

Luciene menciona ainda o desmatamento de 400 hectares associado aos projetos. Apesar da gravidade das denúncias, os moradores se sentem ignorados. “Até o momento não tivemos nenhuma devolutiva”, lamenta a vice-presidente do Comitê. A empresa foi procurada pela comunidade para discutir soluções e um grupo do CBH foi recebido onde conheceram o projeto apresentado pela equipe ambiental.

No entanto, os moradores de São Bento sintetizam uma contradição: “Pensávamos que seria um parque pequeno, mas hoje se tornou uma grande estrutura que sufoca a comunidade que deveria ser beneficiada pela energia renovável”, concluiu.

A reportagem tentou contato com a Casa dos Ventos para posicionamento sobre as denúncias, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto para eventual esclarecimento.


Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Imagens cedidas pelo CBH Salitre