
Comunidade no município de Floresta recebe iniciativa que une conservação, segurança hídrica e desenvolvimento sustentável, com foco em tecnologias alternativas.
A comunidade indígena Pipipã, no município de Floresta, em Pernambuco, recebeu oficialmente a conclusão do projeto “Zelando e Cuidando da Mãe Terra: O retorno que a terra pode nos dar”. O encerramento dos trabalhos foi formalizado durante o seminário final realizado na última sexta-feira (12). Com um investimento de mais de R$ 1,2 milhão, provenientes da cobrança pelo uso da água, a iniciativa foi integralmente financiada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e realizada pela EW2 Engenharia – empresa contratada pelo CBHSF por meio da Agência Peixe Vivo, representada pelo engenheiro civil Warney Francisco.
O projeto que visa aumentar a disponibilidade hídrica, promover a conservação de Áreas de Preservação Permanente (APPs), melhorar a qualidade da água e diminuir o assoreamento na região, teve a proposta, apresentada pelo cacique Valdemir Lisboa, sendo selecionada via Edital de Chamamento Público nº 01/2018 do CBHSF.
As ações contemplaram a construção de barraginhas e cercamento de áreas nas Aldeias Caraíbas e Capoeira do Barro. Além disso, foram implantados Sistemas Agroflorestais (SAFs) nas Aldeias Caraíbas, Faveleira, Aldeia Capoeira do Barro e Travessão do Ouro, visando a preservação ambiental e a fruticultura sustentável, instalação de barragens subterrâneas para aumentar a disponibilidade hídrica no subsolo e o cercamento de Áreas de Preservação Permanente, além da adequação de estradas rurais para diminuir o carreamento de sedimentos e reabastecer os aquíferos.
Tecnologias alternativas e um processo de anos
Para o cacique Valdemir Lisboa, a iniciativa tem um significado profundo nascido de sua experiência pessoal e de uma militância de longa data. “Eu, enquanto biólogo, via a necessidade dos criadores que precisavam manter seus rebanhos, ao mesmo tempo que havia aquela agressão à Caatinga”, explica. “Passei a admirar tecnologias alternativas que não vêm de grandes centros de pesquisa, mas de organizações sociais que, diante de suas necessidades, criam suas soluções.”
O cacique relembrou o processo de submissão do projeto até a execução, ressaltando sua confiança nas tecnologias de convivência com a seca. Para a comunidade, o objetivo é criar uma reserva de alimento para os animais, com plantações de frutas como caju, goiaba, evitando a necessidade de cortar a vegetação nativa como o mandacaru.
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Parcerias e o futuro da revitalização
O seminário também contou com a participação de Fernando Acioli, representante da Agência Pernambucana de Águas de Clima (APAC), que destacou a importância de aprender com os resultados do projeto. “É importante a gente conhecer projetos dessa linha de atividade de recuperação para essa região”, afirmou. Ele citou o Programa Estadual de Revitalização de Bacias Hidrográficas, desenvolvido pela APAC, que atua na mesma linha de trabalho, com ações focadas nas bacias prioritárias do Rio Moxotó e do Rio Ipanema, além de um futuro projeto de recuperação para a nascente do Rio Pajeú.
Representando a Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Elias Silva celebrou o projeto como uma “gota de esperança” e reforçou seu simbolismo. Ele lembrou que a entrega da iniciativa coincide com o aniversário de 25 anos da Bacia do Rio Pajeú, o único comitê constituído em Pernambuco. “O Comitê do São Francisco é um cobertor curto, a gente não pode abraçar e cobrir todas as ações, mas a gente tem que pegar ações como essas servindo de exemplo para que outras entidades possam abraçar e trazer mais ações aqui para a região”, disse.
Pietra Alcântara, engenheira ambiental da Gama Engenharia, empresa responsável pela fiscalização, enfatizou o papel técnico do seu trabalho, mas também a importância de respeitar a cultura e a comunidade. “Não apenas olhar o atendimento da especificação técnica ou ambiental, mas também ter esse olhar para a comunidade, para a cultura e para a região”, comentou.
O coordenador técnico da Agência Peixe Vivo, Paulo Sérgio da Silva, forneceu o contexto histórico do projeto, que teve seu edital publicado em 2018. Ele reforçou a necessidade de continuidade do trabalho, agora, por parte da comunidade. Ele defendeu que o projeto sirva de modelo para ser replicado por outros entes e poderes públicos.
A voz da comunidade e a esperança de um futuro mais verde
Ainda participaram do evento representantes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Prefeitura de Floresta que parabenizaram a comunidade indígena e reforçaram seu compromisso e disponibilidade com o território.
Beneficiado pelas obras, o produtor Ademir João da Silva, descreveu os impactos diretos em seu território. “Foram plantados caju, jaca, pitanga, entre outros e, depois que crescerem, além de mudar a paisagem, todo esse alimento pode ser uma fonte de renda para nossa família”, relatou. Ele expressou sua esperança de que a vegetação se torne uma “minifloresta” e que a barragem ajude as plantas a se desenvolverem. “Vai trazer sombra”, afirmou, ressaltando os benefícios práticos.
Profundo conhecedor dos problemas que avançam ano a ano na Caatinga, que mudam não só o cenário, mas o comportamento humano, uma das lideranças da Aldeia Caraíbas, Antônio Xavier de Souza, com uma rara consciência ambiental embasada nos saberes ancestrais, reforçou o seu compromisso com a comunidade e especialmente com o projeto. Ele relembrou a longa espera e a satisfação com a conclusão dos trabalhos. “Para a gente, da comunidade da Aldeia Caraíbas, foi um privilégio ter esse projeto porque realmente vai nos beneficiar hoje e ainda mais amanhã. Teremos sucesso com esse projeto”, disse. Ele concluiu pedindo que todos recebam a iniciativa como uma ação do povo e se comprometam a zelar pela sua manutenção.
Rio Pajeú
Inseridos no território da bacia hidrográfica do Rio Pajeú, o povo Pipipã está na região semiárida onde os rios têm regime intermitente, dependendo das chuvas para se manterem em curso. O Rio Pajeú é perene, exceto em secas prolongadas, sendo a maior bacia do estado, com aproximadamente 16.685,63 km², o que corresponde a 16,97% da área de Pernambuco.
“No Dia Municipal do Pajeú, celebrado no último dia 13 em 14 municípios, falamos sobre a importância do resgate das línguas originárias. O professor Alberto, do Instituto Histórico e Geográfico do Pajeú, mencionou que vários relatos e livros trazem expressões utilizadas pelos Pipipãs, que viveram e vivem na bacia do Pajeú. Principalmente na nascente, ou como chamamos, na ‘cabeça do Pajeú’, eles usavam termos originários para se referir a conceitos como ‘abraço do rio’ ou ‘encontro do rio’ e ‘cabeça do Pajeú’, tratando este último como a nascente.
As comemorações aconteceram a partir da cidade de Brejinho, nascente do Pajeú, onde dois projetos hidroambientais foram financiados pelo CBHSF. “O trabalho prestado pelo Comitê do São Francisco está cumprindo sua função. Na barraginha Nim de Perua, que tem uma grande função, essencial para a infiltração da água no solo tem sido importante para o município, além da barragem trincheira e o dia do Rio Pajeú celebra isso”, afirmou Adriano Dantas de Oliveira, Engenheiro Ambiental e membro do Comitê da Bacia do Rio Pajeú.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Juciana Cavalcante