Os segundo e terceiro dias de atividades do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém do Pará, foram marcados pela busca por fortalecimento de parcerias, participação em debates de alto nível sobre a gestão hídrica global e o lançamento de uma iniciativa estratégica: o Mutirão pelo Rio São Francisco.
No dia 11, a diretoria do Comitê visitou a Embarcação de Apoio Fluvial nº 1 (EApFlu1) da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), atracada em Belém. Batizada como “Uiara” (“mãe d’água”), a embarcação é a primeira nacional projetada para o monitoramento das águas na bacia Amazônica, consolidando uma parceria entre ANA, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) e a Marinha do Brasil.
O vice-presidente do CBHSF, Altino Rodrigues, destacou a importância da visita para o Velho Chico. “A participação do Comitê no lançamento do barco de monitoramento da ANA aqui na região Amazônica só vem fortalecer as parcerias que já temos junto com o Serviço Geológico do Brasil e a própria Agência Nacional. O que mostra a sua importância não apenas na bacia Amazônica, mas também na bacia do São Francisco, e a gente pretende ampliar isso e ver de que maneira podemos colaborar. O monitoramento é hoje um mantra; sem monitoramento não se tem informação para fazer gestão.”
A ANA coordena a Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN), com mais de 4,5 mil estações em todo o Brasil, sendo o fortalecimento da gestão de dados essencial para a segurança hídrica do São Francisco.
Água no centro da Agenda Climática Global
O presidente do CBHSF, Cláudio Ademar, participou do evento Ministerial de Alto Nível “Águas de Mudança – Traçando Caminhos Resilientes e Sustentáveis” na Blue Zone que buscou consolidar a água como elemento fundamental da agenda climática global, conectando resultados de COPs anteriores com futuros processos internacionais, como a revisão do ODS 6 (Água Potável e Saneamento) em 2026.
Cláudio Ademar ressaltou as principais conclusões do encontro, que contou com a presença de ministros do Brasil (como Waldez Góes, do MDR, e Márcia Lopes, Ministra das Mulheres) e autoridades internacionais:
- Gestão Compartilhada: O Ministro Waldez Góes enfatizou que a gestão dos recursos hídricos precisa ser aprimorada e compartilhada com os Comitês de Bacia, que representam a sociedade, incluindo as comunidades tradicionais.
- Avanço da Execução: Foi consenso entre os ministros que é urgente avançar para a execução direta de ações, abandonando a fase de planejamento, que se estendeu por muitas COPs.
- Alerta de Consumo: A previsão de um aumento de 30% no consumo mundial de água até 2035 reforça a necessidade de aprimorar as ferramentas de gestão hídrica, como o enquadramento de recursos hídricos e o monitoramento.
Veja mais fotos do segundo dia:
Reconhecimento Internacional: intercâmbio com o oriente médio
Em um sinal do reconhecimento global das práticas do CBHSF, o presidente Cláudio Ademar recebeu Marwa Al Mahruqi, da Petroleum Development Oman (PDO). A executiva de Omã busca soluções hídricas devido à escassez em sua região.
O CBHSF apresentou seu projeto de sucesso na Serra dos Morgados (Jaguarari-BA), resultando no planejamento de um intercâmbio para compartilhar o know-how ambiental do São Francisco com o mundo árabe. “Você percebe que tem uma comunidade, um país árabe, procurando as experiências do Comitê. Isso comprova que estamos no caminho certo. Nossos projetos ambientais na bacia de São Francisco trouxeram resultados excelentes”, afirmou Cláudio Ademar.
Lançamento do “Mutirão pelo Rio São Francisco”
Um dos pontos altos do estande nesses dias 11 e 12 foi o lançamento do Mutirão pelo Rio São Francisco, liderado pelo Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), por meio do coordenador executivo, Sérgio Xavier.
A iniciativa visa criar uma grande transformação nos modelos econômicos que hoje geram impacto ambiental e não resolvem a desigualdade social. A metodologia do Mutirão busca a regeneração da Caatinga e do Rio São Francisco por meio da reformulação das cadeias produtivas.
O Conceito: Mutirão (palavra indígena que significa “todo mundo junto para resolver um problema”) mobiliza diversos setores da sociedade para reinventar a economia da bacia hidrográfica.
A Metodologia Envolve:
- Análise de cadeias produtivas e seus impactos.
- Desenvolvimento de modelos econômicos regenerativos.
- Definição de responsabilidades (governos, universidades, empresas) para a execução.
- Busca por política pública e financiamento.
- Foco em regiões integradas pelos quatro estados: Sergipe, Bahia, Alagoas e Pernambuco.
Sérgio Xavier, que também é Enviado Especial da COP 30 e coordenador da Câmara de Participação Social do Comitê Interministerial de Mudança do Clima, destacou que a iniciativa usará a representatividade do CBHSF para levar propostas de ação e desenvolvimento econômico sustentável diretamente para os 23 ministérios envolvidos.
O CBHSF ainda sediou debates cruciais na COP 30, incluindo sessões sobre o papel da irrigação na Segurança Alimentar e Sustentabilidade Hídrica e sobre o desenvolvimento do Crédito de Carbono Integral (CCI-BSHE), uma metodologia brasileira experimental na Caatinga.
Confira todas as fotos do terceiro dia:
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: João Alves