Estamos na estação mais seca do ano e devido à falta de chuvas, as queimadas se tornam comuns em várias áreas do país. Algumas regiões do Brasil já enfrentam mais de 150 dias sem chuva significativa e o país se aproxima da marca de 50 mil focos de incêndio registrados desde o início de 2021. O bioma brasileiro com maior crescimento no número de queimadas este ano não é o Pantanal e nem a Amazônia, é a Caatinga.
Neste ano já são mais de 2.100 focos contra 805 de 2020, mais que o dobro no mesmo período. Esse valor representa 5,3% do total de focos entre os biomas, o que coloca a Caatinga em 4º lugar entre as áreas mais afetadas pelo fogo, segundo os dados de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Os focos se concentram no leste do bioma, onde a Caatinga se encontra com o Cerrado na região de fronteira agrícola conhecida como Matopiba (nome formado pelas iniciais dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).Especialistas atribuem o crescimento das queimadas à expansão da agricultura na região e à antecipação do período seco, fenômeno que pode estar ligado às mudanças climáticas e tende a se intensificar.
Como em outros biomas, o fogo é geralmente usado na Caatinga para “limpar” uma área antes do plantio. O problema é que as chamas acabam intensificando a degradação do solo do bioma, que já é naturalmente pobre. E isso limita sua vida útil para a agricultura e estimula a busca por novas áreas quando ele se esgota. Além disso, muitas vezes o fogo foge do controle.
O geólogo Washington Franca Rocha coordena um sistema de monitoramento de desmatamento e queimadas na Caatinga desenvolvido em parceria com a organização MapBiomas. Segundo ele, 80,2% dos focos de queimada na Caatinga entre 2000 e 2019 ocorreram em formações savânicas, tipo de vegetação semelhante à do Cerrado.
“Diferentemente dos incêndios na Amazônia e no Pantanal, as queimadas na Caatinga costumam ocorrer em pequenos focos, mas em grande quantidade, o que pode refletir o menor tamanho médio das propriedades rurais no bioma. É uma quebra de produtividade ecológica, na qual o solo não consegue mais sustentar a vida. Aquele cenário da areia é o estado mais avançado, onde a desertificação já é irreversível”, afirma Washington Rocha.
Segundo o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), 13% da Caatinga está em processo avançado de desertificação. As queimadas são uma das principais causas do problema junto com a desertificação, ao lado do desmatamento, do pastoreio intenso e das mudanças climáticas.
Washington Rocha afirma que as mudanças climáticas estão deixando o bioma mais quente e seco, o que deve ampliar a desertificação e criar megaincêndios. “As mudanças climáticas já estão alterando a fauna da região. Espécies de aves que antes viviam somente na Caatinga estão se deslocando para o Cerrado”, diz.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
*Foto destaque: Iberê Périssé