Vale apresenta Plano de Contingência em Três Marias

16/03/2020 - 11:00

Contaminação do rio Paraopeba, afluente do São Francisco, ainda preocupa população

Os representantes da empresa Vale apresentaram o Plano de Contingência para suprimento de água aos usuários situados entre a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, localizada no rio Paraopeba, município de Felixlândia e a Usina Hidrelétrica de Três Marias. A apresentação aconteceu na cidade de Três Marias (MG), no Terminal Turístico Praia Mar de Minas, no Alto São Francisco. O Plano, finalizado em dezembro de 2019, foi apresentado pelo geólogo Vitor Pimenta, gerente de Meio Físico da Vale, área Brumadinho.

O gerente da empresa explicou que após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale no Córrego do Feijão, no município de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, em 25 de janeiro de 2019, foi criada uma diretoria específica para cuidar desse assunto, devido às dimensões dos impactos causados pelo desastre. Segundo Pimenta, existem atualmente 80 pontos de monitoramento da qualidade da água, flutuantes e em profundidade, com coletas diárias, no trecho a montante do rio Paraopeba na UHE Retiro Baixo até o rio São Francisco em Três Marias.

A solicitação do Plano de Contingência foi feita pela Agência Nacional de Águas (ANA) à empresa Vale. A preocupação é com a população que pode ser afetada, caso ocorram alterações na qualidade da água em decorrência da ruptura da barragem de Brumadinho. O Plano traz alternativas de suprimento de água para os usuários presentes no trecho compreendido entre Retiro Baixo e o reservatório de Três Marias. “É um momento oportuno para discutirmos as ações contidas neste Plano”, ressaltou o superintendente da ANA, Rodrigo Flecha.

“Foram elaboradas alternativas de suprimento considerando os recursos hídricos e as peculiaridades da região”, explicou o gerente da Vale. Entre as alternativas, foram apresentadas algumas que já estão em funcionamento e outras previstas, envolvendo os municípios de Curvelo, Pompéu e Três Marias. Uma das alternativas é o fornecimento, por meio das Estações de Tratamento de Água (ETAs) da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA); fornecimento de água mineral, suprimento dos usuários por meio de caminhões-pipa, com capacidade de 20 m3, considerando duas viagens por dia, além da indenização dos usuários de agricultura, pesca profissional e aquicultura inseridos no reservatório, caso sejam afetados.

Gatilhos

Para acionar o plano foram estabelecidos alguns parâmetros chamados de “gatilhos”, que colocam em prática as ações previstas no documento. Neste caso, se constatado um dia com índice de chumbo a 0,012 ou três dias com índice manganês a 0,72, o plano é acionado. No momento reservado para perguntas e discussões, o representante do Instituto Guaicuí, Rodrigo Lemos, questionou sobre o tempo de acionamento do gatilho – para ele seria viável reduzir esse tempo e diminuir os índices de monitoramento.

A gerente de monitoramento de qualidade das águas do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Katiane Cristina de Brito, reiterou que o abastecimento e uso da água para qualquer finalidade estão suspensos de Brumadinho até o município de Pompéu, no rio Paraopeba. Segundo ela, os níveis em Três Marias estão dentro do normal. “Atualmente não há risco de contaminação no lago. O Igam está acompanhando e estudos de risco à saúde estão sendo feitos”, afirmou.


Veja as fotos da reunião: 


Marcus Vinicius Polignano, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBHVelhas) e do Fórum Mineiro de Comitês, considera que a presença da Vale na região é resultado de um esforço e mobilização da sociedade.  “Até então nada disso, que deveria ter sido exposto há mais tempo, foi colocado pela empresa. Essa preocupação da sociedade com o fluxo da lama na região vem desde o ano passado. Pelo menos esse plano representa um esboço, colocando algumas situações emergenciais em pauta. É importante que os comitês e comunidades do Paraopeba tenham acesso às informações, pois a luta continua”, comentou.

Para o prefeito de Três Marias, Adair Divino da Silva, as informações devem ser precisas, de modo a não prejudicar o consumo de água no município e nem impactar o turismo e a pesca. “Temos hoje 98% de água no reservatório, o que representa aumento da atividade pesqueira e do turismo, além da captação de água pela Copasa no município. Quando a lama atingiu o Paraopeba, afluente do São Francisco houve um grande receio da população com prejuízos aos piscicultores e às atividades turísticas na região. É a primeira vez que a Vale vem até Três Marias com esse intuito. Precisamos de monitoramento constante por aqui, a própria secretaria Municipal de Saúde faz coletas em seis pontos da represa”, enfatizou.

Já o prefeito de Felixlândia, Vanderli de Carvalho Barbosa, cobrou mais agilidade nas ações. “As coisas estão sendo feitas de maneira muito tímida, tanto pela Vale quanto pelo Ministério Público e justiça. Essa mitigação não pode ser para daqui a 30 anos, temos um problema agora e nosso município será o primeiro a ser impactado”, afirmou.  Piscicultores que estavam presentes na região reclamaram da omissão e falta de apoio do poder público com a categoria. Para eles, a insegurança do consumidor, devido à falta de divulgação dos índices de forma objetiva, prejudica a produção.

O secretário da Câmara Consultiva Regional (CCR) Alto São Francisco do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Altino Rodrigues Neto, cobrou iniciativas que abordem por completo a situação no Alto São Francisco. “Não é só tratar a questão água para consumo humano. Nosso lago tem um grande contingente de pescadores, além da questão turística e cultural. Temos que tratar de forma holística, pois um estigma está sendo criado em relação à água de Três Marias”, ponderou.

Altino Rodrigues alertou ainda para a questão da qualidade dos peixes. Para ele, os órgãos responsáveis pela análise do pescado não apresentam resultados. “Dependemos desses resultados para dizer se podemos beber dessa água e se podemos comer o peixe. Enquanto defensores do rio São Francisco, precisamos fornecer à sociedade informações e resultados concretos”, aponta.

Participaram ainda da reunião representantes da Emater (MG); da Aecom, empresa de auditoria independente; do Ministério Público de Minas Gerais, da prefeitura de Três Marias, Cemig, representantes de piscicultores de Morada Nova de Minas e Felixlândia, da Agência Peixe Vivo, Marinha do Brasil, Copasa e das comunidades ribeirinhas na região.

Assessoria de Comunicação CBHSF:
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*Texto e fotos: Paulo Emílio Bellardini