Ao longo da semana as manhãs do Circuito Penedo de Cinema foram preenchidas com a presença dos pequeninos, que assistiram animações em curtas-metragens voltadas para o público infantil. A sala de exibições instalada na Praça Doze de Abril ganhou uma nova energia com os baixinhos que participaram com perguntas e, na sexta-feira (10 de novembro), não foi diferente. Todas as cadeiras foram preenchidas e durante a execução dos filmes só se ouvia o barulho do mastigar das pipocas quentinhas.
A Mostra de Cinema Infantil possui o objetivo de levar cultura por meio do cinema para todas as crianças. Em 2017, as temáticas foram voltadas para diversidade cultural e física, além de tratar de assuntos relacionados aos direitos humanos, bullying e meio ambiente. Em 1980 o Cine São Francisco e o Cine Penedo foram desativados, deixando a cidade histórica sem salas de cinema, forçando a população a buscarem as cidades vizinhas para assistirem seus filmes de preferência.
Todas as sessões infantis contaram com animadores, uns fantasiadas de palhaços, outras de borboletas. Entre uma exibição e outra as crianças eram questionadas quanto a importância da água e Sofia Júlia não gaguejou em declarar: “Ela é muito importante porque hidrata a natureza e ajuda a gente a viver. Senão cuidarmos bem dela hoje, amanhã não poderemos mais beber água e fazer suco”. O coleguinha João Mário que sentava a sua frente corajosamente afirmou: “O rio serve para todos beberem, inclusive os peixinhos. Não podemos jogar lixo no rio, porque agua é vida”.
Uma das animadoras é a Joseane dos Santos do Espirito Santo, 33, que durante sua atuação e interação com as crianças encontrou diversos desafios diante de sua prática profissional, mas ela tem bons motivos para encarar todos eles. “O desafio é iniciado quando começamos a selecionar os filmes, eu faço parte da equipe de curadoria que é composta por professores e técnicos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a gente assiste vários filmes, semanas a fio, para podermos proporcionar as melhores exibições compostas de mensagens reflexivas e inspiradoras. O objetivo é trazer educação, respeito, valores e ética”.
A recreadora ressalta o principal objetivo da Mostra de Cinema Infantil. “Nossa maior missão é plantar uma sementinha em cada criança, pois a maioria é oriunda de comunidades carentes, que muitas vezes estão vivendo em suas casas a ficção que vimos hoje aqui. Quando trabalhamos valores a gente sabe que imediatamente as crianças não vão mudar, pois não temos o pozinho da mudança, mas temos a certeza que estamos plantando sementes no coraçãozinho de cada uma delas. O cinema tem um papel fundamental nesse desenvolvimento, porque ele é composto de música e imagens, é outro espaço. Acredito que eles fixam melhor tudo o que passamos, torcemos por um futuro diferente para todos eles”, finaliza.
As crianças puderam assistir a sete animações em curta-metragem que foram: Disfarce Explosivo (Direção: Mário Galdino), O Nordestino e o Toque de Sua Lua Lamparina (Direção: Italo Maia), Mitos do Mondo: como surgiu a noite? (Direção: Andres Lieban), Historietas Assombradas (Direção: Victor-Hugo Borges), Que Papo é esse?: Bullying (Direção: Luiz Caramez), Imagine uma menina com cabelos de Brasil, (Direção: Alexandre Bersot) e por fim, Normal é Ser Difernte (Direção: Alopra Estúdio).
Programação Vespertina
A programação da tarde foi iniciada com a Mostra Cineclube Axé, que apresentou duas produções audiovisuais, Xadrez das Cores e Relicários de Zumba. Ambas reuniram um público dedicado e interessado na causa dos negros.
O Média-Metra Xadrez das Cores conta com a direção de Marco Schiavon e retrata a história de um jogo de Xadrez, embevecida de descriminação racial. A história se passa entre a relação de uma diarista negra que trabalha para uma idosa branca e racista, o relacionamento delas é conturbado, mas ao fim do drama o jogo vira e a diarista consegue ensinar uma excelente lição para aquela que um dia a humilhou!
Relicários de Zumba é um curta-metragem que foi dirigido por Vera Rocha Oliveira e traz a história do Pintor José Zumba, que buscou na cultura negra de Alagoas a inspiração para construir um verdadeiro relicário da caminhada dos negros e mestiços alagoanos, marcado por exclusões e renúncias.
Ao mesmo tempo em que a Mostra Cineclube Axé era exibida, na Casa de Aposentadoria acontecia uma mesa redonda sobre o Panorama do Cinema Brasileiro com Amilton Pinheiro, Antônio Leão, Alice Gouveia e Rafhael Barbosa. A oportunidade foi perfeita para os convidados apresentarem os contrapontos do cinema na região nordeste, especificamente nos estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco, dentre outros.
A assessora da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Carla Francine, falou sobre os desafios em investir no cinema brasileiro. “A maioria das pessoas têm medo em fazer investimentos para as produções cinematográficas. Precisamos capacitar os produtores de filmes para elevar o nível do nosso cinema. O Brasil é rico em histórias maravilhosas e elas precisam ser contadas da melhor forma”.
Milena Evangelista é coordenadora de audiovisual da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e trouxe dados interessantes sobre o cinema brasileiro. “Nos últimos dois anos tivemos uma ampliação do diálogo entre o Cinema e a Ancine, que vem flexibilizando concessões mediante a realidade dos estados. Projetos culturais envolvem uma grande carga de risco, por isso a importância da capacitação dos produtores. O verdadeiro desafio é pensarmos juntos em ações que envolvam o coletivo, isso ajuda na captação de recursos. O propósito maior é a diminuição do desequilíbrio social entre mulheres, negros e índios”.
O último a chegar para o debate foi o pesquisador de cinema, autor de 10 livros publicados e diversos dicionários de curta e longa-metragem, Antônio Leão. Ele aproveitou a oportunidade para fazer uma retrospectiva sobre o cinema há 40 anos, como os movimentos aconteceram, quais evoluções tecnológicas foram conquistas e como se deu o desenvolvimento do cinema Brasileiro. “No passado se usava muito a Super 8, que é um formato cinematográfico da década de 60, lançado pela Kodak. Ele foi uma grande alternativa para sobrevivência do cinema ao longo dos nos e até hoje alguns produtores corajosos ainda o utilizam. O cinema tem se aperfeiçoado, mas sem perder sua verdadeira essência, informar”, confessou.
Com o chegar do pôr-do-sol os produtores de filmes e curiosos pelas técnicas de cinema se reuniram na praça da prefeitura para debater sobre os sabores e dissabores dos realizadores dos filmes. Cada diretor pode falar sobre suas técnicas utilizadas e contar detalhes que ficaram atrás das câmeras. A roda de conversa evoluiu até o cair da noite.
Programação Noturna
Com o badalar dos sinos da igreja matriz da cidade a lua chegou e a programação noturna do 5º dia do Circuito Penedo de Cinema se iniciava. A 10ª Mostra Competitiva do Festival de Cinema Brasileiro apresentou os curtas-metragens: Frequências (Pernambuco | Direção: Adalberto Oliveira), Flecha Dourada (Santa Catarina | Direção: Cíntia Domit Bittar), Em Algum Lugar, Amanhã (Paraná | Direção: André Siqueira), Tupi or Not Tupi (Alagoas | Direção: Nara Normande, Renata Claus e Erivelto Souza) e Uma Balada Para Rocky Lane (Pernambuco | Direção: Djalma Galindo).
O longa-metragem exibido foi Joaquim, dirigido pelo pernambucano Marcelo Gomes, revela como o Dentista Joaquim José da Silva Xavier ficou conhecido como o tão famoso Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira. O filme retrata a realidade de militar que se dedicou a capturar contrabandistas de ouro, sempre buscando ser recompensado com uma patente de tenente para conseguir comprar o que sempre almejou, a liberdade de seu amor que era uma escrava. Porém, apensar de seu esforço ele não conseguiu conquistar seu propósito e eis que ele se compromete com uma nova missão, encontrar minas de ouro espalhadas no sertão proibido.
A noite também foi agraciada com a participação da atriz Clarisse Abujamra, do filme Como Nossos Pais, exibido na noite de abertura do Circuito Penedo de Cinema. Ela aproveitou a oportunidade para falar um pouco sobre a trajetória profissional dela, reforçar o compromisso que aqueles que desejam atuar no cinema e no teatro precisam ter com os estudos, pois só eles poderão mudar o futuro.
Confira as fotos
Por Vitor Luz
Fotos: Edson Oliveira