Com uma produção média de duas mil mudas por semana, o Viveiro Florestal do Xingó é hoje o maior produtor de plantas nativas da Caatinga nordestina, contribuindo para a preservação e fomento dos recursos hídricos
Texto: Vítor Luz e Fotos: Edson Oliveira
Em Xingó, no estado de Sergipe, o Viveiro Florestal vem contribuindo para mudar a realidade. Na contramão do crescente desmatamento florestal, produz uma média de 100 mil mudas por ano, entre árvores frutíferas, exóticas e ornamentais. Hoje o viveiro, também conhecido como sementeira, ocupa o posto de maior produtor de plantas da Caatinga nordestina. Os resultados do trabalho contribuem diretamente para a preservação do meio ambiente e fomento dos recursos hídricos.
A sementeira é mantida pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco – Chesf e existe desde 1987. A produção em escala teve início em 2014, pela Fundação Apolônio Sales de Desenvolvimento Educacional – Fadurpe e atualmente os trabalhos são conduzidos pela Agrosig Engenharia e Meio Ambiente. A produção de mudas serve para as ações de reflorestamento da Chesf e também para doação à entidades públicas, privadas e pessoas que possuam projetos de desenvolvimento ambiental.
São mais de duas mil mudas em fase de crescimento em recipiente apropriado, onde aguardam para alcançar as dimensões adequadas para plantio no campo. Outro fato interessante é a coleta das sementes, que acontece com base na floração das espécies, pois existem períodos específicos para colheita, envolvendo a maturação e frutificação de cada planta.
O plantio de novas mudas é realizado sempre que as plantas mais maduras vão saindo. As regiões que possuem mais pontos de recuperação são o baixo São Francisco, Paulo Afonso e Sobradinho.
“Desejamos recuperar as áreas degradadas e devolver a elas o seu estado original. Nossa busca de novas espécie é grandiosa e sempre estamos em busca de espécies que também estão em extinção, como Cedro, que possui um alto valor agregado. Outro anseio nosso é pelo encontro de matrizes, que possuem sementes capazes de recompor a espécie na natureza”, completa Lauri.
Os engenheiros que conduzem a Sementeira também se preocupam com o desenvolvimento socioeconômico das regiões próximas. Dentre as mudas do viveiro, está o Umbu, uma das espécies capazes de gerar renda para o homem do campo. Outras plantas frutíferas, originárias da caatinga, também são cultivadas: Trapiá, Ouricuri e a Ubaia. Atualmente estão na tentativa de produção do Murici, conhecido por seus efeitos medicinais.
Sementes de conhecimento
Plantar conhecimento também é uma forma de preservar o presente para colher um futuro sustentável. O viveiro mensalmente recebe visitas de escolas e instituições de ensino superior, com o objetivo de esclarecer dúvidas dos estudantes, falar sobre boas práticas do mercado e possibilitar o intercâmbio educacional, alinhamento teoria e prática.
Durante uma semana os alunos podem aprender sobre plantas medicinais, como cuidar da solo para o melhor aproveitamento do plantio, além de estarem em contato direto com os 18 colaboradores que administram o Viveiro Florestal. Essa experiência está associada às atividades de campo das disciplinas de Viveiros, Produção de Sementes e Meio Ambiente.
Coroa de Frade
Uma das espécies que estava ameaçada de extinção era a Coroa de Frade, que possui o nome científico Melocactus Bahiensis. Esse cacto é nativo do bioma Caatinga, possui formato arredondado, pequeno e achatado, que alcança até 12 centímetros de altura. Seu crescimento leva aproximadamente 30 anos e durante muito tempo as pessoas estavam devastando as plantações desta espécie para produzir doces.
Em 2014 o Ibama solicitou a Chesf a produção de mudas desta espécie: “Montamos um experimento para tentar produzir essa muda e conseguimos chegar em uma metodologia assertiva. Estamos com uma alta produção, embora ela leve três anos para estar pronta para ir ao campo. Hoje buscamos onde planta-las, para que possam crescer”, afirma Lauri.
Entre o plantio de uma muda e outra o senhor José Ilton, 40, é agente indispensável na produção das Coroas de Frade. Há mais de 20 anos ele trabalha com o cultivo de plantas e já perdeu as contas de quantas sementes plantou. Mas a certeza de que está deixando o mundo muito mais verde ele possui: “No passado a produção de mudas era menor, hoje são duas mil por semana. Não me recordo quantas mudas já cultivei, mas já contribui com o reflorestamento de muitas áreas. Poder contribuir com um pouco do que aprendi, me orgulha muito, quero deixar um mundo melhor para meus filhos e meus netos”.
O viveiro e o rio
As árvores evitam o assoreamento dos rios, ocasionando a infiltração da água no lençol freático, o que contribui diretamente para aumento da água do São Francisco. O trabalho de restauração e reflorestamento no entorno da Usina Hidrelétrica de Xingó já vem sendo desenvolvido desde 1997.
“Atuamos em 288 hectares, entre Alagoas e Sergipe. Consideramos que 70% já recebeu plantio e replantio e agor estão recebendo fiscalização. Novas áreas estão sendo trabalhadas e pretendemos atingir os 288 hectares, sem falar que espécies em regeneração natural vem ajudando nesse desafio”, destacou Heraldo Martins, supervisor de campo do viveiro. “Essas ações repercutem na preservação de nascentes, do Rio São Francisco e seus afluentes, pois quanto mais reflorestamentos conseguirmos realizar, mais água produziremos. E assim conseguiremos recompor as matas ciliares, na tentativa de recuperar seu estado origina”.
Veja fotos do Viveiro