Apaixonado pela caatinga, Ednaldo Campos, diretor da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco, falou sobre os quês e porquês de se preservar o bioma.
Você nasceu em região de Caatinga, no Lapão. Qual a sua relação com este bioma?
Ednaldo: É um bioma lindo, único no Brasil. No Lapão, minha cidade, temos 300 hectares de Caatinga preservada. Eu entro lá e viajo, me perco de tão bonito que é. E o cheiro? Um perfume!
Na região do Médio São Francisco, como é a situação da Caatinga?
Ednaldo: No semiárido baiano, minha região, que é de plantação de feijão, lá hoje eu digo a você que só tem 7,5% de Caatinga. Foi devastada por completo, não tem mais o que desmatar. Só existe Caatinga em topo de morro, onde não era bom para o plantio.
E o que pode ser feito?
Ednaldo: Hoje temos que pensar em “recatingar”, recompor este bioma.
É difícil “recatingar”?
Ednaldo: Complicado, maior parte do processo de racatingamento é por meio de sementes. Coletamos as sementes de junho até no máximo setembro. Após as primeiras chuvas, não tem mais semente na Caatinga. Coletou tem que plantar imediatamente no saquinho. Daí algumas plantas levam mais de seis meses para chegar ao tamanho de ir ao campo.
Qual a importância da Caatinga para o rio São Francisco?
Ednaldo: Quando chega os meses de seca, ela se livra das folhas. A folhagem que cai forma uma turfa de mais de 20 centímetros, que vai ajudar a reter a água no tempo da chuva. E, se você retém água no solo, você evita erosão, recarrega o aquífero e, com isso, recarrega o São Francisco.
O que falta no Brasil para que se possa reverter o processo de devastação da Caatinga?
Ednaldo: Cultura. As pessoas precisam entender a importância deste bioma. E também falta pesquisa. Tenho esperança de ver o semiárido recatingado. Estou no CBHSF para lutar por isto. E tenho muitos companheiros no Comitê ao meu lado nesta batalha.