Um novo levantamento obtido através de imagens de satélite pelo MapBiomas mostrou que o bioma Caatinga, inserido integralmente no território do Semiárido brasileiro, nos últimos 37 anos teve 15% de sua área queimada, e redução de 160 mil hectares de superfície de água.
Segundo o MapBiomas, a Caatinga teve um quarto, o equivalente a 25,59%, de seu território modificado pela ação do homem entre 1985 e 2021. Mais de 15% da Caatinga foi queimada, totalizando 13.770 hectares e, na bacia do São Francisco, as maiores ocorrências de queimadas ocorreram nos anos de 1987 a 2007. Houve ainda redução de áreas naturais, superando os 6 milhões de hectares, 10,54% da área mapeada em 1985. Além disso, a Caatinga, que conta com a maior parte dos rios de característica intermitente (correm apenas durante o período das chuvas, ficando secos durante a estação de estiagem), sendo os dois rios perenes de grande porte o rio São Francisco e o rio Parnaíba, perdeu mais de 160 mil hectares de superfície de água, ou seja 16,75%. O diagnóstico mostrou que, com exceção de Sergipe, todos os estados onde predomina a Caatinga tiveram redução de superfície de água.
O MapBiomas apontou que o principal motivo de avanço sobre a vegetação nativa foi a agropecuária, que ganhou 6,7% de território, ou 5,7 milhões de hectares. No período avaliado, a agropecuária cresceu um quarto da sua área. Segundo o coordenador da Equipe Caatinga do MapBiomas, Washington Rocha, o levantamento identificou ainda áreas de desertificação. “Mapeamos a região de Irauçuba, no Ceará, e detectamos a expansão de um núcleo de desertificação. Padrão semelhante foi observado em outros núcleos de desertificação, como em Cabrobó (PE), com tendência de expansão no sentido de Alagoas. Além dos núcleos de desertificação, é possível monitorar com os dados do MapBiomas as ASD´s (áreas suscetíveis à desertificação), como Jeremoabo, na Bahia. Este é um exemplo de como a transformação da Caatinga coloca o bioma em risco”.
Mesmo em área classificada como Reserva da Biosfera houve perdas de 7,6%, ocupadas pelas atividades de agricultura (2%) e pastagens (5,6%). Já as Unidades de Conservação ocupam 9,01% do bioma, totalizando 7,8 milhões de hectares, perderam 3,3% de sua área. Agricultura e pastagem ganharam 1,42% e 2,06%, respectivamente.
Vulnerabilidades
O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS) apontou que cerca de 93% dos municípios do Semiárido brasileiro considerados de pequeno porte, com população inferior a 50 mil habitantes, são marcados por uma confluência de vulnerabilidades e já lidam com problemas ambientais como secas extremas, desertificação e mudança climática.
O laboratório apontou que esses municípios apresentam uma série de vulnerabilidades nas áreas em processo de desertificação que incluem vulnerabilidade climática ocorrendo sobretudo pela frequência de secas intensas e pelos atuais impactos do processo de mudança climática, vulnerabilidade à desertificação, processo crescente e irreversível, aumentado pelas intensas secas e pelo manejo inadequado dos recursos naturais e vulnerabilidade ecológica. “Nesse último aspecto, a Caatinga enfrenta o risco de atingir um ponto de não retorno, ou seja, a degradação da vegetação e as secas extremas podem causar danos fisiológicos a ponto de a vegetação perder sua capacidade de se auto recuperar”, destacou o coordenador do LAPIS, Humberto Barbosa.
Além disso, outros pontos vulneráveis também são apontados no processo de desertificação, incluindo vulnerabilidade institucional que é vista pelo LAPIS como a falta de capacidade institucional dos pequenos municípios para enfrentar problemas ambientais complexos, vulnerabilidade socioeconômica e vulnerabilidade do conhecimento. “Em termos socioeconômicos, como a agricultura familiar de baixa escala é desmantelada durante as secas, a população perde sua principal fonte de subsistência e sobre a vulnerabilidade de conhecimento existe ainda a limitação no acesso a informações técnico-científicas qualificadas, o que impede uma melhor gestão dos recursos naturais e a obtenção de renda, a partir do aproveitamento sustentável da bioeconomia da Caatinga”, acrescentou Barbosa.
Todo esse processo tem uma ligação direta com a ocorrência do aumento dos eventos climáticos extremos na bacia do Rio São Francisco. Ainda segundo dados do Laboratório, o Semiárido é a região do Brasil mais afetada pelo aumento dos eventos climáticos extremos. Modelos climáticos indicam que haverá redução de cerca de 40% nas chuvas na região, ainda neste século.
“As grandes secas que afetaram o rio São Francisco estiveram historicamente mais concentradas na região do Baixo São Francisco. No entanto, de acordo com a pesquisa do Lapis, há sinais de condições crescentes de seca nas demais áreas da bacia, como é o caso do Alto e Médio São Francisco. Desse modo, a avaliação dos impactos de eventos intensos de seca, na bacia do rio São Francisco, é fundamental para desenvolver estratégias adequadas de adaptação e mitigação”, concluiu Barbosa.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Edson Oliveira