Ontem (11.07), segundo dia de expedição, a equipe de pesquisadores e estudiosos reunida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco deixou o município de Brejo Grande, em Sergipe, em direção a Gararu, no mesmo estado. O céu estava ensolarado, tornando a viagem mais difícil, mas nem por isso menos interessante. O grupo chegou à comunidade de Ilha das Flores, onde existe um ponto de captação de água da Codevasf. Era possível ver a marca indicando o nível do rio, em dias de vazão normal. “Com a vazão reduzida, o nível fica cerca de meio metro abaixo do normal”, informou Carlos Eduardo, presidente da ONG Canoa de Tolda e comandante de uma das duas embarcações que levavam a equipe formada por nove pessoas.
Próximo a Neópolis, onde fica o rio Betume, com suas águas escuras, os pesquisadores observaram que a foz está bastante assoreada, além de receber dejetos de esgoto. Também foram encontradas plantas do tipo aninga e baronesa. Abundante no local, essa segunda “é uma espécie de vegetação colocada nas águas que recebem resíduos para cortar o efeito do mau cheiro que daí exala”, explicou Sérgio Silva Araújo, do grupo Acqua. No local, existia uma fábrica de plantação de arroz, agora desativada.
Na chegada a Neópolis, uma moradora lavava pratos – com detergente – na água do rio. Já uma conversa com o comandante de balsa Jaílson Vieira Feitosa deixou ainda mais claro quão prejudicial é a redução da vazão para o Velho Chico e as populações das localidades ribeirinhas. “Quando a maré está seca, a gente tem que desviar de bancos de areia, que estão cada vez maiores”, ressaltou ele, que realiza há 32 anos a travessia de Neópolis até o lado alagoano do rio. “Antes, fazia o percurso em 10 minutos. Hoje, a travessia leva entre 15, 18 minutos”. O comandante reclamou, ainda, que não haviam sido informados sobre a diminuição da vazão. “Ninguém da Chesf avisou, não”.
Era essa também a queixa na colônia de pescadores de Carrapicho. “A Chesf não passou para avisar nada, não”, contou Adilson Soares da Costa, pescador e secretário de Pesca do município de Santana do São Francisco. “Há uns 15 dias, parece que eles aumentaram mais a vazão. Mas coisa pouca. Tá difícil pescar com tanques-rede”, acrescentou.
Professor da Universidade Federal de Minas Gerais e também integrante da equipe da expedição, Marcos Vinícius Poligniano emendou: “Fica difícil mesmo, pois se não tem cheia, o peixe não chega nas lagoas”. Do lado oposto do rio, nas proximidades da comunidade do Chinaré, pertencente ao município de Penedo (AL), os pesquisadores constataram que o processo de assoreamento está cada vez mais avançado. Na região, há cerca de 15 anos, os agricultores vêm ocupando as várzeas para plantar cana-de-açúcar, aumentando o problema .
Do lado sergipano, aproximando-se de Propriá, muito pasto para gado. Uma ponte para veículos, com cerca de mil metros de extensão, liga Propriá a Porto Real do Colégio, em Alagoas. Em Telha, localidade pertencente à Propriá, pausa para o almoço. Depois, mais água pela frente e um sol mais ameno. As belas e exuberantes paisagens contrastavam com a evidente degeneração do Velho Chico. Perto do Morro do Gaia, nas imediações da localidade de São Brás, existem pocilgas para a criação de porcos, o que deixa um odor forte e desagradável no ar.
Nesse segundo dia, a equipe percorreu cerca de 80 Km, passando ainda por Lagoa Comprida, Borda da Mata, Escorial, Barandão, Lagoa Funda e Patos, chegando já no fim da tarde ao simpático município de Gararu, onde descansou para enfrentar o terceiro dia de estudo exploratório do rio São Francisco.
ASCOM – Assessoria de Comunicação do CBHSF