Em vez de bater asas do sertão, a saída para a seca no Nordeste é a convivência com o fenômeno natural. Para isso, o CBHSF investe em projetos com foco na sustentabilidade hídrica do Semiárido
Entre 1877 e 1879, o Nordeste brasileiro enfrentou aquilo que entrou para a nossa história como “A Grande Seca”. Estima-se que cerca de meio milhão de pessoas tenham morrido de sede ou de fome. Alarmado, o então imperador D. Pedro II chegara a afirmar que gastaria até a última joia da coroa para garantir aos súditos que o cenário de desolação não se repetiria. Como se sabe, a promessa dissolveu-se na primeira chuva. Durante todo o século seguinte, o século 20, a seca seguiu sendo o calvário dos sertanejos, que, em grandes ondas, deixavam sua terra para tentar a sorte noutras paragens. Como cantara Luiz Gonzaga, “inté mesmo a Asa branca bateu asas do sertão”. O século 21, porém, trouxe novidades. As correntes migratórias não só diminuíram, como aconteceram na mão contrária, com gente largando os grandes centros para voltar para casa. Por quê?
Nos últimos 20 anos, o que mudou foi a forma como a população enfrenta o problema. Se antes combatia o fenômeno, agora se vê diante de uma nova proposta política: a convivência com a seca. Neste contexto, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) vai executar oito projetos, sendo dois em cada região fisiográfica (Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco), com foco na sustentabilidade hídrica da região Semiárida. Cada região fisiográfica da Bacia vai receber o montante de até R$ 1 milhão para execução das propostas aprovadas. Os projetos são fruto do chamamento público lançado pelo CBHSF em novembro de 2019. Concorreram projetos de diversas associações, cooperativas, ONGs, prefeituras, institutos de ensino/pesquisa, entre outros.
“O Semiárido é muitas vezes desprezado. A sustentabilidade hídrica é uma meta em compatibilidade com o Eixo IV do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (PRH-SF)”, comentou o austríaco Johann Gnadlinger, do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), com sede em Juazeiro, na Bahia. “Os projetos que serão executados são um início e exemplificam como se pode viver no Semiárido”.
Morador da região há 43 anos, ele aposta tudo nesta ideia. Para isso, milita em várias frentes. É um dos fundadores da Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva (ABCMAC) e também membro da Câmara Técnica de Planos, Programas e Projetos (CTPPP) do CBHSF. “O Semiárido representa 54% da área da bacia do Rio São Francisco. É uma região que tem a maior parte do seu território coberto pela Caatinga, considerada por especialistas o bioma brasileiro mais sensível à interferência humana e às mudanças climáticas globais”, comentou Gnadlinger. “Outra característica do Semiárido brasileiro é o déficit hídrico, embora isso não signifique falta de água, pelo contrário, é o Semiárido mais chuvoso do planeta. Porém, as chuvas são irregulares no tempo e no espaço e a quantidade de chuva é menor do que o índice de evaporação”.
Para Johann Gnadlinger, não há outra saída hoje senão aprender a viver com a seca: “Aprendendo sobre as tecnologias disponíveis e como produzir de maneira apropriada. Isso significa que as pessoas que vivem no Semiárido precisam se preparar para a chegada da chuva. Saber gerir seus recursos e ter reservatórios para captar e armazenar água para o período de estiagem”.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Luiza Baggio
Fotos: Edson Oliveira e Manuela Cavadas