Projeto pioneiro apoiado pelo CBHSF tem melhorado a vida de agricultores na bacia do Rio Preto e garantido recarga hídrica

04/02/2025 - 13:00

Com o foco em atender a demanda por água na região do Rio Preto, afluente do Rio São Francisco em Planaltina, no Distrito Federal (DF), o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) fez a entrega, no ano passado (2024), de insumos que estão garantindo a revitalização dos canais rudimentares de irrigação e a construção de reservatórios lonados.


Com um investimento de R$ 5,4 milhões, o Comitê firmou parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF), e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/DF), responsáveis pela execução das obras e com a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (ADASA/DF).

O técnico da Emater, Edvan Ribeiro, informou sobre o andamento das obras e reforçou a necessidade dos serviços para evitar desperdício de água. “O projeto tem como finalidade a tubulação dos canais de irrigação que ainda estão correndo a céu aberto na bacia do Rio Preto, afluente do São Francisco. Esses canais possuem uma perda de água muito elevada, acima de 50% dos volumes captados, que acontecem por infiltração, evaporação e outras formas. Por isso, além de revestir os canais com uma tubulação moderna, estamos fazendo um revestimento dos reservatórios dos produtores. Com isso, além de evitarmos a perda, também será possível economizar água, já que metade da água de irrigação é perdida em reservatórios não revestidos, como apontam alguns estudos”. Ainda de acordo com a Emater, 20 reservatórios já estão prontos e aproximadamente 2 km de canais estão em conclusão. A expectativa é de que mais de 10 km de canais sejam concluídos.

Para o produtor rural Arnaldo Gonçalves Mendes, os benefícios das recentes obras de infraestrutura hídrica já são uma realidade. Além de garantir o acesso à água para irrigação, o projeto abriu portas para novas atividades econômicas. “Antes, a escassez de água limitava nossa produção. Hoje, com os tanques e canais concluídos, conseguimos cultivar verduras e hortaliças o ano todo”, comemora Arnaldo. Ele destaca ainda a diversificação da produção como um avanço significativo. “A criação de peixes, por exemplo, tornou-se viável. Tenho um tanque pronto há meses, onde cultivo tilápias que inclusive vão para a merenda escolar da região. É uma nova fonte de renda e um retorno direto para a comunidade”. Para o agricultor, a obra foi um divisor de águas e Arnaldo projeta aumentar não só a produção de alimentos, mas também o impacto social de seu trabalho, unindo produtividade e sustentabilidade.


Intervenções já estão sendo realizadas na região


Segundo levantamento da Emater-DF, a região administrativa de Planaltina e a Bacia Hidrográfica do Rio Preto concentram o maior número de áreas irrigadas do Distrito Federal. Dados revelam que, dos mais de 23 mil hectares irrigados no território, cerca de 17 mil (aproximadamente 74% do total) estão localizados na bacia do Rio Preto, consolidando-a como principal polo de agricultura irrigada da capital federal.

O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco, Altino Rodrigues destaca que o projeto foi marcado por grandes expectativas desde o início. “A expectativa que tínhamos até a entrega do projeto era muito grande pois foi nossa primeira atuação com parcerias neste território e a proposta do projeto era muito relevante e estratégica para o Comitê do São Francisco. Sabíamos da experiência da Adasa, SEAGRI e Emater, na execução de projetos semelhantes em outras bacias,todavia o Comitê ainda não tinha trabalhado com esses parceiros. Queríamos muito avançar e foi o que conseguimos, pois a partir destas parcerias, alcançamos a substituição dos canais e tanques escavados por tubulações e reservatórios lonados e, com isso, observou-se um aumento na disponibilidade de água, o que trouxe segurança hídrica para a produção da agricultura familiar como também disponibilizou água para as vazões ecológicas dos cursos de água em questão e que são afluentes do São Francisco”.

O coordenador ainda lembra que “do ponto de vista estratégico, o investimento do Comitê no território do Distrito Federal é uma grande vitrine para que a classe política possa ver de perto como o Comitê utiliza os recursos oriundos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, de maneira a contemplar múltiplas vertentes pois, neste caso, trouxemos benefícios para o setor produtivo, para a agricultura familiar como também para o meio ambiente. Fica claro que o CBHSF tem a capilaridade, a experiência e o conhecimento para colaborar no planejamento e execução de inúmeras políticas públicas de cunho socioambiental e socioeconômico bastando, para tal, que seja permitido participar diretamente destes fóruns de discussão que são relevantes para as mais de 20 milhões de pessoas que se beneficiam das águas desta bacia”, concluiu Altino.


Veja fotos do evento de lançamento das obras, realizado em outubro de 2024:


Já o superintendente de Recursos Hídricos da Adasa, Gustavo Antônio Carneiro, lembra que devido a região ser fortemente afetada pelos períodos de estiagem, a demanda por água se torna uma questão sensível para os agricultores. “Mesmo próxima da capital federal, essa porção da bacia do rio São Francisco é uma área predominantemente rural, bastante dependente do uso da água superficial para irrigação nas atividades agrícolas. Assim como nas demais áreas do DF, essa região formada pelos afluentes do rio Preto sofre com a ausência de chuvas durante os meses de estiagem que ocorrem com maior ou menor intensidade todos os anos. Durante a seca, a demanda de água para a agricultura irrigada é maior que a disponibilidade de água nos rios. A regularização das vazões por meio da implantação de barragens nos leitos dos rios não é uma solução tão simples e muitas vezes revela-se inviável por limitações de área e de relevo”.

Por essas características, o superintendente da Adasa acredita que a revitalização dos canais tem sido a solução mais efetiva. “Nesse contexto, estamos certos de que a revitalização dos canais existentes na região vai melhorar significativamente o balanço hídrico e consequentemente a gestão das outorgas de direito de uso da água. Isso porque esse tipo de intervenção permitirá que a vazão de água derivada dos rios, que hoje se dá através de valas rudimentares escavadas no terreno, passará a fluir dentro de tubulações feitas em dimensões e com materiais adequados. Os canais tubulados eliminarão, portanto, as perdas por infiltração e por evaporação e, sobretudo, permitirão o uso eficiente da água a partir do controle das retiradas ao longo da estrutura pelos seus usuários. Desse modo, é certo dizer que esse investimento do CBHSF na bacia do rio Preto vai beneficiar em grande medida não somente os usuários de água que dependem dos canais de irrigação, mas todos os usuários da bacia, uma vez que o projeto trará melhorias para os processos de alocação negociada e ganhos significativos para o balanço hídrico nessa porção da bacia do rio São Francisco”.


Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Emater- DF; João Alves