Um debate cheio de informações sobre história, cultura, meio ambiente, cinema e o rio São Francisco! Esta foi a live com o tema “Cinema, Memória e Pertencimento: viro carranca pra defender o Velho Chico”, que aconteceu na última quinta-feira (08). O encontro foi promovido pelo Circuito Penedo de Cinema com o apoio da UFAL e contou com a participação do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, da professora e produtora cultura Yanara Galvão, do biólogo e professor da UFAL, Cláudio Sampaio, e o socioambientalistada SOS Mata Atlântica,César Pegoraro.
A live foi mediada pelo professor Carlos Sampaio que apresentou todos os participantes do encontro e logo em seguida passou a fala para Yanara Galvão. Ela iniciou sua fala mencionando que é muito importante participar desse debate neste momento tão desafiador que todos estão passando. “Acreditamos que a arte cinematográfica venha provocar reflexão, debate, construção e transformações. É um grato prazer participar pelo 3º ano da curadoria da Mostra Ambiental do Velho Chico de Cinema. Meu primeiro contato com o Circuito Penedo de Cinema foi em 2016, através do convite de Sérgio Onofre. Em 2017 fui convidada a participar como júri. É uma troca muito grande esse campo interdisciplinar que é o cinema. Este ano de 2020 especialmente tivemos muitos filmes inscritos tratando das narrativas indígenas e quilombolas. Falar em memória e pertencimento tem a ver com tudo isso e com as questões humanas e o meio ambiente”, contou.
Para César Pegoraro a pauta ambiental é super pertinente e o cinema tem essa vocação de formar opinião. “Muito boa essa questão de virar carranca para defender o Velho Chico. O papel que a carranca traz enquanto o elemento vivo ali pro rio. Que a nossa militância seja de fato a de virar carranca e espantar os maus agouros e vamos trazer boa pesca, fazendo nossa embarcação continuar forte nesse rio tão lindo”.
Pegoraro mencionou a questão da mata atlântica e o que tem acontecido com ela. “É muito interessante a gente olhar para o rio da mata atlântica e perceber que continuamos a viver próximos dos rios e infelizmente fazemos o mau uso da água, não sabendo gerenciar tudo que temos, seja na cidade ou áreas mais rurais. Estamos perdendo nosso patrimônio natural. Na SOS Mata Atlântica, por exemplo, temos o projeto ‘Observando os rios’, e lá realizamos ações que buscam mobilizar cidadãos a serem guardiões dos seus rios, ajudando cada um deles com educação ambiental”, explicou.
Anivaldo Miranda iniciou sua fala homenageando Dalva Castro, a Dalvinha, que era ambientalista, animadora cultural e pessoa dedicada à música, a arte e faleceu recentemente. “Foi uma perda muito grande para nós. Sentiremos um grande vazio, pois a Dalvinha fazia muitas interações com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco através da ONG Olha o Chico”.
Miranda fez um breve histórico do rio São Francisco e o que ele representa para o nosso país. Ele citou também que a cultura tem um papel bastante relevante e através da imagem, da poesia, do cinema, da literatura e do teatro, podem ser mudados comportamentos, pois ajuda os brasileiros a entenderem a importância do Velho Chico de forma lúdica, com as ferramentas que são utilizadas.
“O rio faz parte da nossa história, principalmente para aqueles que vivem em regiões ribeirinhas. Mas, é importante deixar claro que o rio São Francisco é sobretudo um ecossistema e não podemos continuar tratando da forma terrível como estamos fazendo essa riqueza enorme. O Velho Chico tem enfrentado grandes problemas e é responsável por atender 70% da disponibilidade hídrica da região Nordeste e ainda atende o Norte de Minas Gerais, sendo seu curso de água o que atravessa uma região semiárida. Ele envolve três grandes biomas, o do Cerrado, o da Caatinga e o da Mata Atlântica, logo o rio São Francisco ao percorrer de forma grandiosa tantas regiões é considerado uma joia e precisa ser entendido, preservando suas águas que precisam ser geridas de forma responsável no contexto da bacia. O rio vem sendo ameaçado de várias maneiras, como é o caso da construção da UHE Formoso e o governo federal voltou a alimentar a ideia da usina nuclear de Itacuruba utilizando a água do rio São Francisco e usando técnicas obsoletas, isso tudo sendo feito sem consulta à comunidade. É preciso ter uma visão conectada com o século 21, o século do aquecimento global. O rio São Francisco já esgotou do ponto de vista das suas capacidades hídricas, a geração de energia hidrelétrica chegou em seu limite máximo”.
A luta do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco torna-se cada mais ampla com as ações voltadas para a cena cultural, articulação institucional, apoio aos estudos e pesquisas, aplicações dos recursos oriundos da cobrança, entre outros. “É importante dizer que o comitê tem mais de 80 ações classificadas nesse momento, algumas em planejamento e outras em execução. Nem tudo é esse cenário de pessimismo, pois mesmo com pouca verba o Comitê já entregou mais de 100 planos municipais de saneamento básico que são o primeiro passo para se buscar outros recursos que resultarão na execução de projetos. Entraremos em outra dimensão que é a de chamar através de edital os municípios a feitura do sistema de coleta de esgoto. Isso ajudará a minimizar os danos causados ao rio São Francisco”, finalizou.
Assista a live na íntegra:
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Deisy Nascimento