Obras de sustentabilidade hídrica financiadas pelo CBHSF começam a recuperar nascentes no Interior da Bahia

23/01/2023 - 11:55

Vivendo há mais de 20 anos as duras consequências da super exploração dos recursos hídricos, a comunidade da Serra dos Morgados, em Jaguarari (BA) já pode sonhar novamente com dias melhores. Na última sexta-feira (20), o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco entregou a obra de sustentabilidade hídrica que garantiu, com a construção de barramentos, barragens subterrâneas, cisternas e viveiro de mudas nativas, a recuperação do rio Estiva, que não tinha água há pelo menos duas décadas.


A comunidade que contribui há muitos anos com o abastecimento das cidades vizinhas através da produção de frutas, verduras, e também já foi uma forte produtora de café, viu a oferta de água reduzir drasticamente, segundo a população, devido principalmente à perfuração de poços. Uma das líderes da Associação das Mulheres Agricultoras e Artesãs de Serra dos Morgados, Edna Maria de Almeida, lembrou que uma ação do Ministério Público verificou que praticamente todos os poços estavam em situação irregular, contribuindo com a escassez da água, morte de nascentes e rios, impedindo boa parte dos plantios na comunidade e a tornando dependente de caminhão-pipa.

Diante do cenário, a comunidade se organizou e apresentou a demanda ao CBHSF através do edital de Chamamento Público 02/2019, para manifestação de interesse para seleção e contratação de projetos com foco na sustentabilidade hídrica no Semiárido. O projeto, executado pela empresa Joamar Ltda, contratada por licitação pelo Comitê através da Agência Peixe Vivo, atendeu a população com a construção de um viveiro de mudas nativas com capacidade aproximada de 100.000 mudas/ano, três barragens subterrâneas, 15 barramentos de contenção de sedimentos e 23 cisternas de produção com capacidade para armazenamento de 52 mil litros.

Com isso, a previsão dos técnicos da empresa responsável pelas obras, da comunidade e do CBHSF era de que em até 10 anos já fosse possível dar o tempo necessário para que os rios e nascentes voltassem a verter, mas a surpresa veio já no final do ano passado. Com 11 meses desde o início dos serviços, o rio Estiva, principal rio da comunidade e afluente do rio São Francisco, voltou a jorrar água depois de 20 anos de seca praticamente absoluta. “Foi um presente a gente ter recebido esse projeto na nossa comunidade que já está beneficiando muita gente, seja pelas cisternas que nos dão a possibilidade de plantar o café, como é nossa tradição, seja ainda pela construção do viveiro, que agrega muito à nossa comunidade. Mas, acredito que o melhor de tudo foi ver o rio Estiva, que a gente achava não ter mais vida, voltar a jorrar água depois da construção dos barramentos e todas as outras obras. A gente viu a cachoeira com água e foi emocionante, por isso temos muito a agradecer a todos que nos ajudaram a chegar a esse resultado, só tenho a agradecer”, afirmou a agricultora Marly Gomes da Silva.

O professor e um dos coordenadores do movimento Salve as Serras, Juracy Marques, explica que a região, como produtora de água, tem nascentes de rios e riachos importantes para as bacias do São Francisco, Itapicuru e Salitre, sendo vital para as pessoas e para os ecossistemas. “Percebendo a gravidade em torno desses mananciais hídricos, de destruição causada pelo desmatamento, pela mineração, perfuração excessiva de poços, pela chegada de novos empreendimentos como complexo eólicos e parques solares, a gente sentia que todo mundo queria explorar para ter benefícios, mas o cuidado que era necessário não existia. Então, nessa lógica, em pouco tempo tudo ia acabar e todos nós perderíamos. Foi a partir daí que reunimos as pessoas para entender a necessidade de cuidar da água e apresentamos a demanda ao Comitê, que investiu quase R$ 1,4 milhão para esse projeto que já está dando resultados”, pontuou, lembrando que assim como foi possível recuperar, é preciso continuar questionando os modelos de empreendimentos que não pensam no meio ambiente com a responsabilidade necessária. “Abrimos uma frente de questionamentos onde devemos observar o quanto a mineração tem trazido de passivo ambiental, a destruição de um patrimônio que é de todos, além dos complexos chegando com grandes impactos sobre as nascentes e rios”, lembrou.

O secretário do CBHSF, Almacks Luiz Silva, lembra que as ações feitas pelo Comitê, mesmo com o pouco recurso disponível, demonstram a importância de fazer obras de revitalização também em áreas de recarga das bacias e microbacias e destaca também a responsabilidade dos demais órgãos sobre a bacia do São Francisco. “O Comitê entende que para recuperar uma bacia hidrográfica também passa pela recuperação das áreas de recarga e as intervenções feitas na Serra dos Morgados comprovam que estamos no caminho certo. Destaco que o Comitê não dispõe de um recurso expressivo, mas é um recurso bem aplicado, bem fiscalizado e, acima de tudo, envolve, além dos técnicos, também as populações que acompanham, contribuem e cobram. O dinheiro é pouco e precisamos estreitar laços com órgãos que têm verbas próprias para obras de revitalização, chamando-os para suas responsabilidades com a bacia do São Francisco”.


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Parcerias: força para agregar

Pensando na importância das parcerias, o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, e o secretário, Almacks Luiz, ainda se reuniram, após a entrega das obras, com representantes da comunidade, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), e a organização não governamental Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia, para tratar do futuro do projeto.

“Os resultados também se devem muito às parcerias. O recurso que o Comitê aplicou associado à boa vontade da população, dos agricultores, das mulheres guerreiras da Serra dos Morgados, fizeram a diferença nesse projeto possibilitando a eles acreditarem na recuperação ambiental de suas nascentes. Agora, outra etapa começa, que deve fazer os resultados continuarem a acontecer e isso só será possível com o esforço e vontade de todos”, afirmou Cláudio.

A comunidade já participa de capacitações e apoio técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar, que presta assistência técnica e contribui com os produtores de café e demais variedades. Além disso, o Banco do Nordeste também esteve no evento de entrega das obras se dispondo, junto à comunidade, para atendê-los.

O prefeito de Jaguarari, Antônio Ferreira do Nascimento, também presente na cerimônia, lembrou da importância e compromisso com o meio ambiente e afirmou que deve adquirir a produção de pelo menos 200 mil mudas no novo viveiro. A produção do viveiro vai contribuir para o reflorestamento de nascentes e rios, de áreas de proteção permanente e também deve gerar renda para a população.


Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Marcizo Ventura