Revista Chico: O que é que a Bahia tem

10/12/2018 - 10:15


Importante centro de pesquisas arqueológicas, Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina, reúne belezas naturais, paisagens pouco convencionais e muita história.


Por quais caminhos podem nos levar as águas do Velho Chico? São muitas paisagens, histórias e personagens Brasil afora, em mais de 2.700 quilômetros de curso. Seguindo as águas, atravessando a Bahia, chegamos à histórica de Morro do Chapéu, localizada na Chapada Diamantina Norte, a 396 quilômetros de Salvador. Já na estrada, é possível avistar de longe o morro que deu nome ao local. Imponente, o “Morrão”, como é chamado, tem 1.293 metros de altitude e o mais lindo pôr do sol do sertão.
Morro do Chapéu reúne de tudo um pouco: paraíso de orquídeas e bromélias; habitat de espécies em extinção, como as onças pintada e parda; centro de pesquisas arqueológicas. E até palco para os estudiosos de Ufologia. A paisagem inclui cachoeiras, grutas, sítios arqueológicos, formações rochosas impressionantes, como o Buraco do Possidônio, além de vilas históricas como a Ventura – maior centro de diamantes da região no início do século XX.
Da tranquilidade de um passeio despretensioso por suas ruas largas, com construções charmosas e centenárias, à adrenalina dos esportes de aventura, como rapel, bike e trekking, não faltam opções para se divertir, descansar e contemplar, curtindo um clima agradável, com temperaturas que conferem ao local ares europeus com tempero baiano.
A região abriga três unidades de conservação estaduais: Parque Estadual Morro do Chapéu, Monumento Natural Cachoeira do Ferro Doido e APA Vereda Romão Gramacho – ou Gruta dos Brejões. Acolhe também rios oriundos das bacias do Paraguaçu e São Francisco. Do Velho Chico, destaque para a bacia do Salitre.


Veja as fotografias


O rei negro
Segundo Antônio Barreto Dantas Junior, 55 anos, historiador nascido e criado na cidade, a história de Morro do Chapéu se confunde com a do coronel Dias Coelho, primeiro coronel negro da Bahia. Descendente de escravos, tornou-se um dos homens mais influentes e prestigiados da Chapada Diamantina.
“Quem vem a Morro do Chapéu vê ruas amplas e praças largas. Temos casarões conservados, ruas e praças bem espaçosas, frutos do plano diretor trazido da França por influência do coronel, uma das principais figuras negras do estado da Bahia”, conta.
Morro de Chapéu foi uma cidade produtora de diamantes e viveu sua efervescência econômica nos idos de 1920, época em que a histórica Vila do Ventura recebia milhares de garimpeiros e mercadores importantes.
O município foi criado em 1864 e elevado à categoria de cidade em 1909. Ainda hoje é possível ver construções históricas como a centenária Igreja Matriz e a capela Soledade. Esta última abriga uma imagem de dois metros da Nossa Senhora da Soledade vinda da França como presente ao Coronel Dias Coelho.
 


Conheça mais Morro do Chapéu. Assista ao vídeo:


5 passeios

Gruta dos Brejões

O pórtico de entrada de 106 metros de altura já anuncia a grandiosidade. Brejões é uma das cavernas mais belas e exuberantes do Brasil, considerada, segundo o Museu Geológico da Bahia, a 4ª maior do estado e a 6ª do país. Está localizada no vale do Rio Jacaré, afluente do São Francisco, na área denominada Vereda Romão Gramacho.
São cerca de 7 km de extensão, amplas galerias e diversas formações minerais: “Tem estalactites e estalagmites, que, pingando, ajudaram a formar, por exemplo, o Bolo de Noiva, uma das principais atrações”, comentou Nei dos Santos, guia da região.
O vilarejo próximo, Brejões da Gruta, não conta com estrutura para estadia. Como o local fica a aproximadamente 180 quilômetros de Morro do Chapéu, a dica é levar um lanche e chegar cedo para melhor aproveitar o passeio. A presença de um guia é fundamental.
 
Lagoa da Velha

Conjunto de sítios arqueológicos, o local é um importante celeiro de pinturas rupestres. Fica a cerca de 21 km de Morro do Chapéu, às margens da BA-052. Segundo registros, algumas pinturas datam de 3 mil anos.
 
Buraco do Possidônio

Uma cratera de aproximadamente 150 metros de diâmetro e 60 de profundidade. De fora, é possível avistar uma vegetação farta e árvores de grande porte emoldurando a área. Acredita-se que o “Buraco” tenha surgido em virtude de um abalo sísmico. O acesso é fácil, a 18 km da sede da cidade.
 
Cachoeiras do Ferro Doido e Agreste

Ferro Doido fica na área de preservação ambiental do Monumento Natural do Ferro Doido, a 18 km de Morro do Chapéu. Possui um paredão coberto por uma vegetação diversa, com presença de bromélias, orquídeas e sempre-vivas. Seu ponto mais alto registra 98 metros de queda d´água. São mais de três horas de caminhada, mas vale cada passo.
A cachoeira do Agreste tem queda d’água de aproximadamente 50 metros de altura. A 17 km de Morro do Chapéu, conta com poços profundos, onde diamantes já foram explorados. A trilha é de aproximadamente três quilômetros até a queda principal.
Uma opção fácil, ideal para quem tem pouco tempo, é visitar a cachoeira Domingos Lopes. Sem a grandiosidade das citadas anteriormente, oferece um banho gostoso em meio à natureza, a 14 km de Morro do Chapéu.
 
Vila do Ventura

A tranquilidade do local nada tem a ver com a efervescência que movimentou o vilarejo nos idos de 1920, auge da produção de diamantes. O carbonato, vendido diretamente no comércio europeu, era a principal fonte de renda da Vila do Ventura, que fica a 35 km de Morro do Chapéu.
O burburinho econômico ficou para trás, mas ainda são mantidos o calçamento original em pedra e algumas construções coloniais, além da igreja. Por detrás de suas casas, sobrados e ruínas, traços importantes da história podem ser revelados.
De lá, ainda é possível visitar a Cachoeira do Ventura, a 6 quilômetros da Vila.


Projetos de Recuperação Hidroambiental
“O rio mudou. Na minha infância, era diferente, era cheio de água, de poço. Agora, aterrou tudo e tem chovido muito pouco”. A fala é de Vanderlino Pessoa Bastos, 80 anos. O rio em questão é o Salitre, afluente baiano do São Francisco. Ao longo de toda sua vida, Seu Nego, como é conhecido, viu o rio em várias fases. Seus netos e bisnetos, por sua vez, só conheceram uma realidade: o rio sem água.
O caminho para que o futuro seja diferente, com o rio vivo, passa por ações concretas de revitalização e mobilização. Neste contexto, o Projeto Hidroambiental da Bacia do Rio Salitre, promovido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em Morro do Chapéu, na Bahia, representa um avanço rumo a dias melhores.
Foram contemplados os povoados de Brejão, Várzea Grande, Jaracarezinho, Cercado Santo, Tamboril, Formosa, Gaspar e Mulungú do Jubilino. Entre os resultados, estão: conservação e recuperação de 190 hectares de áreas degradadas; 1.916 metros de nascentes protegidas; 111.000 metros de estradas rurais com adequações e 848 bacias de contenção de água pluviais, conhecidas como barraginhas. Mais de 1200 pessoas foram impactadas.
Leia a matéria completa sobre os projetos de recuperação ambiental na região de Morro do Chapéu: https://goo.gl/afhqud


Assista ao vídeo:


Por Andréia Vitório
Fotos: Manuela Cavadas