Em uma iniciativa inédita dentro das instâncias do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, a Câmara Consultiva Regional do Submédio instituiu um novo grupo de trabalho composto apenas por mulheres. A ideia, segundo o grupo, é fortalecer as discussões técnicas da gestão das águas sob a ótica feminina.
O novo GT, criado durante a reunião ordinária da CCR Submédio realizada em Petrolina (PE) no dia 12 de setembro, reúne inicialmente todas as mulheres da Câmara Consultiva do Submédio, mas é aberto à participação das demais regionais. “A ideia surgiu a partir da própria vivência das mulheres que compõem a CCR, a partir do seus lugares de fala, seja do poder público, usuários e sociedade civil, por suas vivências e realidades nas reflexões a partir dessa caminhada, onde a gente vem constatando a necessidade de olhar para os temas voltados à gestão das águas e meio ambiente com um olhar específico, a partir da abordagem de gênero, entendendo que as mulheres são as mais afetadas na ausência de políticas essenciais como, por exemplo, o acesso ao saneamento básico. A gente vem fazendo essas reflexões há algum tempo, a partir da própria provocação da coordenação da CCR, trazendo esse olhar de inclusão não só das mulheres, mas também das outras minorias e, ao amadurecer esse debate, entendemos a importância desses assuntos serem tratados dentro de uma instância específica”, explicou a presidenta do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pajeú, Ita Porto.
A presidenta do CBH Salitre, Suely Argôlo, lembrou que, embora as mulheres sejam pouco mais da metade da população no Brasil, cerca de 51,5%, segundo o censo 2022, os espaços de representatividade ainda são desiguais. “Nós mulheres representamos mais da metade da população do Brasil e é um paradoxo muito grande quando no exercício de nossa representatividade, nos espaços do Poder Legislativo, por exemplo, das 513 cadeiras apenas 92 (17,9%) são ocupadas por mulheres. Isso se reflete substancialmente nos espaços de poder dos Comitês pelo fato de os mesmos serem em sua maioria ocupados pelos homens. Acredito que a partir do nosso GT, podemos discutir e repensar um modelo de forma a garantir e estimular a participação das mulheres como forma reparatória dessa distribuição desigual na gestão e gerenciamento de recursos hídricos”.
Em uma reflexão sobre a presença das mulheres dentro dos Comitês e instâncias de decisão, a professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Valda Aroucha, destacou que com a proximidade da revisão do Plano de Recursos Hídricos do CBHSF prevista para iniciar em 2025, é importante também rever a participação da mulher, buscando equidade. “Discutir a importância das mulheres dentro de uma perspectiva da equidade, das relações de gênero e das políticas públicas, das propostas nacionais e internacionais, principalmente no momento em que a gente discute a crise climática, a participação das mulheres nesses espaços de diálogos é fundamental. Acredito que a iniciativa da CCR Submédio de criar um GT de mulheres foi inspiradora, inclusive atendendo a um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) quanto à igualdade de gênero. Esperamos que a partir daqui seja possível repensar essa participação dentro da revisão do PRH”.
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Para a engenheira Marcela Viana Cabral Paiva, representante da Companhia Pernambucana de Saneamento na CCR, a criação do grupo de trabalho ainda pode abrir espaço para diversidade de pautas. “A formação desse grupo de trabalho dentro da CCR é extremamente importante porque traz uma visão diferente de opiniões e mostra também uma vontade de ter uma diversidade de conteúdo e de experiências que a gente pode, como mulheres, contribuir dentro do Comitê. Acho que o grupo vai poder agregar e contribuir para a melhoria no contexto geral da bacia São Francisco”.
O coordenador da CCR Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, destacou a formação do GT e reforçou seu apoio às discussões no âmbito do grupo. “Vejo que essa era uma necessidade dentro do Comitê: abrir espaço para diálogos sob a perspectiva das mulheres, que são fortemente afetadas pela ausência dos direitos básicos, inclusive na gestão das águas, quando falta saneamento, quando falta água, enfim…Claro que sabemos que esse é o primeiro de muitos passos que deverão ser dados por elas e que também não será fácil, mas tenho certeza que essa é uma construção exitosa”, afirmou.
A primeira reunião do Grupo de Trabalho está prevista para outubro.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Juciana Cavalcante