
Representando um dos maiores desafios para os municípios brasileiros, o saneamento básico, embora a passos lentos, tem conseguido avançar nas áreas urbanas, segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O último levantamento aponta que pouco mais da metade dos 505 municípios da bacia do São Francisco (269), conseguem oferecer um esgotamento sanitário adequado igual ou acima de 50%. No entanto, o problema continua nas áreas rurais do país, onde, segundo os dados do Censo, em 2024, 25,5 milhões de brasileiros ainda vivem sem saneamento básico, o que corresponde a 14,3% da população.
Na bacia do São Francisco os problemas também são evidentes e, para contribuir com a preservação, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco tem investido fortemente em ações que visam a proteção dos mananciais, entre as quais a elaboração de planos de saneamento básico, recuperação ambiental e programas de saneamento rural. O CBHSF já investiu mais de R$ 160 milhões em obras de esgotamento sanitário coletivo e esgotamento rural e a expectativa é investir ainda mais de R$ 20 milhões.
As obras estão acontecendo em toda a bacia. Nos dias 10 e 11 de junho parte do Grupo de Trabalho de Saneamento do CBHSF esteve nos municípios de Juazeiro e Jaguarari, no norte baiano, onde visitaram obras de saneamento rural concluídas pelo Comitê e conheceram experiências do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) que desenvolve há cerca de quatro décadas ações em saneamento, convivência com a seca e proteção ambiental.
Para João Carlos, membro do GT, representante da Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. (Embasa), a visita técnica cumpriu uma importante função de não só acompanhar os projetos, mas também refletir sobre a importância deles para as comunidades beneficiadas e para a bacia hidrográfica. “O principal objetivo dessa nossa visita é ver como o recurso do Comitê do São Francisco está sendo aplicado, avaliando o padrão construtivo que é o principal foco do GT. Foram dois dias bastante proveitosos que nos permitiu avaliar e até propor intervenções se necessário, além de ver na prática se tudo está operando como planejado, essa é a função do Grupo que precisa acompanhar do início ao fim as obras de saneamento”.
O Grupo, que contou com a presença dos membros do GT João Pedro Neto, representante da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), e Johann Gnadlinger, representando o IRPAA, também foi acompanhado pela Gerente de Projetos da Agência Peixe Vivo, Jacqueline Evangelista, o Coordenador Técnico, Guilherme Guerra e a professora Thais Guimarães, representado a Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco.
Na comunidade da Serra dos Morgados, distrito de Jaguarari – BA, o grupo visitou famílias contempladas com o Projeto de Engenharia de Soluções Individuais de Tratamento de Efluentes Domésticos. Executado pela construtora Joamar e financiado pelo CBHSF por meio da Agência Peixe Vivo, o projeto finalizado no mês de maio beneficiou 140 famílias com sistemas sustentáveis de tratamento de esgoto, garantindo saneamento básico integral na região. As obras utilizaram tecnologias de baixo e médio custo para implementar sistemas ecológicos, que tratam os efluentes domésticos sem contaminar o solo ou os recursos hídricos. A iniciativa visa proteger também as nascentes locais, essenciais para o abastecimento de diversas comunidades.
Compartilhando experiências
Na casa de formação Dom José Rodrigues do IRPAA, o GT de Saneamento participou de uma caminhada ecológica, onde conheceram tecnologias como medidor de chuva, cisternas de produção, quintais produtivos, barreiros, trincheira, atividades de recaatingamento e reuso de água. Além disso, também estiveram na comunidade de fundo e fecho de pasto Açude da Rancharia, a 65 km de Juazeiro, em visita ao sistema de tratamento de esgoto comunitário com reuso de água.
“O IRPAA busca soluções que começam a partir do povo e sempre aprendendo e desenvolvendo tecnologias aprendidas com a natureza”, afirma Johann Gnadlinger, gestor ambiental que atua no IRPAA há mais de 30 anos. O instituto promove ao longo dos anos oficinas, seminários, capacitações com agricultores atuando em todo semiárido desenvolvendo técnicas de recaatingamento e convivência com a seca aplicando tecnologias que facilitam o acesso a água para consumo e plantio de sobrevivência.
A visita às experiências do IRPAA foi acompanhada pelos técnicos André Rocha, coordenador do eixo clima e água, Wermerson Matos, colaborador de campo, e Adailton Almeida, Agente de Saúde da comunidade Açude da Rancharia, local que, com apoio de uma organização internacional, construiu um sistema de saneamento coletivo que resolveu os esgotos a céu aberto e ainda, através do tratamento, fazem o reuso da água para plantio. Embora tenha sua renda associada essencialmente a criação de caprinos, a solução do saneamento abriu oportunidades para o plantio.
“É importante cada vez mais incidir nos espaços para dizer que saneamento é um direito e temos que fortalecer cada vez mais as comunidades para implantar sistemas que vão garantir o acesso às populações”, destacou Wermerson Matos.
O professor João Pedro reforça. “É muito importante ter figuras como o IRPAA, o Comitê que ajudam tanto nesse processo de desenvolver soluções para resolver esses problemas que são sérios e é impressionante ver como a comunicação resolveu a situação. A comunidade está de parabéns e a gente leva um exemplo enquanto grupo de trabalho de saneamento confirmando mais uma vez, na prática, como isso contribui para saúde das pessoas e para a saúde do Rio São Francisco”.
A gerente de projetos da APV, Jacqueline Evangelista concluiu. “Conhecemos o trabalho do IRPAA que tem uma interface muito grande com os nossos projetos, como o programa de saneamento rural do CBHSF que já finalizamos aproximadamente metade dos 12 municípios contemplados com tratamento individual de esgotamento sanitário envolvendo diversas alternativas, a exemplo de tanques de evapotranspiração, biodigestor, sumidouro, vala de infiltração enfim, a ideia era trocar experiências com essa instituição e foi muito produtivo porque vimos tecnologias que eles empregam que se assemelha muito com os sistemas que nós implantamos, ou seja deu para ver que o que estamos empregando, está compatível com o que já é usado na região”, avaliou lembrando que “Precisamos avançar ainda no pós-entrega, embora tenhamos o cuidado de realizar a mobilização, capacitação explicando família por família como o sistema funciona, a manutenção, mas sabemos e que é uma questão que deve ser abordada com certa frequência para as pessoas manterem e se sentir a questão do pertencimento, da apropriação da tecnologia implantada na casa delas e aí vimos uma associação muito bem estruturada, um grau de organização grande o que trouxe ideias para podermos aprimorar isso nos nossos projetos”, concluiu.
Veja mais fotos:
Quadro de Investimento em saneamento na BSF
Esgotamento Sanitário Coletivo - desembolso total até agora R$ 46.961.138,50 / Expectativa até final de 2025: R$ 7.795.200,00
Esgotamento Sanitário Rural - desembolso total até agora: R$ 21.727.510,99 / Expectativa até final de 2025: R$ 12.717.942,60
GT Saneamento
Criado em 2022, o GT de saneamento tem a finalidade de acompanhar a implementação de investimentos no âmbito do saneamento básico previstos no Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
O grupo ainda é composto por Eduardo Lucena, representante da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), André Horta da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), Nelson Cunha Guimarães, da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e Cláudio Júlio, da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso Sergipe).
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Foto: Juciana Cavalcante