Classificada como situação grave, o diagnóstico do saneamento básico do município de Rodelas, no interior da Bahia, apontou sérios problemas nos quatro eixos previstos pela Lei de Saneamento: abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta, tratamento e disposição final adequada dos resíduos, e limpeza urbana e drenagem das águas pluviais.
O diagnóstico, apresentado na tarde de quarta-feira (03), contou com a presença de representantes do poder público municipal e da comunidade indígena Tuxá. Segundo o relatório, a cidade de Rodelas, com população estimada em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 9.442 habitantes, ainda não tem água tratada para consumo humano.
De acordo com a avaliação técnica da equipe de engenharia da Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (COBRAPE), responsável pela elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), a captação de água acontece abaixo de pontos de despejo do esgoto sem nenhum tipo de tratamento, ou seja, mais um grave problema em relação a outro eixo do saneamento: o esgotamento sanitário.
Como um efeito em cadeia, a cidade amarga o descuido com situações essenciais para a qualidade de vida das pessoas e do Rio São Francisco, que margeia o município. “Situações como esta que o município de Rodelas vive são muito preocupantes. Imaginar que uma comunidade inteira não tenha acesso a um direito básico e essencial, água tratada, é muito difícil para a gente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. E é por isso, que é preciso investir não só na elaboração do plano na cidade de Rodelas, mas em ações coordenadas de conscientização coletiva da importância deste instrumento e da sua execução. A situação de Rodelas é realmente urgente”, destacou o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Julianeli Lima.
Veja as fotos da reunião:
Com um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), medida comparativa usada para classificar países e municípios pelo seu grau de “desenvolvimento humano”, classificado como médio, com 0,632, a taxa de mortalidade infantil é de 15,54 óbitos por mil nascidos vivos, segundo o IBGE. O IDH é uma referência numérica que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de zero, menor é o indicador para os quesitos de saúde, educação e renda.
“Os dados demonstram que o problema de saneamento no município de Rodelas é muito grave. Verificamos que há despejo de esgoto antes da captação da água e conforme apresentamos, o tratamento da água não é feito. Não há nenhuma empresa operando o sistema de abastecimento e, consequentemente, a população não paga pela água consumida”, enfatizou a engenheira Andreia Schypula.
Nos demais eixos, a situação não é menos preocupante. Ainda mantendo lixão a céu aberto, o local também recebe lixo hospitalar sem nenhum tipo de tratamento adequado e é misturado aos demais dejetos residenciais. No local também foi apontado pela empresa, a presença de catadores que inclusive moram no lixão vivendo diariamente em situação insalubre e expostos aos riscos, com maior probabilidade de adquirir problemas de saúde como leptospirose, dermatites de contato, infecções gástricas e verminoses.
Além disso, a região também concentra diversidade de etnias indígenas. A maior concentração é do povo Tuxá, mas há territórios também povoados pelos Ticunas, Pankararés e Cambiuás. O presidente do Conselho Local de Saúde de Apoio aos Indígenas no polo base de Paulo Afonso e cacique, Anselmo Tuxá, reforçou a necessidade de que as comunidades indígenas também sejam ouvidas e atendidas em suas demandas pelo PMSB. “Este é um momento de grande importância para todas as comunidades, tanto dos índios, como dos não índios; porque vivemos sem direito a água tratada e há ainda tribos que são atendidas por caminhões-pipa, ou seja, temos urgência em resolver de vez esse problema”, concluiu o cacique Alsemo.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto e fotos: Juciana Cavalcante