A harmonia da viola é a cura
Que transborda no rio de Ibotirama
E por essas e outras tem a fama
De “cidade-canção”, céu de candura.
Recanto de amor à literatura.
Rebentos de poesias, contos, prosas.
Os Reizinhos, Reginaldos e Barbosas
Que diariamente surgem no cais,
Embelezam com magia os festivais
Qual jardim se enfeita com as rosas.
(Cléber Eduão)
Localizada no Território Velho Chico, no Médio São Francisco, o município de Ibotirama está na porta de entrada do Oeste da Bahia e abriga aproximadamente 27 mil habitantes, distribuídos entre a sede e 47 povoados rurais, a maioria às margens do rio São Francisco. Formada a partir de fazendas de gado do período colonial, Ibotirama foi fundada como arraial em 1732, até receber esse nome, em 1943, cujo significado em tupi-guarani é “terra das flores”. Desde a sua emancipação política, em 1958, o comércio e o turismo estão no centro das atividades econômicas do município.
Várias populações originárias habitavam as margens esquerda e direita do rio São Francisco, onde hoje está localizado o município, entre elas os tamoios, cataguases, tabajaras e amoipiras. Até então o rio era conhecido como Opará (“rio mar”) ou Pirapitinga, mas, escravizados, dizimados ou expulsos para o planalto central, as organizações das populações originárias foram substituídas pelos primeiros arraiais, iniciando o domínio colonial da região. Atualmente, existe em Ibotirama a Terra Indígena do povo Tuxá, com quatro associações comunitárias indígenas, entre elas a de mulheres indígenas e a de pescadores e produtores rurais Tuxá.
Ibotirama é marcada pela diversidade cultural, resultado do trânsito de pessoas de várias localidades, atraídas pelas terras férteis, potencial para a criação de gado e para o comércio. O calendário das manifestações culturais do município conta com diversas celebrações religiosas, como o reisado, a Festa de São Sebastião e os Candomblés de Ibotiraminha e do Bairro São Francisco. Nos distritos de Itapeba e Malhada de Areia, em datas comemorativas acontece a roda de São Gonçalo, quando os homens se vestem com calças, camisetas e um lenço branco amarrado na cabeça, e as mulheres trajam saias, blusas e chapéus com fitas brancas. Na ocasião, todos dançam próximo ao altar, feito com palhas de coco e com a imagem de São Gonçalo, ao som de tambores e violas.
Entre os destaques do município está o Festival de Música e Poesia de Ibotirama, que reúne dezenas de artistas em praça pública, como expressão da cultura popular ribeirinha. O evento surgiu em 1977, quando um grupo de jovens do ensino médio, através do Grêmio Estudantil do Colégio Cenecista de Ibotirama, promoveu o I Festival de Música Popular de Ibotirama, que em 2022 completa 45 edições consecutivas. A partir da década de 80, o festival passou a envolver música e poesia, alimentando o surgimento de diversos poetas locais e regionais e dando origem ao I Festival de Poesia. Hoje, o município registra um conjunto significativo de produções nessas linguagens artísticas.
Diversidade cultural marca município do oeste da Bahia
Ibotirama tem um clima quente e temperado, praças e avenidas arborizadas e é conhecida na região pela vista do pôr do sol sobre a ponte do São Francisco. O rio banha o município e faz parte da divisa da cidade, fronteiriça com os municípios de Muquém do São Francisco, Oliveira dos Brejinhos e Paratinga. Alguns pontos turísticos de destaque são a Gruta da Vereda, Boqueirão do Coco, Poços do Mocó e Saltador. Na culinária, o Peixe de Giló (Giló é o nome de um morador da cidade) e a Língua Recheada de Zé são bem afamados. Cortado pela BR-242, que liga Salvador a Brasília, o município possui um comércio diversificado, nos últimos anos marcado pela chegada de grandes redes de varejo do Brasil.
É em Ibotirama que está situada a Fundação de Desenvolvimento Integrado do São Francisco (FUNDIFRAN), que em sua trajetória de mais de 50 anos na Bacia do São Francisco presta serviços de assistência técnica, planejamento e pesquisa aos povos ribeirinhos, quilombolas, indígenas, pescadores, populações das ilhas e dos lameiros, que reivindicam seus direitos à terra e às águas. Entidade pioneira e das mais representativas da ação coletiva no Velho Chico, realizou várias edições de projetos culturais, tais como a Semana dos Cordelistas do Velho Chico, Mulheres Artesãs do Velho Chico, Rede de Cooperação Cultural do Velho Chico e Semana do Rio São Francisco.
Cléber Eduão, conselheiro e assessor de Projetos da instituição e morador de Ibotirama, celebra a parceria entre FUNDRIRAN e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) na realização da Campanha Eu Viro Carranca Para Defender o Velho Chico, que em 2022 terá Ibotirama como sede na região do Médio SF: “sempre estivemos juntos na realização dessa importante campanha em defesa do Velho Chico, e em 2022 a FUNDIFRAN compõe a comissão organizadora responsável pela programação cultural. Viva o Velho Chico! Viva as manifestações culturais do Velho Chico!”
As ações da Campanha Vire Carranca irão acontecer simultaneamente em Ibotirama (BA), Glória (BA), Pirapora (MG) e Gararu (SE) no dia 3 de junho e irão envolver estudantes, educadores, artistas e população em geral, em apresentações artístico-culturais, debates, palestras e seminários sobre o Rio São Francisco e a urgência da sua revitalização e preservação.
Confira a programação:
03/06 – Orla Rio São Francisco
08:00 – 09:00 Caminhada da escola CETEP ao Cais (em média 300 alunos)
09:00 – 09:30 Recepção com mesa diretora (Prefeito e Secretários) com música ao vivo na Praça Mãe Josina
9:30 – 10:00 Limpeza das margens do Rio São Francisco (estudantes)
10:00 – 10:15 Lanche
10:15 – 11:30 Poesia e Musicalidade com o tema Velho Chico (FUNDIFRAN e Sec de Cultura)
11:30 – 12:00 Momento lúdico com visitação aos totens educativos e interativos da Campanha.
17:00 – 18:00 Espetáculo – Carranca: da Proa do Barco para o Palco de Gilberto Morais, Grupo de Teatro Mistura
09:00 – 17:00 Participação da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) na campanha
– Núcleo 1 – Clínica microbiológica e fitopatológica
– Núcleo 2 – Exposição de peças anatômicas de animais domésticos
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Mariana Carvalho
*Fotos: Marcelo Andrê