Entre os dias 17 e 19 de dezembro de 2025, representantes de órgãos públicos, comitês de bacias hidrográficas, especialistas e lideranças institucionais participaram do I Encontro Nacional das Nascentes com os Afluentes e Defluentes do Rio São Francisco, realizado na região da Serra da Canastra, em Minas Gerais. O evento teve como objetivo promover o diálogo sobre a preservação, a revitalização e a integração da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, desde suas nascentes até os afluentes e defluentes.
A programação teve início com uma visita técnica à Nascente Geográfica do Rio São Francisco, no Rio Samburá, no município de Medeiros (MG). A atividade buscou proporcionar aos participantes uma imersão simbólica e técnica no ponto de origem do Velho Chico, reforçando a importância da proteção das nascentes como base da segurança hídrica nacional.
No dia 18 de dezembro, as atividades se concentraram no Centro de Visitantes do Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas. A abertura oficial contou com a presença de autoridades locais e representantes do sistema de gestão de recursos hídricos. Durante a solenidade, o presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas das Nascentes do Alto São Francisco (CBH/SF1), Tenente Flávio Andreote dos Santos, ressaltou o papel estratégico das nascentes para a sustentabilidade de toda a bacia. “Quando falamos da nascente, falamos de vida. É aqui que o rio começa e é daqui que ele se espalha. A bacia que representamos engloba as nascentes do São Francisco e também o Lago de Furnas, e o nosso foco não é apenas a preservação, mas a união de forças. As águas de Minas abastecem mais de 500 municípios, o que reforça a necessidade de pensar a integração da nascente ao mar. A atuação conjunta entre os comitês de bacias pode nos apontar um novo norte. Sabemos que os frutos gerados aqui, na parte alta da bacia, serão colhidos por todos.”
A importância da proteção das nascentes também foi destacada durante o encontro. O agente ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Keyme Gomes Lourenço, explicou que a criação do Parque Nacional da Serra da Canastra surgiu justamente da necessidade de proteger a nascente e o ecossistema que a envolve. “A nascente não pode ser vista de forma isolada, sem a presença de todo o ecossistema que a envolve. Não é possível desvincular a água dos seres que vivem ao seu redor. Nosso trabalho é voltado para a conservação desse ambiente, porque entendemos profundamente a importância do Velho Chico”, afirmou.
O coronel Gilson Venceslau, representante da ARPA – Associação Regional de Proteção Ambiental, destacou que “meio ambiente e saúde caminham juntos. Na zona rural, nossa maior preocupação é com o solo; na zona urbana, com o esgoto. O trabalho da ARPA é justamente levar conhecimento, promover capacitação e conscientizar, principalmente sobre a gestão dos resíduos sólidos”, afirmou.
Em seguida, o vice-presidente do CBHSF, Altino Rodrigues, ressaltou o trabalho dos membros dos comitês. “Quero começar agradecendo aos voluntários da água, que têm um papel fundamental nesse processo. O Comitê de Bacia Hidrográfica é, em grande medida, um espaço de gestão de conflitos, e é exatamente isso que fazemos: dialogamos para garantir o uso equilibrado da água. A água não sai da torneira por acaso, ela depende de um esforço conjunto. A integração é uma bandeira que levantamos há muito tempo, e agora mais do que nunca precisamos dar as mãos para que isso aconteça. O Comitê está tomando um novo rumo, com o objetivo de discutir de forma efetiva a política de gestão das águas, sempre com o entendimento de que homem e natureza precisam caminhar de forma integrada.
Veja mais fotos:
Para encerrar a solenidade, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Cláudio Ademar, reforçou a integração como eixo central da atual gestão e destacou os caminhos que vêm sendo construídos para o fortalecimento da política de recursos hídricos na bacia. “Integração é a palavra de ordem. Ainda existe um entendimento equivocado em relação à regionalização, mas essa divisão é apenas administrativa. O rio é um só e sobrevive por meio dos seus afluentes.”
Ao falar sobre o direcionamento da nova gestão, o presidente destacou a aproximação com os territórios e o planejamento estratégico. “Essa gestão quer se aproximar cada vez mais dos afluentes. Nosso planejamento será definido na primeira quinzena de janeiro, quando vamos estabelecer prioridades e ações concretas.” Cláudio Ademar também ressaltou a importância de ampliar parcerias e investir na educação ambiental como ferramenta de transformação. “Vamos buscar apoio externo, avançar na política de educação ambiental e levar conhecimento para as pessoas. Educação é fundamental para mudar práticas que foram reproduzidas por muito tempo.”
Para o presidente, a comunicação e a cultura também cumprem papel estratégico nesse processo. “Precisamos investir em educação nas escolas, ações culturais, festivais e em um plano de mídia que ajude a levar essa mensagem para mais pessoas.”
Encerrando sua fala, o presidente destacou o simbolismo do território das nascentes e os compromissos da gestão. “Saio daqui com outro sentimento. Este território é o pulmão do São Francisco, e pisar aqui é ser envolvido pela força dessa Serra. Vamos fortalecer o monitoramento, o enquadramento, a calha do rio e a política de recursos hídricos, buscando apoio dos parlamentares e dos poderes executivos para ampliar a qualidade e a quantidade de água. A educação ambiental, sob responsabilidade do vice-presidente, será essencial para esta gestão.”
Ainda pela manhã, os participantes realizaram uma visita à Nascente Histórica do Rio São Francisco, localizada no Parque Nacional da Serra da Canastra, fortalecendo o vínculo entre conhecimento técnico, preservação ambiental e identidade cultural.
Programa Produtor de Água
No período da tarde, a programação técnica foi retomada com a visita ao Projeto Produtor de Águas da Canastra, na Fazenda São Gerônimo, propriedade do produtor rural José Carlos Martins, conduzida por Dirceu de Oliveira Costa, mobilizador do programa.
O Programa Produtor de Água consiste em uma estratégia de incentivo à conservação e ao uso sustentável dos recursos hídricos, baseada na implementação de ações voltadas à proteção e à recuperação de áreas consideradas estratégicas nas bacias hidrográficas. Seu princípio fundamental é o reconhecimento e a compensação financeira, por meio do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), a produtores rurais e proprietários de terras que adotam práticas sustentáveis, como o reflorestamento, a conservação do solo e o manejo adequado das áreas no entorno dos corpos d’água. Essas iniciativas contribuem diretamente para a recarga dos aquíferos, além de reduzir processos de erosão e sedimentação.
Dirceu Costa explicou como o programa é executado: “Inicialmente, é realizado o levantamento das áreas com potencial para a implantação das ações. Em seguida, é elaborado um diagnóstico socioambiental da microbacia, acompanhado da valoração econômica dos serviços ambientais. A partir desse diagnóstico, é desenvolvido um projeto específico para a unidade rural participante do programa. Na sequência, o produtor rural, proprietário da área, formaliza sua adesão por meio da assinatura de um contrato, comprometendo-se a implementar ações que contribuam para a melhoria da qualidade e da quantidade de água. Com base nos resultados alcançados, é efetuado o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) aos produtores participantes.
O último dia do encontro, 19 de dezembro, foi dedicado a visita técnica à Cachoeira Casca D’Anta – Parte Baixa, no Parque Nacional da Serra da Canastra. O encerramento das atividades ocorreu com um almoço de confraternização, marcando o fechamento de três dias de integração, troca de experiências e fortalecimento da governança das águas do Velho Chico.
Participaram do encontro: o presidente do CBHSF, Cláudio Ademar, o vice Altino Rodrigues, os mobilizadores do programa produtor de água e membros do CBH Afluentes do Alto São Francisco SF1, Dirceu Costa e Débora Emília, o presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas das Nascentes do Alto São Francisco (CBH/SF1), Tenente Flávio Andreote dos Santos, o presidente do CBH Piranga, Carlos Eduardo Silva, o secretário de Meio Ambiente de Ouro Preto, representando o CBH Paraopeba, Chiquinho de Assis, o coordenador geral do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, Maurício Scalon, os representantes do CBH Afluentes Mineiros do Médio São Francisco, Alda Maria de Souza e Rodrigo Cesar Teixeira, o secretário da CCR Alto São Francisco, José Valter Alves, a coordenadora de Conservação e Uso Sustentável da Água (ANA), Consuelo Marra.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Mariana Martins
*Fotos: Leo Boi