Já reconhecidas como áreas de desertificação, a região de Cabrobó, em Pernambuco, e Rodelas, na Bahia, se somam a outros novos municípios pertencentes à bacia do São Francisco identificados pela Diretoria de Combate à Desertificação, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, como pertencentes a um dos principais núcleos de desertificação no semiárido brasileiro. São os municípios de Itacuruba, Belém de São Francisco, Floresta, Carnaubeira da Penha, Salgueiro e Parnamirim, em Pernambuco.
De acordo com o diretor do departamento, Alexandre Pires, o órgão está sendo reorganizado para atender às demandas urgentes. “Estamos realizando uma reestruturação na perspectiva da política e da comissão nacional de desertificação para retomar os investimentos. Devemos também buscar os municípios e governos estaduais para, juntos, acharmos condições para barrar esse processo que destrói os solos, a capacidade produtiva e a biodiversidade da Caatinga”, afirmou.
O meteorologista Humberto Barbosa lembra que nos anos 1970 ocorreu o despertar científico para a gravidade do problema da desertificação, em nível global. Desde então, o interesse político e internacional sobre o assunto tem aumentado. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o processo de desertificação é considerado como a “degradação da terra em áreas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas, resultante de atividades humanas e variação climática”. Associadas às ações humanas e à degradação do solo, a desertificação é considerada um processo irreversível.
Segundo o Atlas publicado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2007, as áreas suscetíveis à desertificação (ASD’s), caso aumente o nível de degradação ao longo do tempo, compreendiam cerca de 16% do território brasileiro, abrangendo 1.488 municípios (27% do total), em áreas dos nove estados do Nordeste, além de partes de Minas Gerais e do Espírito Santo, no Sudeste, atingindo mais de 30 milhões de pessoas (17% da população brasileira). Os estados do Ceará e Pernambuco foram apontados como sendo os mais afetados.
“É necessário promover o uso ordenado da terra, respeitando sua capacidade de suporte e a vulnerabilidade de cada ecossistema. Toda a região do Semiárido brasileiro integra as áreas consideradas suscetíveis ao processo histórico de desertificação; causado sobretudo pela forma como decidimos sobre o uso e a cobertura da terra, ao longo do tempo. A desertificação ocorre em razão da crescente deterioração dos recursos naturais, em ecossistemas de terras secas, que culmina na degradação grave ou muito grave dos solos”, explicou o meteorologista Humberto Barbosa.
Nos núcleos de desertificação onde os solos já estão deteriorados de forma grave ou muito grave, são identificadas, por vezes, atividades de mineração, pecuária extensiva, desmatamento, queimadas, ocupação desordenada do solo, extração de lenha e argila, uso intensivo da terra, sobrepastoreio e salinização do solo devido à irrigação. De acordo com estudo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, a agricultura é responsável por cerca de 80% do consumo da água do rio São Francisco.
Segundo dados de 2022 da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), cerca de 30% das áreas irrigadas, em projetos públicos no Nordeste, já passam por problemas de salinização. Nas regiões do Médio e Alto São Francisco, pesquisadores também apontam uma expansão das áreas afetadas por secas, nos meses de junho a agosto. “Houve tendência de aumento das secas extremas de longo prazo, em termos de severidade e duração, na bacia do rio São Francisco. Um acentuado esgotamento dos níveis de água subterrânea foi observado, na bacia hidrográfica, simultâneo ao aumento da umidade do solo, durante as secas mais severas do período. O dado indica uma intensificação da captação de água subterrânea para irrigação agrícola, às margens do rio São Francisco. Essa atividade tem aumentado o processo de degradação dos solos na bacia hidrográfica”, destacou Barbosa lembrando que com o aumento dos eventos climáticos extremos, a exemplo das temperaturas e de uma maior frequência de secas, a tendência é de maior degradação das terras, em torno do rio São Francisco.
Outro fator que contribui com o processo de desertificação é o assoreamento na bacia do rio São Francisco. O desmatamento da Caatinga deixa o solo desprotegido e mais vulnerável. “Os períodos secos são relativamente comuns no rio São Francisco. Apesar disso, há uma crescente preocupação sobre sua capacidade de responder aos eventos extremos de seca. Isso em razão da tendência de essas secas se tornarem mais frequentes e extremas, devido aos efeitos das mudanças climáticas, aumentando o processo de degradação das terras”, explicou.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Juciana Cavalcante