Dirceu Colares é o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Verde Grande, que nasce em Minas Gerais e deságua no Rio São Francisco no estado da Bahia. Representante dos usuários de água na bacia do Verde Grande ingressou no Comitê quando o Plano da Bacia estava sendo construído. Produtor de frutas sabe a importância da água para a sobrevivência humana. Seu objetivo primário ao ingressar no CBH foi auxiliar na melhoria da eficiência do uso da água em uma região do semiárido que sofre com a escassez hídrica.
Quais são os principais desafios para a gestão dos recursos hídricos na bacia do Rio Verde Grande?
Acredito que o trabalho mais difícil nos CBH Verde Grande é compactuar os usos múltiplos da águas. O Verde Grande percorre 557 quilômetros de extensão e sua bacia possui 35 municípios, sendo 27 em Minas Gerais e oito na Bahia. É um diversidade que exige muitos cuidados com as águas.
Como podemos descrever a situação atual do Rio Verde Grande?
O Rio Verde Grande já foi um dos maiores afluentes do Rio São Francisco no Norte e Minas Gerais. No entanto, tem um 10 anos que deixou de ser um rio perene. O leito do Verde Grande chegou a ficar tão seco que foi transformado em estrada para a passagem de motos.
A escassez hídrica que vivemos nos últimos sete anos prejudicou muito o Verde Grande, mas não foi só isso. A bacia enfrenta problemas como conflitos pelo uso da água, assoreamento, poluição, uso predatório causando a escassez de água, principalmente para irrigação.
Um dados que traz tristeza é que o mais de 1/3 da população da bacia do Verde Grande reside em Montes Claros, cidade que chegou a enfrentar o rodízio de água no ano passado.
O que a bacia do CBH Verde Grande precisa para avançar na revitalização?
A preservação do rio não depende de uma única pessoa e sim de um trabalho conjunto. Precisamos conscientizar as pessoas da importância da recuperação de um rio. A água é vida. Ainda há tempo de recuperar, se todos nós trabalharmos juntos.
A cobrança pelo uso da água foi implementada na bacia e os recursos começaram a ser repassados ao CBH Verde Grande em 2017. O que mudou na bacia após a implementação da cobrança?
Inicialmente estruturamos o CBH Verde Grande para o Comitê começar de fato a funcionar. Montamos um escritório na cidade de Montes Claros, contratamos uma secretaria para nos auxiliar com a documentação e agora a intenção e iniciar os projetos de revitalização e preservação.
Nesse sentido, convidamos o CBHSF para ser nosso parceiro no primeiro grande projeto do CBH Verde Grande, que é um programa de produção de água.
Quais serão os benefícios para as duas bacias?
O programa Produtor de Água vai incentivar os produtores rurais a investir em ações que ajudem a preservar a água. Vamos utilizar o Pagamento por Serviços Ambientais, que estimula os produtores a investirem no cuidado do trato com as águas, recebendo apoio técnico e financeiro para implementação de práticas conservacionistas que melhoram o meio ambiente. Além do ganho econômico da sua produção, o produtor também melhora a quantidade e a qualidade da água da região, beneficiando a todos.
Convidamos também outros parceiros que fazem parte do CBH Verde Grande como por exemplo a Copasa, a Epamig, a Fiemg. A nossa intenção é ver o que cada instituição pode colaborar para que o programa seja o mais bem sucedido possível.
A parceria entre o CBH Verde Grande e o CBHSF será uma celebração de uma grande amizade entre a água e o produtor rural. Por meio dessa parceria, vamos capacitar o produtor a fazer a infiltração de água no terreno, de modo que ela que passe mais lentamente pelo semiárido, podendo ser utilizada de maneira sustentável.
Este será o primeiro projeto de muitos que trarão benefícios não só para a bacia do Verde Grande como também para a do São Francisco.
O CBH Verde Grande também acompanha o Programa Projeto das Águas do Norte de Minas. Fale um pouco sobre este projeto.
Apesar de não ser um programa do CBH Verde Grande, é um importante projeto para a bacia e estamos o acompanhando em parceria com a ANA (Agência Nacional de Águas) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Como a bacia se encontra no semiárido, com baixas precipitações pluviométricas e mananciais superficiais escassos, a água subterrânea tem se revelado um importante recurso hídrico alternativo às captações superficiais, sendo, muitas vezes, a única fonte de abastecimento.
Por isso, o CPRM está realizando uma avaliação da disponibilidade dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Diante do quadro atual de uso e ocupação territorial, o conhecimento da quantidade de água que pode ser ofertada, de modo sustentável, para o atendimento das diferentes demandas é fundamental para minimizar os conflitos pelo uso da água e para garantir as vazões mínimas necessárias à manutenção dos ecossistemas aquáticos.
Um sonho para o futuro das águas do Verde Grande?
Sonho com o dia que o Verde Grande voltará a ser perene e que contribuirá ainda mais para a bacia do Velho Chico. Essa é a nossa luta!
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Entrevista: Luiza Baggio