Após conquistar um novo campus que se desenha através da parceria com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, os estudantes das licenciaturas disponíveis ainda nas dependências do Campus VIII da Universidade do Estado da Bahia em Paulo Afonso (BA) e novos universitários do Departamento de Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Camponesas – OPARÁ/Campus Intercultural UNEB – Jeremoabo(BA), ocuparam as instalações que em breve servirão à nova estrutura acadêmica.
A ação, realizada neste sábado (21), começou com apresentações culturais na Praça do Forró, no centro de Jeremoabo, onde se reuniram povos indígenas de diversas etnias, comunidades quilombolas e tradicionais. A professora e coordenadora-geral do Centro de Pesquisas em Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação, órgão até então suplementar da Universidade do Estado da Bahia, Floriza Maria Sena Fernandes, explica que a ação inicial consistiu na ocupação do espaço doado pela prefeitura de Jeremoabo. “Eu me emocionei muito nesse momento por ver os povos fazendo esse processo de ocupação que se trata do primeiro passo, uma vez que o Centro Territorial de Educação Profissional do Semiárido do Nordeste II (CETEP) desocupou a escola e nós não podemos abandonar o prédio, então é o momento de dizer que o território Nordeste II São Francisco/Itaparica agora tem uma universidade dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. Esse é o primeiro momento e já iniciaremos, no final de outubro, com as aulas dos povos quilombolas e indígenas em um projeto que conseguimos com o Governo Federal, através do Ministério da Educação e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), para a qualificação dos professores, e vamos começar já com as primeiras licenciaturas. As demais licenciaturas continuarão no campus VIII que aguarda a reforma que o Comitê da Bacia do São Francisco vai fazer e que o coordenador Cláudio Ademar é protagonista dessa luta”.
Para Maria Sônia de Jesus, da comunidade quilombola Bananeirinha, a ação já é resultado de um sonho que vem gerando resultados. “Eu e meu esposo desenvolvemos um projeto de capoeira para crianças e jovens desde 2018. Nossa intenção é que eles cresçam e aprendam algo melhor e até já temos alunos que se formaram no Opará, agora com um campus específico, que é uma benção para a região. Eu mesma não tenho formação superior, mas sonho em fazer ainda, e essa é oportunidade”.
As atividades de ocupação do território aconteceram durante todo o dia e na parte da tarde foi realizado, durante uma aula magna, o lançamento público dos cursos de licenciatura em pedagogia quilombola, licenciatura intercultural de educação escolar indígena e pedagogia intercultural em educação escolar indígena. Para Jailton dos Santos Mendes, estudante do segundo semestre da licenciatura de pedagogia intercultural, o momento é de celebração. “Estou no segundo semestre e estudo em Paulo Afonso e agora estamos mudando para cá. É uma grande conquista porque finalmente temos um campus só nosso, diferenciado com diversas culturas juntas e uma ajudando a outra em prol do desenvolvimento, respeitando os costumes tradições e crenças”, concluiu.
A ocupação aconteceu após a finalização das atividades do CETEP, que hoje funciona em novas instalações no município de Jeremoabo. A estrutura doada pela prefeitura deverá passar por reforma e construção de novos módulos através do investimento do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco que vai financiar as obras.
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O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, que esteve acompanhado do secretário em exercício da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas, Uilton Tuxá, relembrou as etapas para a efetiva realização das obras previstas para início em 2025. “O Comitê junto com a UNEB ainda está nas tratativas, na parte de engenharia do projeto elaborado pela universidade e apresentado ao Comitê que está avaliando esse arcabouço que tem mais de 3 mil itens a serem analisados, incluindo hidráulica, elétrica, estrutura e a parte econômica. As obras devem acontecer a partir de 2025 paralelamente às aulas. Vale dizer que esse é um dia festividade para esses povos tão excluídos, que considero os excluídos dos excluídos. São aquelas mães que às vezes tem dificuldade de sair da sua propriedade rural, deixar os seus afazeres e hoje com esse campus, uma iniciativa pioneira na Bahia, todos terão a oportunidade de estudar e, consequentemente, vamos buscar a contrapartida que é a defesa do meio ambiente, porque nós entendemos que a bacia do São Francisco não é apenas água: ela é água, meio ambiente e suas comunidades, e ninguém melhor do que as comunidades tradicionais para fazer essa defesa porque eles já fazem isso a vida toda e com uma formação vão fazer cada vez melhor”.
Membro da Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais e também futuro universitário, Wilson Simonal lembra que o momento vivido pelas comunidades é resultado de muitas discussões no âmbito das instâncias do CBHSF. “Esse é um momento importante para as comunidades, e particularmente me sinto feliz por também ingressar na licenciatura em pedagogia quilombola. A gente se sente agraciado com esse momento tão sonhado de superar as dificuldades em ingressar em uma faculdade. Como membro da CTCT, lembro que levamos o tempo todo essa discussão para a CCR e CTCT. Ela foi aprovada pela diretoria e em plenária e hoje estamos começando a tornar o sonho em realidade”, concluiu.
Assessoria de Comunicação do CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Juciana Cavalcante
*Fotos: Juciana Cavalcante