Nas últimas semanas a superfície da bacia hidrográfica do Rio São Francisco na região do Alto São Francisco tem sido tomada por moluscos mortos que geralmente vivem em colônias no fundo do rio. Os primeiros registros aconteceram nas cidades de Matias Cardoso e Manga, em Minas Gerais, mas outras localidades também já foram afetadas, como é o caso de Ibiaí, Januária, Itacarambi (MG), além de Malhada e Carinhanha (BA).
Moradores destas cidades afirmam que o fenômeno acontece há pelo menos cinco anos, porém em menor proporção. Diferente do que aconteceu nos últimos anos, onde a ocorrência foi pouca, este ano se formou um verdadeiro tapete de moluscos mortos em algumas destas localidades. Como efeito, o mau cheiro, a impossibilidade até mesmo de consumo humano das águas em algumas comunidades rurais, e da pesca, já que alguns peixes se alimentam desta espécie e tornam-se impróprios para o consumo. O Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP Nacional), pastoral social ligada à Comissão Episcopal Pastoral está acompanhando as regiões afetadas e, de acordo com a educadora social da CPP, Laís Cristina Rodrigues, a mortandade de moluscos em grande quantidade está assustando e preocupando os pescadores e pescadoras. “Além do rio também estar com mau cheiro, desde o dia 13 de outubro soubemos que os moluscos desceram passando por Ibiaí. Há relatos de peixes mortos em Itacarambi. Alguns peixes estão com os moluscos no estômago. Segundo os pescadores esse é um alimento para a espécie curimatá. Até o momento nenhum órgão ou entidade se manifestou sobre o assunto”, explicou.
Sem respostas para o problema que tem impactos nas cidades, a CPP promoveu no dia 03 uma reunião virtual com pesquisadores para tentar entender o que pode estar provocando a mortandade dos moluscos. De acordo com a bióloga, especialista em etnoecologia Ana Thé, o intuito é abrir espaço para dialogar sobre as possibilidades do que estaria causando o fenômeno. “A poluição é a maior possibilidade mesmo, mas temos que nos aprofundar sobre o assunto e ver que encaminhamentos tomar”.
Enquanto isso, em Januária-MG os moradores clamam por socorro. “A gente pede o apoio dos órgãos em defesa do Velho Chico para fazer com que o poder público olhe para o rio com mais carinho, mais amor, porque a gente sabe que o Rio São Francisco está morrendo. E até então, nada foi feito”, relatou Maria das Dores Pereira da Silva, pescadora e presidenta da comunidade quilombola, pesqueira e vazanteira de Croatá, município de Januária.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, através da Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco, também vem acompanhando e buscando junto aos órgãos competentes mais informações. “Estamos em busca de informações com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e com a Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais para acompanhar o que está acontecendo nessa região”, concluiu o Secretário da CCR, Adson Ribeiro.
Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Juciana Cavalcante